Arquidiocese de Braga avança com processo canónico contra padre abusador que agora é TVDE

Condenado por abuso de menores
Foto: DR

A Arquidiocese de Braga da Igreja Católica vai prosseguir com o processo penal canónico aberto ao Padre Albino Meireles condenado, quarta-feira, pelo Tribunal de Matosinhos, a dois anos e dez meses de prisão por 13 crimes de exibição de órgãos sexuais a três menores, numa praia da Póvoa de Varzim.

O sacerdote Paulo Terroso, do departamento de comunicação da Arquidiocese lembrou a O MINHO que o caso “foi comunicado ao Dicastério para a Doutrina da Fé, autoridade competente da Igreja para estes assuntos”, em conformidade com a Santa Sé: “Foi determinado que o processo penal canónico só deve ter início após o trânsito em julgado da decisão, para permitir que a sentença judicial possa servir como elemento probatório relevante na instrução canónica”.

O responsável sublinhou, ainda, que o padre “mantém-se preventivamente afastado do exercício público do ministério sacerdotal, medida que continuará até que o processo canónico, decorra e seja concluído”.

“Perante a decisão do Tribunal de Matosinhos, que condenou o padre Albino Meireles por 13 crimes de exibição de órgãos sexuais a menores”, a Arquidiocese de Braga reafirma a sua posição já anteriormente expressa: “Este caso foi devidamente comunicado ao Dicastério para a Doutrina da Fé, autoridade competente da Igreja para estes assuntos, em conformidade com o Vade-mécum da Santa Sé (2.ª edição, 2022), especialmente os números 14 a 18”.

Garantir solidez das provas

E diz, ainda: “Importa reforçar que esta diretriz não traduz qualquer forma de inércia ou desconsideração pelas vítimas, mas responde à necessidade de garantir a devida solidez e responsabilidade na recolha de provas, como aliás previsto pelo próprio Dicastério.”

A Arquidiocese salienta que, neste momento, o padre Albino Meireles mantém-se preventivamente afastado do exercício público do ministério sacerdotal, medida que continuará em vigor até que o processo canónico, a iniciar nos termos acima indicados, decorra e seja concluído.

E, a concluir, acentua: “A Arquidiocese atua com diligência, fidelidade e obediência às normas da Santa Sé, colocando sempre a justiça, a verdade e a atenção às vítimas no centro da sua ação. Reafirmamos também total disponibilidade para colaborar com as autoridades civis, como tem acontecido até aqui, com transparência e responsabilidade”.

Mãe e avó viram o exibicionismo

Recorde-se que, o arguido ficou, ainda, obrigado a pagar três 1.000, 1.500 e 500 euros às três vítimas, a título de indemnização.

O acórdão judicial refere que foi a mãe – juíza de uma irmandade cristã em Guimarães – e a avó dos menores, dois rapazes de 10 e quatro anos e uma menina de 21 meses, – que não conheciam o arguido – quem observou o padre a manipular o pénis diante das crianças e olhando fixamente para elas. O que sucedeu por seis vezes.

Em julho de 2015, o arguido ia de tarde para a praia da Póvoa de Varzim, para uma barraca de uma amiga que ali veraneava com uma empregada.

O padre estava acusado de 18 crimes de abuso sexual e um de pornografia de menores. Neste caso, por ter recebido fotos de um jovem de Terras de Bouro, com o pénis à mostra. Mas o Tribunal concluiu não haver provas de que foi ele que pediu o envio e que as tenha reenviado.

Em julgamento, negou os factos mas admitiu deslocar-se à praia e ali permanecer apanhando sol em frente à barraca, perto da das crianças, quando ia visitar uma amiga.

Seminarista aos 24 anos

A sentença anota que o arguido não tem antecedentes criminais. E que, à data dos factos residia sozinho, em Terras do Bouro, em residência paroquial, situada em meio rural.

Atualmente, reside sozinho, na localidade de Covas, no concelho de Lousada, em habitação propriedade dos progenitores, já falecidos, situada em meio rural.

Oriundo de um agregado numeroso, de condição modesta e descrito como funcional, Albino Meireles, licenciado em Teologia, entrou no seminário aos 24 anos de idade, sendo ordenado padre em 2007.

Cumpriu as suas funções eclesiásticas em Terras do Bouro até 2018, e, posteriormente, em Guimarães até à sua suspensão, em 2023, – pelo anterior arcebispo D. Jorge Ortiga – pela instauração dos presentes autos

“Do seu percurso vivencial constam alguns relacionamentos curtos, na fase da adolescência, sem contactos íntimos, uma vez que, segundo o arguido, desde muito jovem que sentiu inclinação para o sacerdócio e atividades eclesiásticas”, sublinham os juízes.

Ganha 1.200 euros a guiar um Uber

Quando paroquiava, como sucedeu em Chorense, Terras de Bouro e em Calvos e Serzedo, em Guimarães, o padre ganhava 1.700 euros por mês.

Agora é motorista de TVDE (vulgo Uber) e ganha 1.200 euros.

No meio social onde reside – lê-se, ainda, no acórdão – “o presente processo é conhecido, todavia, o arguido beneficia de uma imagem associada ao ajustamento no relacionamento interpessoal”.

 
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