A reconstrução da igreja de Lavradas, em Ponte da Barca, obriga a um plano de acompanhamento arqueológico, pedido pela Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) e divulgado num boletim paroquial a que a Lusa teve hoje acesso.
De acordo com aquele boletim paroquial, que está datado de domingo, o parecer da DRCN consta de um ofício da Câmara de Ponte da Barca, datado de 10 de janeiro e enviado à Fábrica da Igreja de São Miguel de Lavradas, sobre o processo de licenciamento do projeto de reconstrução daquela igreja no distrito de Viana do Castelo, que deu entrada naquela autarquia em abril de 2019.
A igreja de Lavradas, do século XVII, foi totalmente consumida por um incêndio, causado por um curto-circuito, no dia 18 de dezembro de 2017. No Plano Diretor Municipal (PDM) de Ponte da Barca está inserida numa zona classificada como Área de Património Inventariado Arqueológico.
No parecer “emitido a título consultivo”, de julho de 2019, a DRCN justifica a elaboração de um plano de acompanhamento arqueológico para a obra com a “forte possibilidade de existência de vestígios arqueológicos” naquela zona.
Já a Junta de Freguesia de Lavradas, no parecer que emitiu em julho do ano passado, considera que a Fábrica da Igreja “não tem legitimidade para executar melhorias na via pública”, considerando que o projeto “extravasa a propriedade” da paróquia.
Contactado hoje pela agência Lusa, o arquiteto responsável pelo projeto, Rafael Freitas, explicou “estar a ser ultimada a resposta aos dois pareceres, de forma a serem ultrapassadas aquelas questões técnicas”.
Rafael Freitas adiantou que “vai ser formalizado, junto da DRCN, o respetivo pedido de autorização para trabalhos arqueológicos”. Já “os arranjos exteriores da obra vão ser revistos para ir ao encontro do parecer da Junta de Freguesia de Lavradas”.
Orçada em 600 mil euros, o projeto a aguardar licenciamento é um dos três apresentados numa sessão pública realizada na aldeia, em junho 2018, e que acabou escolhido “por maioria”.
“O projeto escolhido é mais caro e prevê uma ampliação para quase o dobro do templo que existia, mas que prevê a reconstrução, na íntegra, do que sobrou do incêndio”, frisou o arquiteto.
Após o incêndio que apenas deixou de pé as paredes do templo, foi iniciada uma campanha de angariação de fundos que conseguiu juntar “cerca de 400 mil euros”.
O projeto, que posteriormente mereceu o aval da Diocese de Viana do Castelo, originou a “discórdia” por prever a demolição da residência paroquial. O edifício chegou mesmo a ser vandalizado com a pintura de várias frases como “Não à demolição” e “o povo vai à luta”, reclamando a realização de um referendo sobre o assunto.
Rafael Freitas explicou que “a casa paroquial, que se encontra devoluta não é, há muito, habitada pelo padre, nem tem condições para acolher as crianças que frequentam a catequese”.
“Com a reconstrução a catequese passará a ocupar a cave da igreja”, especificou.
Com a destruição do templo, as missas passaram a ser celebradas na sede da Junta de Freguesia e da Associação Lavradas.
Em junho de 2018, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, visitou a igreja para “cumprir uma promessa” feita após o incêndio, de apoiar a reconstrução do templo e visitar aquele concelho do distrito de Viana do Castelo.