ARTIGO DE OPINIÃO
Joaquim Barbosa
Jurista e Gestor.
São tão chatos os primeiros dias de Setembro!
Os primeiros dias de Setembro estão exatamente como as tardes de domingo ou as segundas feiras. Têm exatamente a mesma sensação de melancolia e monotonia, de fim de festa, até o sol já não é mais o mesmo.
Já o mês de Junho em diante, é o oposto! Tem a mesma sensação de sexta feira à tarde.
Face ao calor, perspetivas de férias, as saídas com os amigos e a vida mais solta e livre que o tempo nos dá, o sexto mês do ano começa a inundar-nos daquela mesma sensação entusiástica de sexta feira à tarde, aquela boa e confortável satisfação interior perante a perspetiva do fim de semana.
Um dos grandes defeitos de Portugal, a par de imensas virtudes, é o tempo: isto de estar num país onde nem o verão de apenas três meses é ausente de chuva, ainda por cima com chuva arreliadora nos fins de semana, não é para mim. A única consolação de chuva no verão – e não é pouca- é ajudar a acabar com os incêndios.
Neste aspeto acho que Deus, face à caraterísticas dos portugueses – gente intrinsecamente boa, amiga e bem comportada – poderia nos ter recompensado com mais um pouco de bom tempo, embora com a vantagem de sermos, apesar disso, dos países com clima mais ameno da Europa.
Deve ter sido uma penitência face a outras péssimas caraterísticas de alguns portugueses que ainda têm posturas sem ambição, invejosas e mesquinhas face aos outros. Eu e mais meia dúzia é que não temos culpa nenhuma disso!
O Mediterrâneo poderia ter feito um desvio e atravessar também Portugal. Porque é que os povos do sul de Espanha, França, Itália e Grécia podem ter água quentinha, calorzinho do bom durante muitos meses do ano e nós não ?
Até porque nas nossas praias de mar aberto, na maior parte das vezes, é um sacrifício meter na água pouco mais do que a pontinha do dedo maior do pé direito. É uma injustiça!
Já sei que alguns leitores estão a pensar que isto não é assim em todo o país, também temos o Alentejo e o Algarve, e até têm razão, mas refiro-me aqui à parte de Portugal de onde Afonso Henriques saiu para conquistar o resto do país aos mouros.
Durante uns anos da minha vida – maravilhosos anos, que recordo com imensa saudade – trabalhei na amazónia brasileira e no sul do Brasil. Aí é que era bom, que rica vida eu tive! O inverno de Portugal passava-o além-mar, em clima tropical e no inverno de lá, que é o nosso verão aqui, passava em Portugal.
Assim durante anos não soube o que era inverno! É algo de indiscritível para a sensação de bem estar. O pior foi quando regressei de vez ao nosso amado país e enfrentei os primeiros invernos após a chegada. Que sacrifício! Deve ter sido para não ficar de fora daquela penitência que Deus dá aos portugueses.
Aliás, enquanto que para os portugueses, o convívio anda quase sempre à volta da comida, já em Santa Catarina – um estado cuja índice de qualidade de vida se percebe que o PT nunca lá pôs os pés – o foco do convívio é passear, dançar, fazer exercício, diversas atividades conjuntas onde a comida tem sempre um aspeto residual, tirando os encontros para o churrasco cuja carne do sul é uma maravilha.
Enfim, diferenças que o calorzinho proporciona num país para quem o nosso junho em diante não acaba em setembro, mas parece que se prorroga quase atá ao próximo junho do ano seguinte.
O pior é que a partir de agora, os meus amigos e amigas do outro lado do Atlântico inundam as redes sociais de praias, mar, sol, calo, festas, calções e bikinis durantes meses a fio e eu, quando olho para a janela, também durante meses a fio, só vejo chuva, nuvens, dias curtos e frio.
Bom, temos é que nos adaptar, já que Deus quis assim e a vida tem de continuar; vamos mas é abraçar este Setembro celebrizado pela magnifica música de Gilbert Becaud e abraçar também cada dia da nossa vida!