Durante as campanhas das eleições presidenciais no Brasil, que teve a sua segunda volta no último domingo com vitória de Lula da Silva, alguns eleitores de Jair Bolsonaro repetiam que, no caso de o atual presidente perder, iriam deixar o país. E Portugal era um dos destinos mais falados. No entanto, apoiantes do vencedor na disputa falam em contradições.
Durante as últimas semanas, as buscas no Google sobre informações de como morar em Portugal, ou como obter algum tipo de visto aumentaram. E como a região do Minho, Braga em especial, recebeu muitos brasileiros nos últimos anos, acaba por ser um possível destino.
Na sequência desta movimentação, apoiantes de Lula da Silva e opositores de Jair Bolsonaro indicam que tal mudança não faz sentido. Não apenas pelo facto de Portugal ser governado pelo Partido Socialista, ou seja, com ideologia contrária à do presidente do Brasil, mas porque Portugal tem avançadas e aprovadas algumas pautas criticadas pela extrema-direita brasileira, nomeadamente aborto, política em relação às drogas, eutanásia e programas sociais.
“É tão contraditória esta fala, pois muitos eleitores do Bolsonaro vieram para Portugal justamente quando ele foi eleito, ou seja, não usufruiriam do seu governo”, disse a contabilista Ticiana Fernandes, de 40 anos, a O MINHO.
A cearense de Fortaleza, que vive há um ano em Braga, diz que estas declarações são apenas “palavras ao vento”: “muitos destes beneficiaram-se na era Lula e a maioria da fala desses vem movida por preconceito por Lula ser um nordestino, sindicalista, que veio de baixo. O povo brasileiro precisa enxergar-se como trabalhador, é um elitismo sem o menor sentido, que criminaliza a esquerda sem o menor fundamento e sem conhecimento histórico”.
Nas redes sociais, as ditas contradições pelas buscas por Portugal foram evidenciadas por utilizadores do Twitter e influenciadores no Instagram, por exemplo.
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Se bolsonaro perder vou mudar do Brasil.
Eu: se vai pra onde
– Nova Zelândia
Eu: mas lá o governo é esquerda
-Portugal
Eu: lá tbm é esquerda, muito esquerda
-Canadá
Eu: Cidadão?!!— Rômulo Crispim ♿🇧🇷 (@RomuloCrispim) October 30, 2022
Para a contabilista, eleitora de Lula da Silva, já existem pessoas a viver em Portugal com este pensamento e que colocam em prática estas contradições. Recorde-se que Bolsonaro venceu em 2018 nos três locais de votação no país, mas desta vez perdeu nos três e ficou com cerca de 34,2% dos votos no Porto, onde votam os residentes do Norte.
“Conheço infelizmente muitos brasileiros que criticavam o bolsa família no Brasil, dizendo que era um auxílio para os pobres que só deixava-os preguiçosos, mas estão cá em Portugal a receber abono/auxilio do governo Português, mesmo possuindo condições financeiras. É o lema: “pobre fica preguiçoso, já nós, da classe média, podemos receber”. Infelizmente muitos brasileiros não sabem da importância das políticas públicas e não cobram os candidatos que eles elegem como deputados, governadores e senadores. Tratam a política como partida de futebol”, apontou.
Brasileiros residentes em Braga com expetativas diferentes após a eleição de Lula da Silva
Na verdade, justamente nos anos de Bolsonaro no poder a imigração de brasileiros para Portugal cresceu. Quando o presidente assumiu, em 2018, o número era de 105 mil, e agora já são quase 212 mil, segundo números do SEF.
Para a cearense, a vitória de Lula representa a volta da democracia e da esperança para a maioria do povo brasileiro.
“Lula é um político com grande capacidade de diálogo e temos uma questão de interesse mundial que é a questão climática. No passado, nos governos petistas o combate à fome e as políticas sociais implantadas foram prioridades e neste momento delicado precisamos que seja retomada essas pautas com prioridade”, concluiu.
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Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito Presidente do Brasil com 50,90% dos votos e derrotou Jair Bolsonaro (extrema-direita), que obteve 49,10%. Com 77 anos, Lula da Silva vai ser o 39.º Presidente do Brasil, depois de já ter cumprido dois mandatos como chefe de Estado, entre 2003 e 2011. É a primeira vez na história democrática recente do Brasil que um recandidato regressa ao Palácio da Alvorada depois de uma vitória na segunda volta.