Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia
Licenciado em História, Mestre em Património e Turismo Cultural pela UMinho – Investigador em Património Industrial
O nosso País deve muito a uma das mais brilhantes mentes do século XIX – Gustave Eiffel.
O seu arrojo permitiu que o velho Portugal de Oitocentos entrasse num paradigma que se arraigava um pouco por todo o mundo – os Caminhos de Ferro. A ferrovia, sobremaneira importante, instalava-se paulatinamente num País deveras atrasado, economicamente enfraquecido, profundamente sedento de progresso. Porém, para que isso fosse possível, que fosse possível regenerar Portugal, tornava-se premente não apenas as políticas de um Governo Regenerador, mas também, os meios e as soluções para vencer as dificuldades impostas por um relevo díspar, tantas vezes severo e difícil, como é o nosso território continental.
No Minho, em particular, a Casa Eiffel & Cia construiu algumas das mais importantes travessias ferroviárias e rodoferroviárias da região, como a Ponte sobre o rio Cávado, em Barcelos, a Ponte sobre o rio Neiva, no concelho de Barcelos e Viana do Castelo, a Ponte sobre o rio Lima, entre Darque e Viana do Castelo e, por fim, a travessia sobre o rio Âncora, em Caminha.
Em todo o caso, entre essas quatro Obras de Arte, apenas existem duas: a travessia rodoferroviária, sobre o rio Lima, em Viana do Castelo, e a Ponte ferroviária sobre o rio Âncora que, todavia, não se encontra no seu local primitivo, mas sim, está ao abandono numa freguesia do concelho de Póvoa de Lanhoso (Covelas) – esperando que a vontade dos homens a reabilitem, atribuindo-lhe a dignidade que merece.
Todas, sem exceção, integravam a Linha do Minho, a única que, desde o último quartel de Oitocentos até ao presente, serve o Noroeste de Portugal. Gustave Eiffel nasceu em Dijon, na França, a 15 de dezembro de 1832, e finou-se a 27 de dezembro de 1923, em Paris, aos 91 anos. Este ano celebra-se o 1.º Centenário da morte de uma das figuras mais relevantes da história da engenharia, cuja obra se espalha um pouco pelo mundo, desde Portugal (o segundo melhor cliente da Casa Eiffel & Cia, logo a seguir à França), passando pelo Chile, Brasil, Estados Unidos da América, bem como muitos outros pontos do globo.
Não obstante, uma das características que melhor colaborou no sucesso da Casa Eiffel & Cia foi o facto de a empresa criar estruturas pré-fabricadas, que depois eram montadas em estaleiro. Toda a parafernália de peças que constituíam as obras de Eiffel, grosso modo, seguiam por ferrovia até aos seus destinos, salvo raras exceções, como o Viaduto de Garabit – na França.
A construção do Viaduto de Garabit obrigou ao emprego de equídeos para transportar os materiais para o estaleiro, situado na garganta do rio Truyère, um local verdadeiramente agreste e inóspito naquela época. O Viaduto de Garabit, verdadeiro colosso da engenharia de Oitocentos, foi desenhado a partir da sombra do projeto da Ponte Maria Pia, na cidade do Porto, também ela uma obra sobremaneira excecional, atendendo às inúmeras dificuldades construtivas, como a garganta do rio Douro, vencida arrojadamente – através de um arco inovador / parabólico – novidade para a época – desenhado pela mão de um dos mais criativos engenheiros da Casa Eiffel & Cia e que, na realidade, não era um simples colaborador, mas aquele que entrou com o dinheiro para que Eiffel constituísse a sua empresa, tornando-se seu sócio, mas que, todavia, vivia na penumbra do Mágico do Ferro: Teophile Seyrig.
Alexandre Gustave Eiffel, de ascendência germânica, formou-se na Ecole Centrale des Arts et Manufactures de Paris, em engenharia química. Todavia, por influência de um cunhado, cedo se dedicou à metalurgia, aplicando toda a sua argúcia e criatividade no material que melhor sabia dominar: o ferro. No início da sua carreira, pequenos trabalhos que realizou, conduziram-no até à Companhia dos Caminhos de Ferro do Oeste, acabando por construir a sua primeira Ponte, em Saint-Germain – França. O tempo não foi impiedoso e, em curto espaço, foi-lhe confiada uma das suas primeiras grandes realizações: a Ponte de Bordéus.
A partir desse momento Eiffel ganha a notoriedade necessária para se projetar por conta própria, criando a sua empresa em 1866. Porém, a envergadura de projetos que foi assumindo obrigaram-no a estabelecer parcerias, dando azo à entrada de Teophile Seyrig – conceituado engenheiro – detentor de boa saúde financeira, entrando com avultados capitais.
A sociedade que constituíram começou a dar frutos a partir do momento em que lhes foi confiada a construção da Ponte Maria Pia. Além do conjunto de obras elencadas que a Casa Eiffel & Cia construiu em Portugal, contam-se mais de duas dezenas em diversas linhas dos Caminhos de Ferro. No estrangeiro sobressaem a Estátua da Liberdade (oferecida pela França aos Estados Unidos da América).
O seu maior ex-líbris: a Torre Eiffel de Paris, inaugurada em 1889, para a Exposição Universal.
Não obstante, Eiffel construiu muito mais para além de pontes e viadutos, do seu cunho saíram Gares de Caminhos de Ferro, as Eclusas do Canal do Panamá (motivo da sua decadência) e que, na verdade, seriam terminadas pelos americanos. Em Portugal, Eiffel viveu em Barcelinhos (1875-1877), próximo da Igreja Paroquial, num momento em que acompanhava a construção da Ponte Maria Pia e todo o conjunto de infraestruturas que deram vida à Linha do Minho.
No final da sua vida o Mágico do Ferro dedicou-se aos estudos da aerodinâmica (que muito contribuíram para desenvolver a aviação), bem como à meteorologia (a partir de um dos observatórios mais excêntricos do mundo: a sua Torre de 300m).
A terminar, e porque nos encontramos num meio de comunicação, refira-se que foi a partir da Torre Eiffel que se começaram a desenvolver as primeira comunicações via rádio e que, no decurso da II Grande Guerra Mundial, a Torre Eiffel ofereceu um conjunto alargado de vantagens, não apenas como posto de vigia, mas sobretudo difundindo as frequências necessárias para as comunicações. Talvez por isso se tenha mantido de pé até a atualidade, apesar de, à nascença, ser detentora de uma certidão de óbito que, felizmente, nunca chegou a conhecer. As Obras do Mestre ficam para a eternidade, ficam para todo o sempre nas nossas retinas, tal como a gratidão que de nós emana por tudo que nos legou – através da sua fantástica criatividade e arrojo. Bem-haja!
Que os Deuses lhe falem pela alma, lá em cima, a mais de 300m.