O resultado das eleições para a liderança do Grande Oriente Lusitano (GOL), realizadas no dia 30 de outubro, ditou a necessidade de uma segunda volta, que vai ser disputada por um advogado de Guimarães, Carlos Vasconcelos, 43 anos, atualmente grão-mestre adjunto. Os maçons da maia antiga obediência em Portugal voltam a ir a votos no dia 20.
Os resultados, homologados na passada quinta-feira colocaram Fernando Cabecinha na frente com 565 votos, Carlos Vasconcelos em segundo com 536 votos e Luís Parreirão em último com 259 votos. Os dois primeiros passam à segunda volta, o ex-secretário de Estado da Administração Interna e das Obras Públicas, dos governos de António Guterres fica pelo caminho.
Luís Parreirão, o candidato já afastado da corrida defendia abertamente que os membros se deviam assumir publicamente, uma das questões que se tem colocado, depois de aprovada a lei que obriga os titulares de cargos públicos a assumirem caso sejam membros da maçonaria. “Sempre entendi que o maçom se deve assumir enquanto tal e sempre o fiz, incluindo quando, circunstancialmente, desempenhei funções públicas. Entendo mesmo, que quantos mais de entre nós o fizermos, mais prestigiada sairá a Maçonaria e maior respeitabilidade lhe será dada”, escreveu, Luís Parreirão num artigo no Observador.
A frontalidade nesta questão talvez lhe tenha custado alguns votos. A cultura no interior do GOL é de um enorme conservadorismo e questões como o direito de cada maçon se identificar ou não como tal ou a admissão de mulheres são arreias movediças para qualquer candidato. Apesar de estes temas já não reunirem a unanimidade de outros tempos, a verdade é que há ainda um grande número de maçons muito conservadores, “quase misóginos” relativamente ao tema das mulheres na maçonaria.
Candidato vimaranense é conotado com a atual liderança
Carlos Vasconcelos, advogado de Guimarães, de 43 anos, é visto como o homem da continuidade relativamente a status quo atual. Vasconcelos é atualmente grão-mestre adjunto e é encarado como uma pessoa próxima do grão-mestre, Fernando Lima, que ocupa o lugar desde 2011.
Fernando Lima está de alguma forma ligado aos mais altos cargos do GOL há pelo menos 15 anos, os nove do seu mandato a que se somam seis em que foi grande tesoureiro de Fernando Reis. Na maçonaria não há limitação de mandatos, mas o grão-mestre cessante não evita as críticas internas por ter ocupado o cargo durante tanto tempo, num período em que a instituição sofreu com episódios que denotam alguma degradação moral.
É o próprio Carlos Vasconcelos que assume, no seu programa, a má imagem da instituição, apesar “do património histórico da maçonaria, uma parte significativa da sociedade portuguesa perceciona com reservas e até com negatividade a maçonaria em geral e o Grande Oriente em particular.” O candidato defende uma revisão do relacionamento da maçonaria com a sociedade para que esta “compreenda a atualidade dos valores” maçónicos.
No que toca ao segredo, Vasconcelos é perentório, no texto que envio aos membros do GOL: “proibir o segredo maçónico” é “proibir a maçonaria”.
A oposição, no seio da maçonaria, contudo, afirma que Carlos Vasconcelos, na continuidade do que fez Fernando Lima, defende o secretismo e o fechamento, “instrumentos essenciais para a subversão do aparelho do Estado.”
Fernando Cabecinha quer “aprimorar” a seleção de candidatos
O consultor Fernando Cabecinha, de 67 anos, apesar da idade, é visto como um homem de ideias novas, um candidato de rutura com o sistema existente. Embora tenha sido próximo de Fernando Lima, rompeu com o atual grão-mestre há muitos anos e, até por isso, é visto como uma rutura genológica com a árvore familiar de Lima.
Uma das ideias que Cabecinha levou para o debate na obediência foi a da necessidade de “aprimorar a qualidade da seleção dos candidatos.” Para alguns maçons com quem O MINHO falou, este foi um dos problemas que conduziu ao descrédito em que se encontra a maçonaria e particularmente o GOL. Apesar de um novo membro ter sempre que ser proposto e de, antes de ser admitido como aprendiz, ser investigado por uma comissão que verifica se o candidato obedece aos rigorosos padrões éticos exigidos, estes processos aligeiraram-se, principalmente quando se tratava de admitir alguém influente.
Os maçons com quem O MINHO falou defendem que Cabecinha será mais favorável à abertura do GOL à sociedade e que poderá ser, inclusivamente, a favor da inclusão de mulheres. Todavia, uma vez que a corrente conservadora ainda corresponderá à maioria dos votantes, nada disto pode ser assumido com clareza, sob pena de perda de votos importantes, numa corrida renhida.
Nem todos têm direito de voto dentro da obediência maçónica
Os recém-chegados à maçonaria, ao longo primeiro ano, são designados “aprendiz”. O grau seguinte é o de “companheiro” e tem a duração de mais um ano, portanto, só ao fim de dois anos na obediência é que o maçon adquire o direito de votar para escolher o grão-mestre.
Nas eleições do GOL votam cerca de 2.200 membros, apenas os mestres têm esse direito. Um grande número destes votos está concentrado em Lisboa e Porto. Das cerca de 110 lojas que existem no país, cerca de 50 estão na capital.