Artigo de Inna Ohnivets
Embaixadora da Ucrânia em Portugal.
A Ucrânia luta heroicamente contra o país agressor – a Federação Russa. O povo ucraniano defende não só a soberania da Ucrânia, mas os valores democráticos da UE.
Esta é uma guerra em grande escala contra a Ucrânia, lançada pela Rússia, não um “conflito na Ucrânia”. E ao destacar a situação na Ucrânia, deve ser sempre feita uma referência clara à Rússia como estado-agressor. As principais direções da invasão da Rússia continuam a ser Kyiv, Kharkiv, as regiões do sul da Ucrânia, e as regiões de Donetsk e Luhansk. Várias cidades foram ocupadas temporariamente (incluindo Kherson e Melitopol). Algumas delas são atacadas, com graves danos em áreas residenciais e inúmeras baixas entre os civis.
O território da Bielorrússia é usado ativamente pela Rússia para fins militares. O regime de Lukashenko compartilha da responsabilidade, juntamente com o Kremlin, por esta guerra contra a Ucrânia.
Apesar da vantagem militar significativa, a Rússia não conseguiu atingir os seus objetivos principais. A Ucrânia não se rendeu em três dias, como o Kremlin esperava. Kyiv, como centro de comando político e militar, permanece intacto. Nenhuma grande cidade, com a única exceção de Kherson, foi tomada. A Ucrânia conseguiu estabelecer defesa e contra-ataque.
População protesta
Nas cidades temporariamente sob o controlo das tropas russas, a população ucraniana está a protestar ativamente contra os invasores. Por sua vez, o Kremlin continua a tentar esconder a verdade sobre a guerra e as perdas reais das tropas russas na Ucrânia.
Tendo falhado em fazer a Ucrânia render-se após uma “Blitzkrieg”, a Rússia começou a procurar pretextos falsos para “justificar” a sua guerra agressiva. Vários funcionários russos acusam falsamente a Ucrânia de ter armas químicas ou biológicas, as quais são inexistentes, e de adotar medidas que visam a criação de armas nucleares.
A Ucrânia ativou o seu direito de autodefesa de acordo com o artigo 51 da Carta da ONU. Continuamos a lutar e venceremos. As Forças Armadas da Ucrânia combatem as Forças Armadas da Rússia, infligindo-lhes golpes devastadores. Mais de 100.000 cidadãos ucranianos se juntaram às unidades de defesa territorial.
No entanto, do lado russo, as tropas preparadas para a invasão já foram todas enviadas para a Ucrânia. A Rússia busca a mobilização “oculta” e busca mercenários e empresas militares privadas para repor as perdas, formando unidades adicionais. As tropas russas estão a sofrer pesadas perdas. Na manhã de 21 de março, já se contabilizavam cerca de 15.000 baixas (dez vezes mais do que as perdas militares ucranianas), 97 (noventa e sete) aeronaves, 121 (cento e vinte e um) helicópteros, 498 (quatrocentos e noventa e oito) tanques, 1535 (mil, quinhentos e trinta e cinco) veículos blindados, 240 (duzentos e quarenta) sistemas de artilharia, 45 (quarenta e cinco) sistemas antiaéreos. Até 1000 militares russos foram capturados. O estado moral e psicológico das tropas russas permanece baixo. Mais e mais soldados russos se recusam a ir à guerra.
Ameaça nuclear e química
As ações irresponsáveis da Rússia representam as mais graves ameaças de contaminação nuclear e química. As tropas russas começaram a bombardear a usina nuclear de Zaporizhzhya – a maior usina nuclear na Europa. A central está agora sob o controlo da “Rosatom”. A Usina Nuclear de Chornobyl foi tomada pelas tropas russas. As tropas russas dispararam foguetes contra instalações do Instituto de Física e Tecnologia de Kharkiv, que contem material nuclear e um reator experimental. No dia 20 de março, o local de “SumyHimProm” foi bombardeado, o que causou um derramamento de amoníaco de um tanque de 50 toneladas.
A Rússia viola flagrantemente o Direito Internacional. Navios militares russos estão a bloquear o acesso e a atacar deliberadamente navios civis ao longo da costa da Ucrânia no Mar Negro, violando o Direito Internacional do Mar.
Violando as convenções de Haia sobre as Leis e Costumes de Guerra em Terra, a Rússia continua a mobilizar milhares de moradores das partes temporariamente ocupadas das regiões de Donetsk e Luhansk. A idade de mobilização militar, nesses territórios, foi aumentada para os 65 (sessenta e cinco) anos.
Os ataques da Rússia têm como alvo áreas residenciais, abrigos antiaéreos para civis, infraestruturas médicas e meios de transporte usados para fins médicos, humanitários e de evacuação. O Ministério da Cultura e Política de Informação da Ucrânia lançou um portal com informações sobre a destruição de monumentos culturais e históricos da Ucrânia pelos agressores russos.
É de salientar que a responsabilidade pela guerra da Rússia contra a Ucrânia é de toda a sociedade russa, não apenas do Presidente Putin e dos seus representantes. Todos eles devem arcar com as consequências. É verdade que a decisão de iniciar uma guerra de agressão armada foi tomada por Putin, contudo, 71% (setenta e um por cento) dos russos apoia esta guerra e os assassinatos em massa de ucranianos. Isso é considerado responsabilidade compartilhada.