“A Prozis teve publicidade como nunca na sua história. E de graça”

“Com toda a humildade, acho que merecia um prémio de marketing”, afirmou o empresário minhoto

O sócio maioritário da empresa Prozis, Miguel Milhão, afirmou numa carta aberta que a polémica em torno das declarações que deu sobre o aborto potenciaram uma ‘jogada’ de marketing sem precedentes para o grupo sediado em Esposende, alegando que as declarações “pesadas” que foi dando nos últimos dias nada mais foram do que ações pensadas relacionadas com marketing.

Assim, Milhão diz que conseguiu com que todo o país ficasse “a falar na liberdade de expressão e a refletir sobre este antídoto”, e com que a Prozis tivesse “publicidade como nunca na sua história. E de graça”.

E salientou: “Com toda a humildade, acho que merecia um prémio de marketing. Eu calculo que o valor de publicidade conseguida esteja acima dos 10 milhões de euros. Consegui fazer com que os zombies trabalhassem para mim, simplesmente porque eles não pensam”.

Na carta, publicada esta sexta-feira no Jornal de Negócios – a quem Milhão concedeu uma entrevista que será divulgada na próxima segunda-feira -, o empresário de Vila Verde, radicado em Miami (Estados Unidos), admite que nunca pensou que a sua publicação no Linkedin, onde se manifestou a favor da revogação das leis que permitem o aborto no país americano, tomasse as proporções alcançadas, mas revela que as críticas só fizeram com que tivesse vontade de tornar a situação em algo proveitoso para a empresa.

“Zombies contaminados por um vírus que lhes retira a capacidade de pensar”

Milhão diz que a ‘mob’ (multidão/turba) “atacava tudo – Miguel, Prozis, parceiros, funcionários, etc… Queriam destruir tudo por causa da minha opinião”.  Então, refere, começou “a fazer aquilo em que” diz ser melhor: “Pensar”. Apelida essa mesma multidão de “zombies”, que “foram contaminados por um vírus que lhes retira a capacidade de pensar”.

Assim, diz, definiu dois objetivos: “1) Fornecer o antídoto a estes zombies, ou, pelo menos, proteção contra a infeção aos humanos que ainda não estavam infetados – esse antídoto é a liberdade de opinião; 2) Aproveitar e fazer publicidade à Prozis. Ao fim ao cabo, os zombies não são muito inteligentes e são fáceis de manipular, porque todos agem da mesma forma”.

Milhão diz que o antídoto para combater a multidão (ou a “minoria ruidosa”, como é apelidada a cultura de cancelamento no Brasil e nos Estados Unidos), passou por “enviar declarações para os meios de comunicação” que causassem “o máximo de barulho possível, através de declarações incendiárias como: ‘Sou incancelável’, ‘não preciso de Portugal, etc”.

O empresário refere ainda que, no ‘podcast’ “Conversas do Karalho”, onde, durante cerca de 20 minutos, transmitiu a sua opinião, atacando a multidão (e comentando criticas conforme as mesmas iam passando num ecrã), resolveu comunicar “com bastante velocidade e agressividade, sotaque forte e sem grande elaboração fraseológica” para que todos acreditassem que – palavras de Milhão – “eu sou meio burro”.

“E assim comecei a dizer declarações cada vez mais incendiárias, para atrair o máximo de zombies, como, por exemplo, ‘tenho recursos ilimitados’. Quem é que acreditaria numa declaração tão absurda como esta? Ninguém. Nem nenhum país tem recursos ilimitados. Mas isto atraiu os zombies”, salienta no documento revelado pelo Jornal de Negócios.

Sobre a declaração “A Prozis não precisa de Portugal”, Milhão recorda que a empresa tem 10 fábricas em Portugal, para além de um milhar de colaboradores, demarcando-se, assim, daquilo que tinha dito, afirmando ter sido propositado para enfurecer os críticos (e atrair os zombies).

“Quem poderia acreditar que alguém que fica 10 anos sem falar com a comunicação social chega para chamar ‘filhos da puta’ aos seus clientes? Ninguém. Mas isto atraiu os zombies”, acrescentou.

Destacou ainda os planos de imagem captados durante o ‘podcast’, com os seus olhos em evidência (Milhão é cego de um olho), algo que diz ter sido propositado para que os “zombies” criticassem o seu aspeto físico, algo que efetivamente se sucedeu.

Origem da polémica

No domingo passado, Miguel Milhão deixou a ‘internet’ em alvoroço, gerando milhares de reações, umas a favor, outras contra, depois de ter publicamente elogiado a proibição do aborto através da sua conta oficial de Linkedin. Entretanto, e após a polémica, apagou o ‘post’.

“Parece que os bebés que ainda não nasceram têm os seus direitos de volta nos Estados Unidos! A natureza está a curar-se!”, escreveu Miguel Milhão.

Post de Miguel Milhão no LinkedIn

A Prozis, que além da sede em Esposende tem uma unidade fabril na Póvoa de Lanhoso, publicita os seus produtos através de influenciadores digitais.

Rita Belinha, ‘influencer’ e repórter da RTP, já se tinha demarcado da posição do patrão da Prozis e anunciou o fim da parceria com a marca.

“É uma questão de princípio. Os valores por detrás das empresas, para mim, são fundamentais na hora de escolher com quem trabalho. Quando esses valores vão contra as minhas maiores convicções, a decisão tonar-se fácil”, começou por escrever.

E acrescentou: “E não, para mim isto não é uma questão de opinião. Isto, para mim, é como trabalhar com um racista ou um homofóbico. Não muda muito”.

Por outro lado, há influenciadores digitais, até questionados pelos próprios seguidores, já têm manifestado que irão manter a parceria com aquela marca de nutrição desportiva.

Entretanto, Miguel Milhão reagiu em declarações ao Notícias ao Minuto: “Vejo comentários positivos e negativos. Pena a maior parte dos comentários negativos terem como objetivo silenciar a minha opinião. Não me parece nem justo nem democrático”.

E reiterou a sua posição: “Gosto de ver os direitos das criancas que ainda não nasceram a serem tidos em conta”.

Em declarações à revista Magg ainda foi mais longe: “Todos têm direito a diferentes opiniões. Quanto a mim, não consigo fazer mal a bebés. Teria pesadelos à noite. Sorry [desculpem]”.

O polémico post é um dos assuntos mais partilhados e comentados do dia nas redes sociais e não escapou ao humorista Guilherme Duarte.

O autor da página Por Falar Noutra Coisa fez uma rábula em que lança farpas aos ‘influencers’ que estão a anunciar o fim da parceria com a Prozis.

Vídeo que foi partilhado por Miguel Milhão nas suas ‘instastories’, nas quais também publicou uma imagem com uma música de Quim Barreiros intitulada “É só inveja”, numa clara alusão às críticas que lhe têm sido apontadas.

Por outro lado, devido à polémica, a Prozis proibiu os comentários às suas publicações.

 
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