A cena rock de Barcelos deu uma tese académica em Barcelona

Gustavo Sampaio investigou a história da música alternativa na sua cidade natal
Gustavo Sampaio no concerto de final do curso, na sala La Nau, em Barcelona. Foto: Sophie Maud

Glockenwise ou Black Bombaim são alguns dos nomes mais conhecidos da cena musical de Barcelos, que saltou para a ribalta nos anos 90 com bandas, entretanto extintas, como The Astonishing Urbana Fall ou Kafka. Gustavo Sampaio, guitarrista que cresceu no meio deste caldeirão ‘underground’, decidiu investigar a história da música alternativa da sua cidade e fazer dela a sua tese final de licenciatura em Barcelona.

O músico, de 29 anos, concluiu os estudos em “Interpretação de jazz e música moderna com guitarra elétrica”, na Taller de Músics – Escola Superior d’Estudis Musicals. Apresentado na última semana, o trabalho final de curso teve como título “A cena musical underground de Barcelos, cidade do Galo mas também do rock”.

Gustavo Sampaio, que na adolescência integrou os The Brainscape, quis levar para Barcelona a sua vivência na cena musical de Barcelos. “Nestes últimos cinco anos em Barcelona senti que não havia uma conexão entre o que estava a fazer lá e o que tinha feito cá, a não ser a parte de que gosto e quero fazer música. Assim, foi uma forma de conectar essas duas esferas”, conta a O MINHO o jovem guitarrista.

“Em vez de fazer um trabalho biográfico chato sobre um guitarrista qualquer que já alguém fez um trabalho sobre ele algures, podia fazer alguma coisa um bocado mais única e com identidade especial e levar para lá [Barcelona] uma coisa boa daqui [Barcelos]”, sublinha. E ao dar a conhecer o que existe na sua cidade natal, considera que também as pessoas acabam por ficar a conhecê-lo melhor porque descobrem o ‘background’ de onde vem.

Gustavo Sampaio nota que quando fala “às pessoas dos festivais que existem ou que existiram” em Barcelos, elas ficam surpreendidas por ser “um sítio tão pequeno mas em que há tanta gente” ligada à música. “Apreciam o facto de ser uma cidade pequenina, nada a ver com Barcelona, mas haver este tipo de cena”, aponta.

A escolha da tese fez, por isso, todo o sentido: “Tem muito a ver comigo, é um assunto interessante e nunca ninguém falou disso ali. Por isso pareceu-me uma decisão que fazia sentido”.

“Declínio” de espaços para tocar

A tese de licenciatura não visa tanto obter uma conclusão, mas mais ser mais um trabalho expositivo sobre a história da música alternativa de Barcelos. “Um cartão de visita da cidade”, explica o músico que, após a conclusão do curso, já tem em vista um trabalho a tocar guitarra em cruzeiros nas Caraíbas.

“No entanto, embora não haja uma conclusão específica, abordaram-se algumas questões, como o declínio de espaços para apresentar música ao vivo, haver menos bandas agora do que quando eu tinha 15 anos e haver mais produção eletrónica”, aponta Gustavo Sampaio, cujo trabalho final de curso, além da parte teórica, contemplou uma vertente prática que culminou num espetáculo na sala La Nau, em que interpretou temas de guitarristas que o influenciaram, como Peixe, dos Ornatos Violenta, que foi o seu professor antes de ir estudar para Barcelona.

O trabalho, que a academia aceitou ser totalmente escrito em português, aborda não só as bandas contemporâneas, mas também os precursores dos anos 60/70 (Celos, Galos, Os Rós e Os Misséis), assim como as dos anos 90, como os The Astonishing Urbana Fall. Há também espaço para os festivais, como o Milhões de Festa, e eventos mais pequenos, com o Prata da Casa. Também merece menção quem divulga a música, como o programa Sinfonias d’Aço, do radialista Manuel Melo, e os ciclos de programação cultural, como o extinto Subscuta ou o atual triciclo.

Para a conclusão do “declínio de espaços onde apresentar projetos”, Gustavo Sampaio recorda o fecho de locais como o Xispes, o Círculo Católico Operários de Barcelos ou a Casa Azul: “Falo nessa evolução na perspetiva de uma pessoa que na altura era adolescente – no primeiro Milhões de Festa tinha 16 anos – e do que há disponível agora em comparação com essa altura”.

Mas salienta: “Há declínio de lugares, mas continua a haver bastante iniciativa das pessoas daqui para tentar impulsionar a cena, porque criam-se iniciativas, como foi agora o ‘Que Força é Essa’, para comemorar o 25 de Abril. Há menos eventos grandes, mas nota-se que as pessoas têm um carinho pela cena e tentam impulsionar e fazer o que é possível”.

 
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