O “Auto das Máscaras”, de João Pedro Vaz, propõe uma “visita desregrada e profana” ao universo das máscaras de José de Guimarães, numa busca pela “identidade comunitária”, em que o coletivo se mistura com “intimidade do mano a mano”.
Em declarações à Lusa, o autor e responsável artístico pelo Teatro Oficina, em Guimarães, explicou que o espetáculo que se estreia no sábado, na Plataforma das Artes e da Criatividade, também em Guimarães, “não é uma peça de teatro”, é um auto, “na origem popular” da palavra que mistura intérpretes e público num ritual de passagem, “com forte ligação comunitária”.
Um espetáculo inspirado pela “floresta de máscaras” de José de Guimarães, que une dois coletivos de “forte identidade” na cidade, a Outra Voz, um “coro que não é um coro” composto por vimaranenses dos 14 aos 80 anos, e os Velhos Nicolinos, representantes do ritual de passagem de “rapaz à idade adulta” que se consubstancia nas Nicolinas, festividades dos estudantes de Guimarães, que juntam atuais e antigos estudantes numa série de rituais na última semana de novembro.
“Quando cheguei a Guimarães, achei logo que uma das coisas que mais interpelava ‘performativamente’ era a coleção de máscaras do Centro Internacional das Artes José de Guimarães [CIAJG]. Elas são todas de rituais, foram sempre usadas em algum contexto comunitário ou ritualismo, não são peças decorativas, foram usadas por um povo ou tribo, e achei que ir recuperar memórias dessa identidade comunitária seria o ideal para o Teatro Oficina“, explicou o autor do “Auto das Máscaras”.
Para vincar o ritualismo das máscaras e a “busca pela identidade”, João Pedro Vaz construiu um espetáculo em que público e intérpretes se misturam: “Não é um espetáculo de teatro, a palavra auto aparece pela origem popular mas também porque o auto é uma forma de uma comunidade se ver, se atualizar e é uma espécie de performance coletiva, visita desregrada e profana a máscaras que nasceram dessa profanidade”, explicou.
E pelo palco, que não é um palco mas as paredes, o chão e as salas do próprio CIAJG, os “participantes, que são muitos, a mistura de intérpretes e público, essa mistura fará com que [a ação] se passe um a um, ou dois a dois, uma relação íntima que se torna coletiva”.
“É entre essa ideia de intimidade, mano a mano, ou numa relação coletiva de que o espetáculo se trata”, salientou.
Para o encenador, a participação neste “auto, meio de uma comunidade ver e ser vista, de encontro”, da Outra Voz e dos Velhos Nicolinos é natural.
“São dois grupos que têm uma inscrição particular no concelho, a Outra Voz, que tem feito um trabalho muito performativo, mas também de ligação comunitária, e os Velhos Nicolinos. Juntá-los neste contexto é um desafio com sentido, porque as máscaras são utilizadas num ritual de passagem e, se há um ritual de passagem [simbólico], em Guimarães, são as Nicolinas, onde há a passagem do rapaz para a idade adulta”, explicou.