Carlos Resende, Paulo Faria e Carlos Galambas, que integraram a primeira seleção portuguesa num Mundial de andebol, em 1997, destacam a “ambição e qualidade” da atual geração, que permite “sonhar alto”.
Tido com um dos melhores andebolistas portugueses de todos os tempos e eleito para a equipa ideal do Campeonato da Europa de 2000, na Croácia, o antigo lateral esquerdo Carlos Resende adianta que, “dada a qualidade dos miúdos, se pode esperar tudo”.
“Vai ser muito fruto do momento. Já seria bom superar a melhor classificação de sempre [10.º lugar no Egito2021]. Mas o sonho de chegar a uma medalha está lá. Pode ser que os nossos jovens tenham um momento fantástico”, disse Carlos Resende à agência Lusa.
Paulo Faria é um “fã incondicional” da seleção, que considera ter criado um “espírito de vitória incrível”, e marcará presença como adepto, tal como nas competições anteriores, na bancada da Unity Arena, em Oslo, na Noruega, para vibrar e apoiar.
“Esta seleção tem uma característica que nós em 1997, no Japão, não tínhamos. Respeitávamos demais [os adversários] e não nos sentíamos capaz de vencer todos os jogos. Esta seleção sente que pode vencer qualquer equipa e entra em campo para ganhar”, considerou Paulo Faria.
O antigo central, de 52 anos, formado no ABC de Braga e com passagens pelo Sporting e Águas Santas, destaca a qualidade da seleção nacional, “com jogadores do melhor que há”, e considera que a expectativa de uma boa participação no Mundial2025 “é grande”.
“Esta seleção vai para ganhar. É muito difícil ser campeã do mundo, pois só uma pode, mas tem ambição e isso é maravilhoso. É um gosto de ver esta seleção, com tantas soluções, individuais e coletivas, e jovens talentosos”, disse.
Carlos Galambas reconhece que Portugal, pelo que tem evoluído e conquistado nos últimos anos, pode “sonhar alto” e “fazer um excelente Mundial”, pois tem “qualidade para fazer alguma coisa bonita”, e até porque “já merece chegar ao topo”.
“Se Portugal pensar jogo a jogo e jogar ao seu melhor nível, no limite, pode fazer isso. Conseguiu um brilhante sexto lugar no Euro2020, superando o nosso sétimo, na Croácia, no Mundial já fez bons resultados, mas tudo depende, às vezes, de um jogo, que deita tudo a perder”, adianta Carlos Galambas, jogador histórico do ABC.
O antigo pivô reconhece que gostaria de ver Portugal no pódio, mas retira essa pressão aos jogadores, embora considere que, pelo trabalho realizado e pela qualidade dos seus jogadores, mais do que estar presente, já justifica lutar pelas medalhas.
“Temos uma excelente equipa, muito bem orientada por Paulo Pereira e Paulo Fidalgo, e acho que podemos sonhar, mas, às vezes, basta um resultado e tudo vem por água abaixo”, adianta Carlos Galambas.
Carlos Resende, Paulo Faria e Carlos Galambas recordam com nostalgia e orgulho a primeira participação de Portugal numa fase final de um Mundial, em 1997, no Japão, e destacam o facto de o feito de ter sido alcançado às custas da eliminação da Alemanha e da Polónia.
“Foi uma estreia especial. Para chegar ao Japão, em 1997, a nossa seleção teve que eliminar, no nosso grupo de qualificação [que só apurava um], a Alemanha e a Polónia, que dez anos depois, em 2007, foram finalistas do Mundial”, recorda o agora treinador Carlos Resende, de 53 anos.
Paulo Faria considera que a estreia da seleção portuguesa foi marcada por “bons jogos e outros menos bons” e lembra a dificuldade de adaptação ao sistema defensivo da Tunísia, que acabou por pesar na derrota por 19-18 e ditar o afastamento na primeira fase.
“Éramos obrigados a jogar seis para seis com ações de um para um, o que provocava um desgaste muito grande. Fez-nos muita confusão, pois não estávamos habituados. Menos experiente do que a Tunísia, à nossa seleção terão falhado alguns pormenores de jogo, que nos impediram de vencer”, refere.
Portugal terminou a sua participação no quinto e penúltimo lugar do Grupo C, com uma vitória frente ao Brasil (26-18) e derrotas com a Tunísia (19-18), República Checa (28-24), Espanha (29-26) e Egito (29-25), e falhou os oitavos de final.
“As sensações foram boas. Agora é a nostalgia, que o tempo anda de pressa. Foi o culminar de um objetivo para o qual todos tínhamos trabalhado. Conseguimos, todos juntos, fazer aquilo que nunca tinha sido feito: conseguir ir a um Mundial”, recorda Carlos Galambas, de 51 anos.
Resende, Faria e Galambas tinham como colegas de balneário, entre outros, os naturalizados Viktor Tchikoulaev e Vladimir Bolotskih, Paulo Morgado, Rui Rocha, Eduardo Filipe e Filipe Cruz, e o debutante Ricardo Costa, de 17 anos, pai de Martim e Francisco, duas das ‘estrelas’ da atual seleção.
“Foi uma alegria para todos nós. Foi o culminar de um trabalho que vinha sendo feito na altura [pelo selecionador Aleksander Donner] e conseguimos realizar o sonho de marcar presença, pela primeira vez, num Mundial”, refere Carlos Galambas.
Paulo Faria recorda que Portugal foi recebido no Japão como “uma seleção de referência”, pois tinha eliminado a Alemanha e a Polónia, e esteve em estágio cerca de 20 dias antes do inicio do Mundial, para adaptação à diferença horária.
“Ficamos muito tempo no Japão, com o estágio e a competição, mas foi uma boa experiência para toda a gente. O meu filho tinha poucos meses e quando cheguei, quase um mês e tal depois, quase não sorriu. Já não se lembrava de mim”, adianta Paulo Faria.
Carlos Resende considera que não se pode dissociar o bom momento que a seleção atravessa ao investimento realizado no andebol pelos principais clubes nacionais, respetivamente FC Porto, Sporting e Benfica.
“São estas equipas que têm marcado o passo do andebol nacional, quer em termos nacionais quer internacionais, com a presença nas competições da EHF, e desse esforço financeiro muito tem usufruído a seleção nacional”, considera o antigo jogador do FC Porto e ABC.