Um estudo liderado pela Universidade do Minho concluiu que a produção de novos astrócitos – uma classe de células presentes no cérebro – pode melhorar o comportamento de adultos com doenças neuropsiquiátricas. Esses astrócitos ajudam também a modular a função do hipocampo, a região do cérebro que controla as emoções, a cognição e a memória.
Os resultados da pesquisa saíram na conceituada revista científica “Molecular Psychiatry”, do grupo Nature.
Em comunicado, a academia minhota explica que os astrócitos são fulcrais a regular aspetos como a comunicação e o ambiente dos neurónios. Porém, o estudo específico da formação de novos astrócitos tem sido dificultado pela ausência de ferramentas apropriadas, sendo assim negligenciado. Este facto tem impedido a compreensão do seu papel no cérebro adulto e no avanço de tratamentos para distúrbios ansiosos e depressivos.
No Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Escola de Medicina da UMinho, Luísa Pinto, Joana Macedo e Eduardo Gomes decidiram avançar neste trabalho pioneiro na área, envolvendo ainda Angelo Lepore, da Universidade de Thomas Jefferson (EUA) e o Centro de Neurociências e Biologia Molecular de Coimbra.
Para tal, utilizando um modelo animal (rato) cuja formação de novas células no cérebro foi previamente eliminada, transplantaram-se novas células gliais (astrócitos) e avaliou-se o impacto comportamental. Estes novos astrócitos revelaram efeitos similares a antidepressivos, revertendo também déficits de ansiedade. Além disso, foi possível recuperar os níveis normais de produção de novos astrócitos e novos neurónios no hipocampo (pois na vida adulta tendem a ser produzidos em menor quantidade).
“Conseguimos pela primeira vez demonstrar estes processos”, afirma Luísa Pinto. “A produção de novos astrócitos contribui, efetivamente, para reduzir comportamentos depressivos e ansiosos”, nota Joana Macedo, citada no comunicado.
O futuro passa agora por encontrar “novos caminhos” para tratar várias condições neuropsiquiátricas e neurodegenerativas, com novos fármacos que modulem a produção de novos astrócitos ou, mais importante, a personalização do tratamento de pacientes, frisa Eduardo Gomes. No ICVS, o estudo juntou ainda os cientistas Bruna Araújo, Tiago Silveira-Rosa, Patrícia Patrício, Nuno Dinis Alves, Joana Silva, Ana João Rodrigues e António Salgado.