Os vendedores da “banha da cobra”: Um retrato da política portuguesa

Artigo de Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia

Licenciado em História pela Universidade do Minho

A “banha da cobra” era um produto que se apregoava nas feiras portuguesas, como sendo remédio para muitas maleitas. Porém, tal como muitos outros, não passava de um fingido milagre, como aqueles que, na vida política portuguesa destes últimos 50 anos, nos são prometidos. Acho tão ridículo que alguns políticos se deem ao trabalho de tentar limpar a sua imagem nas páginas de jornais, após venderem tanta banha, depois de tantos prejuízos imputados aos portugueses. Não são capazes de perceber que, condição sine qua non porque foram eleitos, obriga-os a tratar a coisa pública com o maior rigor, honestidade e responsabilidade, sem estrépito. Todavia, aqueles que exerceram ou exercem os seus cargos, pautados por polémicas, atacam os adversários, tentando justificar que o que fizeram era o mais correto, mesmo sabendo que, no exercício das suas funções, ser correto era a pedra basilar porque foram nomeados, não sendo de todo motivo de regozijo. Mas, enfim, gente pequena, que por vezes tenta tapar o sol com a peneira, escrevendo memórias ou livros de justificação, como se alguém fosse acreditar que, após tanto desperdício de dinheiros públicos, depois de tantas prioridades remetidas para as calendas gregas, a banha se transformasse em cura. Tempos foram e continuam a ser em que se derreteram e derretem milhões de euros em caprichos, caprichos de oportunidade, que em nada servem o País, a não ser as oligarquias instaladas. Atualmente, muitos desses vendedores, alguns em idade mais que adequada para assumirem os seus erros, teimam orgulhosamente em florir o inferno que criaram, apresentando-o como paraíso, como se de mecenas da sociedade se tratassem. Enfim, somos um País de doutores, de artífices que se dizem obreiros do progresso, de tantos que nunca trabalharam, não passando mesmo de vendedores da banha da cobra. Ao povo que vai às feiras políticas, continuem a acreditar nos milagres dessa banha sebosa de milagres inalcançáveis, palco de utopias de circunstância. No futuro, a história vai tratar de ajuizar acerca desses apregoadores que contribuíram para penhorar o futuro das nossas crianças, dos jovens e de todos nós. A banha, rançosa e mofenta, vai-lhes cair na fama como milagre de água-benta. Na verdade, somos mesmo um País de pão e circo, onde havendo vinho, romarias e futebol, tudo o mais é supérfluo. Porém, as festas também fartam, como a mim já me fartou há muitas décadas a postura de arrogância de muitos políticos, sabendo que a generalidade deles não passa de vendedores de miragens, em que muitos deviam estar por detrás das grades (pelos desastres económicos e sociais que nos acometem), e a roçar mato para compensar o que, na cadeia, continuariam a comer à custa do Zé Parolo. Na nossa política tudo está tão podre, da esquerda à direita, que nada se aproveita. Nas feiras, o pregão prossegue, forte e convicto, para os que procuram milagres no deambulatório da esperança.

 
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