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Quando lhe ligámos, estava na sua “segunda casa”, que é como quem diz na biblioteca da Universidade do Minho, no campus de Azurém, a estudar para um teste. Fernando França Pereira, de 79 anos, o aluno mais velho da UMinho, é finalista da licenciatura em Engenharia Têxtil e já está a frequentar o mestrado.
Na semana passada, o estudante de Vizela recebeu, juntamente com os colegas, as insígnias do curso. “Foi um dos melhores dias que passei na minha vida”, conta a O MINHO, confessando que aquele era um “sonho” antigo.
Mostra-se ainda agradado com a repercussão que o seu exemplo está a ter, considerando que é bom para a área da Engenharia Têxtil, para a UMinho e serve de “incentivo às pessoas para não desistirem, para seguirem em frente”.
“Tenho grande amizade com os colegas, a idade não é obstáculo”
“Tenho muito gosto nisso”, conta Fernando França Pereira, confidenciando que, em conversas com os colegas, tenta sempre dar-lhes essa força “para não esmorecerem”.
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E por falar em colegas, garante que a idade não colocou qualquer entrave às novas amizades. “Tenho grande amizade com os colegas, a idade não é um obstáculo. As pessoas respeitam-me, eu respeito todos, é um ambiente muito saudável”, salienta.
“Sempre gostei de estudar”
Ainda com umas cadeiras da licenciatura por terminar e outras do mestrado já feitas, Fernando França Pereira vinca que, com a sua idade, já está numa fase em que não se preocupa “em acabar” o curso “para ir trabalhar”, mas sim por “realização pessoal”.
“É um prazer pessoal, sempre gostei de estudar”, sublinha.
Para a neta, é um “orgulho”. “79 anos e terminou hoje a licenciatura em Engenharia Têxtil. na Universidade do Minho. Com esforço amor e dedicação tudo se consegue e ele conseguiu” O meu avô é o maior! Isto sim é o alimento para a nossa vida”, escreveu Ana Ferreira numa publicação no Instagram.
Começou a trabalhar aos 10 anos
Tinha sido destacado para a enfermaria na linha de frente do combate na Guiné, mas um problema de saúde fê-lo ficar em Portugal mais uns tempos. Viajou mais tarde para Moçambique, primeiro como empregado e depois criaria um negócio por conta própria. Por lá permaneceu 11 anos e casou por correspondência com a sua atual esposa. Lá nasceram duas das suas três filhas. Em 1974 veio, obrigado, para Portugal e nunca mais voltou a África.
Regressou a Portugal e abriu drogaria em Vizela
Após o regresso a Portugal comprou uma drogaria em Vizela, mas foi no negócio do tabaco onde cresceu profissionalmente. Em 1996, uma operação delicada fê-lo repensar a vida. A operação foi bem sucedida e voltou a abrir uma tabacaria. E nessa altura deciciu voltar aos estudos e completar o 12.º ano na Escola Secundária Francisco de Holanda, em Guimarães.
Com algumas interrupções pelo meio, chegou finalmente à UMinho. Concluiu o curso de Preparação para Maiores de 23 anos em 2011/2012, e ingressou em 2012/13 na licenciatura de Estatística Aplicada, tendo feito algumas disciplinas. Depois mudou para Engenharia Têxtil.
Fernando, que não perde uma aula, não vai às festas académicas, embora aprecie as tradições, e garante que não se sente marginalizado, bem pelo contrário: “Sinto uma boa receção por parte de todos e acho que não tenho tratamento diferente”.