Braga: Fábrica de raquetes de padel em carbono espera faturar 1,5 milhões em 2023

Quad
Foto: DR

As empresas portuguesas Cork, Volt, Globo e Quad têm rivalizado com o domínio espanhol e argentino na comercialização de raquetes de padel, captando as oportunidades de negócio motivadas pela projeção mundial da modalidade. Nascida em Braga no ano de 2021, a Quad, que aposta nas raquetes em carbono, espera faturar 1,5 milhões de euros no próximo ano e chegar a 22 países, expandindo-se para América Latina e África.

A Quad, primeira fábrica portuguesa de raquetes de padel em carbono, localizada na zona industrial das Sete Fontes, tenta diluir a supremacia de China e Paquistão, responsáveis por 95% da produção mundial vendida.

“É a diferença entre saída e potência: uma raquete com muita saída é mais fácil de jogar atrás [do campo] e uma mais dura dá aceleração à bola. O ideal é existir esse equilíbrio, que não entra nas preocupações dessas fábricas, mas que nos permite ter uma raquete com características de jogabilidade únicas”, admitiu o fundador Vasco Carvalho, falando num “investimento absurdo” para autonomizar a produção ao sétimo mês de atividade.

A descoberta de um parceiro acelerou essa “loucura” da Quad, que reúne 10 elementos na fábrica e apoia Diogo Rocha, Catarina Vilela e Fábio Gomes, líderes dos ‘rankings’ masculino, feminino e misto da FPP, respetivamente, desejando faturar 1,5 ME em 2023, quando, com a sua expansão para América Latina e África, passará a servir 22 nações.

“Não há nenhum desporto que permita a um indivíduo de 30, 40, 50, 60 ou 70 anos voltar à alta competição e treinar durante a semana. Não há nenhum desporto a nível mundial que tenha este tipo de facilidade, entusiasmo e encanto. Há uma motivação extra de o pessoal treinar e querer ser melhor para poder fazer torneios”, concluiu Vasco Carvalho.

Referência

“Somos uma referência e ficamos muito satisfeitos que estas marcas sejam boas e vistas com qualidade. Temos uma imagem de competência e de coisas bem feitas lá fora. É um sinal de que a modalidade cresce em Portugal e já tem alguma dimensão”, estabeleceu à agência Lusa o presidente da Federação Portuguesa de Padel (FPP), Ricardo Oliveira.

Localizada em Santa Catarina da Serra, vila do distrito de Leiria, a Cork tornou-se desde 2016 na “primeira marca a fabricar em Portugal”, nascendo da vontade de Pedro Plantier, primeiro campeão nacional da modalidade, em “resolver uma problemática de raquetes”.

“Fui patrocinado por várias marcas e senti que havia algo de errado, pois elas vibravam, partiam-se facilmente e davam dores nos braços. Sempre tive o sonho de ter uma marca própria, mas nunca soube como o fazer. Até que lá conheci o Nicolau Silva no Clube VII, em Lisboa, que eu explorava. Ele estava a jogar com uma raquete muito estranha, que parecia um tronco de madeira, como se estivesse a experimentar um protótipo”, contou.

Pedro Plantier também testou e ficou com “boas sensações”, desafiando o então técnico de próteses dentárias a “tirar vibração e peso, colocar detalhes estéticos e tornar mais apetecíveis” as versões seguintes do produto artesanal, que esteve na génese da Cork.

“Não somos génios, mas investimos muito na qualidade e fomos melhorando até ter os Ferraris, Porsches ou Mercedes das raquetes. Depois, há a estética ligada à cortiça, um material português que, por si só, tem muita consistência, durabilidade e propriedades de vibração. Temos um produto único”, notou o membro fundador e diretor técnico da FPP.

Representada pelos melhores atletas portugueses e internacionais, tal como o hispano-argentino Roby Gattiker, 11 vezes campeão mundial, a Cork empenha 21 colaboradores na oferta de oito categorias de raquetes e de uma nova coleção a cada 18 meses, tendo faturado 1,1 milhões de euros (ME) em 2021, com 90% de exportações para 33 países.

“Crescemos 39% em 2022 e ultrapassámos o recorde de produção de raquetes por mês em outubro, com 1.013. Estamos a crescer de uma maneira sustentável, mas com os pés na terra, mostrando tudo o que de bom é feito em Portugal. É provável que sejamos em breve a primeira marca nacional de produtos de padel a ter um certificado de qualidade”, exultou Pedro Plantier, primeiro atleta luso a dedicar-se profissionalmente à modalidade.

Idêntico período de atividade apresenta a Volt, que Pedro Brito e Cunha lançou no Porto com uma “perspetiva de ir dando passos pequenos”, procurando “perceber se o projeto tinha tração no mercado para originar uma estrutura com algum peso à volta da marca”.

“Quando procurava uma raquete, tinha muita dificuldade em distinguir dentro de 20 ou 30 que as marcas ofereciam, pois os conceitos eram muito parecidos e as diferenças eram poucas. Tentámos ter uma gama fácil de entender, com coisas dentro da nossa imagem, através das quais consigamos acrescentar valor”, indicou o fundador e diretor-executivo.

A Volt preferiu “comunicar em inglês” e ter um “portefólio relativamente pequeno” para se diferenciar pelo “design bastante cuidado” e captar “o jogador que quer investir numa boa segunda raquete”, antes de viver uma “grande transformação” na pandemia de covid-19.

“Desde o início, um objetivo muito importante era termos uma representação mais global possível. Em 2021, obtivemos cerca de 700.000 euros de faturação, num crescimento de 300% face a 2020, e 85% de vendas por exportação. Falamos de 45 países, dentro dos quais existem alguns blocos mais relevantes, como o Médio Oriente, a Europa nórdica e central ou as Américas. Dois anos antes, as vendas no mercado nacional representavam entre 75% e 80% e estávamos em seis ou sete países”, comparou Pedro Brito e Cunha.

Patrocinador de Ana Catarina Nogueira, campeã nacional e número dois portuguesa no ‘ranking’ mundial, a Volt quer “alargar a sua internacionalização e concretizar o potencial de alguns novos mercados”, numa altura em que fechou 2022 com 1,3 ME de faturação.

Nasceu em Braga a primeira fábrica portuguesa de raquetes de padel em carbono

A empresa “subcontrata a produção” e lançou a sua primeira linha de roupa e acessórios para os praticantes de padel, tendência partilhada com os seus três concorrentes lusos, como a Globo, que usa “materiais recicláveis” em prol de “uma gama muito abrangente”.

“Aparecemos de uma forma forte e entrámos no mercado com cinco tipos de raquetes. A ideia era logo conseguirmos dar resposta para chegar a um maior número de pessoas, nessa perspetiva de que o padel é um desporto para toda a gente. O desafio sempre foi aliar a qualidade ao preço, sendo que as raquetes acabam por ter um valor superior ao nosso posicionamento médio a nível de preço”, disse o gestor comercial Hugo Terroso.

Inserida desde 2019 em Sintra, a Globo “exporta a um ritmo interessante” para a Europa, Angola, Emirados Árabes Unidos ou Chile, mas prioriza a consolidação da relação “entre clubes, treinadores e clientes dos clubes” nacionais para “chegar às mãos das pessoas”.

“Esse investimento tem de ser direcionado para as necessidades das pessoas. Não é por alguém se estar a iniciar que deverá ter mau equipamento, mas com características que façam sentido. O padel é um desporto de controlo e consistência. Se não tivermos uma raquete que nos ajude numa fase inicial e possa, depois, acompanhar a nossa evolução, pode gerar alguma frustração e condicionar o primeiro impacto”, advertiu Hugo Terroso.

 
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