É preciso recuar a maio de 2021 para encontrar dados que mostrem a albufeira do Alto Lindoso, em Ponte da Barca, com capacidade de armazenamento de água acima dos 60% de ocupação. Ao longo dos últimos 18 meses o ‘reservatório’ que serve a barragem de produção hidroelétrica do Alto Lindoso mostrou uma disponibilidade hídrica que variava entre os 15 e os 20% de ocupação, o que levou, já em 2022, a uma “indisponibilidade” hídrica para a produção de eletricidade, medida decretada pelo Governo face à seca severa, mas que apenas entrou em vigor no início do mês passado, já com a chegada das primeiras chuvas.
E se o nosso país e a própria Europa se encontra ainda a atravessar uma seca severa, para o Lindoso o milagre chegou e veio mesmo do céu. As chuvas que se têm feito sentir desde final de setembro, e que tornaram a região do Minho uma das mais chuvosas da Europa e, em algumas ocasiões, até mesmo do mundo, ajudaram a uma recuperação milagrosa, ‘atirando’ os níveis de água para os 56,9% em pouco mais de quatro semanas. No último dia de setembro, o armazenamento era de 22,3%, registando assim uma subida de 33 milhões de metros cúbicos no espaço de um mês. Em agosto, a água armazenada ocupava 18,4% da albufeira.
Este registo é do último dia do mês de outubro e foi publicado esta quinta-feira no Boletim de Armazenamento nas Albufeiras de Portugal Continental disponibilizado no portal do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH). A bacia do Lima, que era uma das que se encontravam em situação crítica, passou assim a ser uma das mais ‘aliviadas’ no país, onde 32 das 59 albufeiras monitorizadas tinham armazenamentos inferiores a 40% do volume total e apenas seis apresentavam valores superiores a 80%.
A Agência Portuguesa do Ambiente esclareceu que foi definido um limite mínimo de armazenamento em cada uma das barragens do país, e sempre que o nível estivesse a baixo desse limite, a produção de eletricidade é interrompida. Sempre que estiver acima, a mesma pode ser retomada em diferentes variações, conforme o novo volume armazenado.
No último dia do mês de outubro, e comparativamente ao mês anterior, verificou-se um aumento do volume armazenado em seis bacias hidrográficas e uma descida em seis. As bacias do Barlavento (com 9,1%) e Mira (35,1%) são as que apresentavam no final de outubro a menor quantidade de água armazenada, segundo dados do SNIRH.
As médias de armazenamento para o mês de outubro nas bacias do Barlavento e Mira são de 54,8% e de 67,8%, respetivamente. As bacias do Sado (36,3%), Arade (36,6%), Oeste (44,1%), Cávado e Tejo (47,1%) e Douro (47,2%) também apresentavam no final de outubro menor disponibilidade de água. Segundo dados do SNIRH, as bacias do Lima (56,9%), Guadiana (59,5%) e Mondego (62,6%) tinham os níveis mais altos de armazenamento no final do mês passado.
Os armazenamentos de outubro de 2022 por bacia hidrográfica apresentam-se inferiores às médias de armazenamento de outubro (1990/91 a 2021/22), exceto para as bacias do Lima e Ave. A cada bacia hidrográfica pode corresponder mais do que uma albufeira.
Com Lusa.