Concatenar o cancro da mama com a mulher é bastante lógico e há dados que o suportam. Mas isso não significa que os homens escapem ao risco, sobretudo quando existe traço genético da doença. No hospital de Braga, a média atual é a de um caso masculino por cada 100 mulheres que fazem tratamento ao cancro da mama, resultando numa média, por ano, de 2 a 3 casos por entre as 250 pessoas seguidas naquela unidade hospitalar.
A propósito do Dia Mundial do Cancro da Mama, assinalado esta quarta-feira, O MINHO ouviu , sobre esta matéria, Maria José Rocha, assistente graduada de Ginecologia Obstetrícia com pós-graduação em Senologia (a área que estuda a glândula mamária), e uma das mais experientes especialistas na região no que diz respeito ao cancro da mama.
Maria José Rocha explica que os homens não participam nos habituais rastreios promovidos pela Liga Portuguesa Contra o Cancro (Liga), fazendo apenas exames de rotina, mas existem exceções. Quando é identificado um homem com registo genético da doença, é “enviado” para consulta de forma a vigiar eventuais sinais ou alterações nas glândulas mamárias e ao seu redor.
A médica recomenda a todos os homens para que “estejam atentos a algum nódulo que eventualmente apareça, ou alguma alteração do contorno da mama”, mas descansa-os, relembrando que tais situações são muito raras.
Mesmo assim, Maria José Rocha lança o desafio: “Homens, não tenham vergonha nem medo” de pedir um rastreio ou de consultar o médico de família sobre este tema.
Estes são, aliás, os mesmos apelos que se fazem aos elementos do sexo feminino: estar alerta e falar com os médicos caso notem alguma alteração mamária.
Os conselhos relativamente à prevenção também são similares, com única exceção no ato da amamentação, uma vez que será benéfico e é uma das pequenas barreiras para o surgimento de tumores, mas só as mulheres o podem fazer.
Assim, Maria José Rocha desaconselha o uso de bebidas alcoólicas e de hábitos tabágicos, promovendo a prática de exercício físico regular e de peso adequado, até porque “a gordurinha não é nada boa”.
Consultada por O MINHO, a Liga Portuguesa Contra o Cancro apresenta dados que dão uma média a nível nacional similar com a de Braga: um caso masculino a cada 100 femininos.
Americanos associam cancro da mama masculina ao envelhecimento, doenças de fígado e trabalhos com períodos longos de exposição a temperaturas elevadas
A nível internacional, o MINHO consultou a American Cancer Society, que colocou ainda “em cima da mesa” o envelhecimento como um “importante fator de risco para o desenvolvimento de cancro da mama nos homens, já que o risco aumenta à medida que o homem envelhece”.
Segundo a mesma sociedade internacional, um em cada cinco homens com cancro da mama tem um familiar próximo que padece do mesmo sintoma. Os genes BRCA (1 e 2), sofrem mutações e aumentam o risco do cancro da mama.
Outro fator de risco é o síndrome de Klinefelter, uma doença congénita em que os testículos do homem não desceram para a bolsa, o homem possui um cromossoma X a mais e têm um crescimento anormal da mama.
Doenças hepáticas também são cogitadas como podendo contribuir para o cancro da mama nos homens, uma vez que a cirrose baixa a hormona sexual masculina, aumentando os níveis de estrogénio (hormona sexual feminina), levando ao crescimento da mama, aumentando, dessa forma, o risco de cancro naquele local.
Aquela sociedade aponta ainda algumas profissões, como é o caso de metalurgia, onde a exposição a temperaturas elevadas por longos períodos pode afetar os testículos, que por sua vez afetam os níveis hormonais. Também a exposição a vapores de gasolina parece levar a um maior risco de cancro da mama nos homens, pelo menos nos norte-americanos.
Famosos com cancro da mama
Nos Estados Unidos, alguns homens com influência mediática assumiram ter passado por essa condição, como é o caso do apresentador de ‘talk-show’ e ator Montel Williams, do apresentador e locutor de rádio Rod Roddy ou do ator Richard Roundtree, que imortalizou o detetive privado “Shaft” na cultura americana e internacional.
O que é a mama?
Segundo a Liga, a mama “é uma glândula que pode produzir leite”, assente “nos músculos peitorais que cobrem as costelas” e encontra-se dividida em 15 a 20 lobos, que contêm lóbulos, que por sua vez possuem pequenas glândulas que produzem leite, que flui através dos ductos até ao mamilo (centro de uma área escura de pele, a aérola). No meio disto tudo está gordura, que condiciona o funcionamento do ‘mecanismo’ matural.
Gânglios linfáticos também estão presentes nos homens
A mama também possui vasos linfáticos que transportam linfa, um líquido lípido que abastece os gânglios linfáticos, muitas vezes encontrados perto da mama, debaixo do braço, clavícula, peito e em outros locais do corpo. Esses gânglios podem reter células cancerígenas, para além de bactérias ou outras substâncias malignas, e podem surgir tanto em homens como em mulheres.
Quando vão ao rastreio já é tarde
Ainda segundo a American Cancer Society, agora citada pela CUF, “a deteção precoce do cancro da mama nos homens é difícil, pois estes tendem a ignorar caroços/nódulos que surjam no peito (ou sentem-se constrangidos em abordar esse tema)”.
“Geralmente, só consultam o médico e são diagnosticados quando o cancro da mama já se encontra num estado avançado – o que também está relacionado com o facto de os homens terem menos tecido mamário, o que faz com que o cancro, apesar de normalmente ser de menor dimensão do que no caso das mulheres, se dissemine mais rapidamente para as áreas circundantes”, alerta o organismo.