Três anos depois, Valença e Tui voltaram a trocar cruzes pascais. Ao fim de dois anos interrompiada por causa da pandemia de covid-19, a tradição secular atraiu uma multidão às margens do rio Minho, mais concretamente no embarcadouro de Cristelo Covo, em Valença, e no Cais de Sobrado, em Tomiño.
Assim, o pároco português, com a Cruz Pascal, dirigiu-se, num barco de pesca, à margem espanhola onde deu a cruz a tocar (devido à pandemia não deu a cruz a beijar). Do lado espanhol, saiu um barco com o pároco de Sobrado – Torron, trazendo a cruz ao lado português. Várias embarcações, portuguesas e galegas, acompanharam este compasso pascal, numa autêntica procissão fluvial, nas águas do Minho.
No final os pescadores lançam as redes abençoadas ao rio e todo o peixe que sair no lance é para o pároco.
Neste dia, o Santuário da Senhora da Cabeça, em Cristelo Covo, e o Cais de Sobrado – Torron, em Tomiño, são recintos de uma autêntica romaria galaico-minhota que decorre sempre na segunda-feira imediata ao fim de semana da Páscoa.
José Manuel Carpinteira, presidente da Câmara de Valença, citado em comunicado, mostrou-se muito satisfeito por ver uma multidão de pessoas, em ambos lados do rio Minho, garantindo que gostaria de ver esta tradição, muito acarinhada pelas duas populações, classificada como Património Imaterial Nacional.
O Lanço da Cruz é um dos pontos altos dos festejos em honra de Nossa Senhora da Cabeça – que decorrem naquela localidade minhota -, e que juntam milhares de peregrinos dos dois países durante o período da Páscoa.
Símbolo do bom relacionamento transfronteiriço, a travessia do compasso pascal cumpre-se sempre às 17:00, depois de o pároco Eugénio Silva dar a cruz a beijar na paróquia onde foi colocado em 2012.
A tradição “perde-se nos tempos” e pouco tem mudado, mandando que, “a meio do rio, se lancem as redes para apanhar peixe”, enquanto “estouram foguetes e se ouve o ribombar dos grupos de bombos”, contou.
Mais recente é a visita do pároco de Sobrado, na Galiza, a Cristelo Côvo, que acontece desde meados dos anos noventa.
Manda a tradição que o rio se encha de pequenas embarcações e, durante o tempo em que a cruz é dada a beijar, os pescadores locais lancem as redes, devidamente benzidas. Mas o produto da pescaria reverte para o pároco de Cristelo Côvo como antigamente.
O pescado, sobretudo lampreia, é utilizado para uma confraternização da comissão de festas, uns dias depois da Páscoa.
À noite realiza-se a procissão de velas, que sai da igreja paroquial para o parque de Nossa Senhora da Cabeça e, na terça-feira, às 10:30, realiza-se nova procissão com o mesmo itinerário, mas este ano com menos figurantes.