A tradição voltou a ser o que era. Após dois anos em que as celebrações pascais de Fiscal, na freguesia de Amares, não saíram à rua face às limitações provocadas pela pandemia, este ano voltou-se a cumprir a tradição da emersão das barcas do rio Homem, que vão servir para, na próxima segunda-feira de Páscoa, unir as duas margens com a travessia do compasso.
Este ano há uma novidade. Ou melhor, até são quatro. Depois de constatarem, já antes da pandemia, que algumas das barcas que ficam durante cerca de 350 dias submersas no rio, não se encontravam nas melhores condições, a Junta de Fiscal – de onde é natural o popular músico António Variações – decidiu investir cerca de 20 mil euros para a construção de quatro novos barcos.
Na segunda-feira de Páscoa, os mordomos e respetivos compassos (acompanhados da comunicação social) vão atravessar o rio nas barcas, para unir os lugares de São Pedro e São Bento.
Em declarações a O MINHO, o presidente da Junta, Augusto Macedo, explica que os barcos ficam guardados no fundo do rio durante quase todo o ano para impedir que a madeira, feita de pinheiro manso, seque, levando a que, afirma, durem mais tempo. É, aliás, a única “forma segura” de impedir que se abram rasgos no casco, devido ao impacto que o sol tem na madeira.
Os barcos foram, como também manda a tradição, construídos por um carpinteiro da freguesia, que, através da madeira do pinheiro, alguns arames, pregos e outro material – para a colagem -, não negligencia a tradição da construção deste que era o único meio daquela população se encontrar ao longo de todo o ano, quando ainda não existiam pontes nas redondezas.
É que, apesar de ter sido construída uma ponte há vários anos, a freguesia continuou a usar este meio para atravessar as ‘cruzes’ pascais nesta altura.
Embora se trate de uma tradição religiosa, compete à Junta de Freguesia assegurar a manutenção dos barcos, que são sua propriedade, bem como fazer o investimento necessário para os recuperar, como foi o caso deste ano.
E a tradição em Fiscal cumpre-se, não no domingo de Páscoa, mas na segunda-feira seguinte. A isso deve-se o facto de o anterior pároco, entretanto falecido, ter mais do que uma paróquia a seu encargo. Como o compasso de Fiscal tinha esta particularidade que diferia das outras paróquias, o padre resolveu mudar as celebrações naquela freguesia para a segunda-feira, algo que se vincou também como uma tradição.
A Páscoa celebra-se, este ano, a 17 de abril.