Com mais de 180 anos de história, Casa Valença encerra e deixa saudade em Viana

Devido à idade avançada dos proprietários
Foto: Olhar Viana do Castelo

A Casa Valença, um dos mais antigos e emblemáticos estabelecimentos de Viana do Castelo, encerrou no passado dia 30 de novembro, após quase 182 anos de atividade, devido à idade avançada dos proprietários, disse a O MINHO fonte da família.

António Valença tem 91 anos e a esposa Rosa Costa Lima, 83. “É uma vida inteira de trabalho”, realça a fonte, acrescentando que na família ninguém decidiu dar continuidade a um negócio que “já há muitos anos” não era o que foi em tempos, sobretudo, diz, após o fecho da Praça da República ao trânsito.

Assim, no dia 30 de novembro, as chaves foram entregues ao proprietário do edifício, a Congregação da Nossa Senhora da Caridade. Mas só há poucos dias, após uma publicação no grupo de Facebook Fotografias de Viana do Castelo, o encerramento se tornou do conhecimento geral, levando muitos vianenses e não só a lamentar, nas redes sociais, o fim da mítica loja, que começou por vender tecidos e alfaiataria e, presentemente, comercializava artesanato regional.

Foto: Jorge Meira / Grupo de Facebook Fotografias de Viana do Castelo

“É um dos mais antigos e emblemáticos estabelecimentos comerciais de Viana do Castelo que deixa saudades”, escreveu o blogue Olhar Viana do Castelo, onde O MINHO consultou a história da Casa Valença, através de um texto retirado do livro “Acontecimentos que Viana Sentiu II”, de António Carvalho.

Fundada a 07 de maio de 1839

A Casa Valença, implantada na Praça da República, foi fundada em 07 de maio de 1839, por Francisco de Passos Oliveira Valença, tendo-se constituído um autêntico “ex-libris” do comércio vianense.

A Casa Valença apareceu inicialmente como loja de panos no rés-do-chão e alfaiataria no 1.° andar. Em 1912, acrescentou ao estabelecimento a agência da Companhia de Seguros TAGUS.

Contudo, refere a obra, “o que começou a tornar esta casa comercial de singular e a dotá-la de grande popularidade no burgo, foi o funcionamento como ponto de reunião, especial centro de tertúlia das figuras mais representativas da terra”.

Nos inícios do século XX, foi o filho do fundador, João de Passos Oliveira Valença, quem passou a administrar o estabelecimento comercial, reforçando, cada vez mais, a sua frequência como centro de tertúlia dos mais altos valores do Alto Minho, principalmente do campo das letras, da política, do jornalismo, da magistratura e do professorado. O autor do livro cita como exemplos Luís Xavier Barbosa, Guerra Junqueiro, Conselheiro Malheiro Reimão e Domingos Terroso.

Segundo a obra “Acontecimentos que Viana Sentiu II”, João de Passos Oliveira Valença tornou-se uma “personalidade profundamente empenhada na vida social da cidade, principalmente no que concerne às instituições de solidariedade social”, tendo feito por 25 anos parte da Mesa da Administração do Hospital de Velhos e Entrevados (atual Congregação da Caridade).

Foto: Olhar Viana do Castelo

João de Passos Oliveira Valença faleceu em 19 de Novembro de 1939, passando a gerência da Casa Valença para o seu primo e até aí empregado, Augusto Esteves da Silva Valença, classificado como “conceituada figura dotada de inteligência perspicaz que, devido à sua pequena e frágil estatura física, ficaria popularmente conhecido por ‘Valencinha'”.

O estabelecimento deriva então para fazendas, camisaria e artigos diversos do vestuário masculino e, ainda, agente da Companhia de Seguros “A Mundial”.

“Carisma de estabelecimento invulgar e pitoresco”

Na obra lê-se que, sob a gerência de Augusto Valença, a já então muito prestigiada Casa Valença começou gradualmente a granjear um carisma de estabelecimento invulgar, de certa maneira extraordinário e também algo pitoresco.

“Tornou-se cada vez mais afamada principalmente por expor na sua montra aberta para a Praça da República, duas espécies de coisas raras que até aí nunca ninguém na cidade tinha tido a faculdade de patentear. Uma era constituída pelas quadras-gazetilhas compostas pelo próprio Augusto Valença, plenas de atualidade e sempre impregnadas de todo um sabor pitoresco e mordaz, que narravam com oportunas críticas em verso, certos acontecimentos da comunidade, determinadas tomadas de posição das entidades oficiais, estranhas bizarrices que surgiam no dia-a-dia, as sempre gravosas dificuldades da vida etc. A outra, ainda mais popular e curiosa, eram os esquisitos e excêntricos exemplares de batatas, nabos, tomates e outros produtos agrícolas, que pelo seu aspeto estrambólico e caprichoso, constituíam ‘autênticos fenómenos’ da Natureza, vulgarmente ditos do ‘Entroncamento'”, refere a publicação.

Após a morte de Augusto Valença, ocorrida em 30 de dezembro de 1975, a Casa Valença passou para o filho António de Castro Valença – “vianense bem conhecido e respeitado na cidade” -, que geriu o estabelecimento até ao seu encerramento.

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