Por que temos de despedir ou recorrer ao lay-off?

Opinião
Por que temos de despedir ou recorrer ao lay-off?

Por que temos de despedir ou recorrer ao lay-off?

ARTIGO DE RICARDO COSTA

Gestor. CEO Grupo Bernardo da Costa. De Braga.

O meu nome é Ricardo Costa e sou CEO do Grupo Bernardo da Costa. Um grupo de empresas familiar que nasceu em Braga no ano de 1957 e conta já com membros da sua terceira geração na gestão do negócio. Temos 164 pessoas a trabalhar connosco, 82 das quais em Portugal.

Talvez já tenham ouvido falar de nós quando em 2017 fomos a primeira empresa em Portugal a criar um Departamento da Felicidade, que como o nome indica procura criar condições para que as pessoas que trabalham connosco sejam mais felizes.

Também fomos notícia nos momentos em que oferecemos viagens à nossa equipa (ou um salário extra às pessoas que por algum motivo não podiam viajar). Juntos estivemos em Punta Cana, passamos por Cuba, México, Jamaica e por último Cabo Verde. Este ano, entre os dias 9 e 16 de Junho, estava previsto irmos todos ao Egito.

O que me leva a escrever este texto é a profunda desilusão com as medidas adotadas pelo governo para fazer face à crise económica que começa a surgir e que seguramente se vai agravar, em consequência da pandemia da COVID-19, que é já a maior crise sanitária da nossa geração.

Quando analisamos as medidas e a sua aplicação na prática ficam-nos na memória essencialmente 3 palavras – desemprego, lay-off e endividamento.

Com exceção de alguns setores muito específicos, como a restauração, hotelaria, agências de viagem, etc. que tiveram quebras na ordem dos 80 a 90% de faturação e onde o lay-off imediato é de facto uma medida importante (desde que devidamente operacionalizado e flexibilizado), em outros setores, como a indústria, o comércio e os serviços que estejam ou venham a sofrer uma redução das encomendas ou faturação entre 20 a 40%, não entendo este incentivo e apoio do governo para que as empresas suspendam a atividade e os contratos de trabalho.

Sim, sou completamente contra a redução em 33% dos salários das pessoas, quando todos sabemos que muitas famílias com os rendimentos atuais já mal conseguem suportar as despesas do dia-a-dia.

Alguém já pensou na espiral recessiva que esta medida vai ter a médio prazo? Como vai ser a reintegração de milhares de pessoas depois de estarem 3 a 6 meses sem qualquer atividade profissional? Como vão aguentar estar em casa com um sentimento de inutilidade durante todo este tempo e qual vai ser o seu estado mental e psicológico?

E o que devia então fazer o governo?

Muito simples – criar um conjunto de medidas de apoio às empresas que mesmo tendo uma redução da faturação entre 20 a 40%, mantivessem atividade e não diminuíssem em mais de 5% o número de pessoas ao serviço durante este período de crise.

Entre estas medidas destaco como prioritárias a isenção das contribuições para a TSU até ao final de 2020, a isenção da taxa de IRC relativo a 2019, a eliminação dos Pagamentos Especiais por Conta durante o ano de 2020 e moratória nos pagamentos de IVA e IRS até ao final do ano, sendo esse valor pago em 36 prestações mensais sem juros a partir de Janeiro de 2021.

Podia ir mais longe e sugerir que o estado suportasse uma parte dos salários dos trabalhadores na mesma proporção da redução da faturação e mesmo assim estas medidas teriam de certeza menos impacto no orçamento de estado que o lay-off simplificado e o pagamento dos subsídios de desemprego que a segurança social vai ter de pagar já a partir de Abril.

Com estes apoios o governo conseguia por um lado garantir que a economia continuava a funcionar, e por outro lado incentivar a que as empresas se reinventassem e se adaptassem à nova realidade económica.

No nosso caso, mesmo sem qualquer medida efetiva de apoio por parte do governo e seguindo uma filosofia que sempre colocamos em prática no que se refere à importância da mudança e da adaptação, estamos já a reinventar e inovar processos, serviços e produtos. Admitimos já durante o mês de Março novos estagiários e renovamos vários contratos de trabalho, mesmo com as pessoas que passavam a efetivos. Também conseguimos antecipar alguns aspetos positivos desta crise como são o desenvolvimento e disseminação do teletrabalho que permite a flexibilização dos horários, a redução do tráfego para entrar/sair nas cidades, as melhorias ambientais e sociais e a utilização das ferramentas informáticas. Tudo isto permite atingir mais facilmente um dos objetivos do nosso departamento da felicidade – Atingir o equilíbrio perfeito entra a vida pessoal e profissional.

Sinto um orgulho enorme em perceber que tudo o que “investimos” nas pessoas ao longo de todos estes anos está agora, neste momento tão difícil, a ter o retorno esperado. A nossa equipa está mais unida do que nunca e a adaptar-se todos os dias para conseguir vencer.

Sempre afirmei que as empresas não são feitas de pessoas, as empresas são as pessoas. Nunca este sentimento fez tanto sentido. O governo não pode incentivar a que de um momento para o outro essas mesmas pessoas vejam reduzido em 1/3 os seus rendimentos.

À minha equipa eu digo que vou lutar todos os dias para que o desemprego ou o lay-off nunca sejam uma opção. E sim, iremos continuar a pagar os salários e prémios a todos os que sempre estiveram ao nosso lado.

Ricardo Costa

 
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