Eleito em 2021 pela coligação PSD, CDS e Barcelos-Terra de Futuro, Mário Constantino Lopes retirou o poder ao PS, que há 12 anos liderava a Câmara de Barcelos.
Cerca de dois anos e meio após a eleição, garante que “não tem havido quaisquer dificuldades” com os parceiros da coligação.
O social-democrata afirma já ter “arrumado a casa” e começado a cumprir o “programa eleitoral”. E apesar de ter apresentado “um projeto a concretizar a dez anos”, sublinha que já foi feito “muito” do que tinha sido proposto.
O acordo com a Águas de Barcelos e o arranque das obras do fecho da circular urbana foram medidas de “importância excecional para a vida do Município e dos barcelenses”.
Em relação à construção do novo hospital, mostra-se “otimista, mas prudente”, destacando que a Câmara já tem os terrenos “garantidos”.
Novos parques subterrâneos para estacionamento pago poderão ser uma realidade, mas Mário Constantino garante que “o Campo da Feira vai continuar a ser o maior parque de estacionamento gratuito do país”.
Nesta grande entrevista a O MINHO, publicada em dia de feriado municipal, o presidente da Câmara fala ainda sobre o desafio da habitação social, o ponto de situação do Mercado Municipal, a ecovia do Cávado, a criação da Polícia Municipal e o desejo de construir um “grande Centro das Artes”.
A nível regional defende o avanço para uma Grande Área Metropolitana no Minho.
No plano nacional, entende que se o primeiro-ministro, Luís Montenegro, garantiu não fazer acordos com o Chega deve manter a promessa, mas ressalva que “situação bem diferente é haver votações parlamentares em que o sentido de voto coincida”.
Balanço dos primeiros anos de mandato
O MINHO (M): Que balanço faz destes mais de dois anos de mandato?
MÁRIO CONSTANTINO LOPES (MCL): Entendo que o balanço da atividade deste Executivo é bastante positivo. Depois de termos arrumado a casa, iniciamos o cumprimento do nosso programa eleitoral, de acordo com o compromisso que tínhamos feito com os barcelenses. Se bem se lembra, apresentamos um projeto a concretizar a dez anos, mas, no período que levamos de mandato, já fizemos muito do que tínhamos proposto.
A estratégia que seguimos obedeceu à seguinte metodologia: organizar, planear, concretizar. E é isso que temos vindo a fazer, com os resultados que estão à vista. Se me pergunta se desejávamos fazer mais, a resposta é: queremos fazer mais. Mas, face à situação que encontramos, com uma completa ausência de planeamento, julgo que temos vindo a desenvolver um bom trabalho.
Coligação na câmara
M: Sendo este um executivo de uma coligação com três forças, como tem sido a gestão política? A coligação é para manter nas próximas eleições autárquicas?
MCL: É interessante essa pergunta, porque, se quer que lhe responda com sinceridade, no dia a dia da gestão municipal, nem sequer me apercebo que este executivo resulta de uma coligação. Ora, isto quer dizer que não tem havido quaisquer dificuldades pelo facto de sermos de partidos e movimentos diferentes. E isto acontece porque, estando definidas prioridades, os senhores vereadores exercem os seus mandatos com liberdade e com inteira responsabilidade. De resto, assim teria de ser, tanto por uma questão de princípio, como também pela minha maneira de ser e forma de estar na política. Liderar é saber dar autonomia e saber corresponsabilizar. É assim que tenho feito e tudo tem corrido bem. Quanto à segunda parte da questão, como deve compreender, não seria cordial eu anunciar uma decisão que é uma decisão coletiva e que será sempre apresentada em tempo oportuno.
“Investimento na rede viária é o maior de sempre”
M: O fecho da circular urbana e o acordo da água foram as maiores realizações deste executivo?
MCL: Esses dois dossiês constituem, de facto, uma importância excecional para a vida do Município e dos barcelenses. Mas são dois assuntos muito distintos. No caso do acordo com a empresa Águas de Barcelos, nós agimos em situação de extrema necessidade, como aliás o Tribunal de Contas fez questão de referir na decisão de Visto favorável ao acordo. Se me permite, vou ler o que o Tribunal de Contas disse, para que fique bem claro a situação que tivemos de resolver. Passo a citar: “O que se visa é a reposição do equilíbrio económico do próprio Município para evitar a sua insolvência. É essa a finalidade da modificação, e alteração do prazo, do contrato de concessão”, e mais adiante o Tribunal de Contas acrescenta: “O Município, em verdadeiro estado de necessidade, recorre à alteração do contrato para evitar a sua insolvência e as gravíssimas consequências que tal acarreta”.
Portanto, sob o cutelo de uma sentença indemnizatória de 214 milhões de euros que, já em execução, e na iminência da falência do Município, imaginará o sr. jornalista, a urgência, o encargo e o peso da responsabilidade que tínhamos sobre nós. Graças a Deus que, com o empenho e o esforço que colocamos nas negociações do acordo, conseguimos resolver esse dramático problema que o Partido Socialista criou e cuja solução adiou durante mais de dez anos.
Quanto ao processo de construção do fecho da Circular Urbana é, de facto, uma grande obra e estou muito feliz por estarmos a cumprir esse nosso compromisso eleitoral. Trata-se é de uma obra decisiva para a mobilidade daquela zona, mas com reflexos em toda a malha urbana, porque vai permitir desbloquear, em termos de trânsito, uma situação que é cada vez mais aflitiva e conflituante, e que perdura há mais de 20 anos. Barcelos esperou mais de 20 anos para que se fizesse o fecho da Circular. Finalmente, estamos a cumprir um dos nossos desígnios, numa obra que, em termos de investimento público em rede viária, é a maior de sempre do orçamento camarário.
O acordo da água
M: Em relação ao acordo da água, os barcelenses têm sentido os aumentos tanto na fatura sobretudo nos serviços. Há muitos barcelenses revoltados com os aumentos. Esta subida dos preços era inevitável?
MCL: Ainda bem que me coloca essa questão, porque à volta deste assunto tem havido um aproveitamento político e mediático que eu considero desleal e demagógico. Em primeiro lugar, eu quero dizer que percebo, e percebo muito bem, que a atualização do tarifário tenha impacto no bolso das pessoas e das famílias. Todavia, e como acima já referi, é saber porque é que houve a necessidade de chegarmos a um acordo global, em que o tarifário é apenas um dos pontos desse acordo. E saber quem nos levou até aí. Eu vou ser muito claro: se o Partido Socialista, logo que tomou posse, em 2010, tivesse cumprido o contrato que estava em vigor com as Águas de Barcelos, em vez de arrogantemente ter entrado num conflito judicial que perdurou mais de 11 anos, acha que seria necessário fazer esta atualização dos preços extraordinária? Perceba-se que a Câmara Socialista não só foi condenada em Tribunal em 214 milhões de euros, como durante esses 11 anos não cumpriu a atualização dos preços, conforme a lei exige. Ou seja, o que podemos concluir é que alguém que tinha um tinha um projeto político pessoal, para garantir o sucesso desse projeto, não se importou de criar problemas em cima de problemas e de varrer para debaixo do tapete todas as decisões que deveriam ser tomadas. O que é curioso, e por isso eu lhe disse que há aproveitamento desleal e oportunista, é que os mesmos que criaram uma dívida monstruosa de 214 milhões de euros, cavalguem agora a onda do problema de que eles próprios são responsáveis.
Finalmente, deixe-me dizer-lhe, uma vez mais, que entendo perfeitamente a inquietação e reação das pessoas. Mas também lhe digo, e o sr. jornalista pode facilmente verificar isso, que nós tivemos a preocupação de, no 1.º escalão, até 10m3, onde está a maioria dos consumidores (73%), dizia eu, tivemos a preocupação de que os preços não fossem mais do que a média dos preços dos concelhos da zona norte. E se, como lhe disse, quiser comparar, vai verificar que face ao preço praticado em quarenta concelhos da zona norte do nosso país, o preço do serviço de água e saneamento em Barcelos até está abaixo dessa média. Perguntar-me-á: mas se assim é porque é que as pessoas se queixam? E a resposta é óbvia: por que tivemos de atualizar as tarifas debaixo de uma condenação herdada de 214 milhões e sem serem atualizadas durante 12 anos. O que importava era ganhar eleições; os problemas foram varridos para debaixo do tapete e quem viesse atrás que os resolvesse. E o resultado foi o que se viu. E deixo-lhe mesmo só mais uma nota de grande importância: se o acordo que a Câmara PS fez em 2018 com a empresa Águas de Barcelos tivesse sido concretizado, o valor das tarifas seria muito mais elevado. Isto é indesmentível e o PS sabe bem o que fez.
M: A recolha dos resíduos também aumentou. Como explica estes aumentos aos munícipes que os sentem no bolso?
MCL: A atualização da tarifa do serviço de recolha e tratamento de resíduos urbanos advém de uma razão completamente diferente da água e do saneamento.
Com efeito, os aumentos verificados radicam do facto de a ERSAR – Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos ter fixado, para 2024, o preço de tratamento de resíduos na Resulima em 68.07 euros a tonelada, quando antes era apenas 7.88 euros a tonelada. Ou seja, um aumento de 60 euros por cada tonelada de resíduos. E, como se não bastasse, a TGR – Taxa Geral de Resíduos, que é bom que se saiba que é um imposto do Estado Central, passou de 22 euros a tonelada para 30 euros/tonelada. Ora, estes aumentos exorbitantes tiveram impacto nas tarifas, não só em Barcelos, mas em todos os municípios que utilizam a Unidade da Resulima para depositarem os seus resíduos urbanos.
Esta é, portanto, a principal razão da atualização do preço do serviço. No entanto, também importa dizer que esta tarifa esteve dez anos sem ser atualizada, mas mesmo assim posso garanti-lo, Barcelos tem, com exceção de Braga, o preço mais baixo dos municípios nossos vizinhos.
Isto acontece porque, para que os preços não subissem ainda mais, nós tomamos a decisão de ser o Município a suportar cerca de 60% do custo do serviço de recolha, afetando para esse efeito uma verba a rondar os 4 milhões de euros/ano. Em síntese, sim, é verdade que os barcelenses sentem um aumento no custo do serviço de resíduos, o aumento tem impacto nas famílias, mas desse aumento nenhum valor é para o Município, vai todo e não chega para pagar o tratamento dos lixos na Resulima e para o Imposto do Estado.
“Mercado Municipal não pode abrir, porque tem lacunas ao nível da operacionalidade”
M: No aterro de Paradela, as populações ao redor queixam-se do mau cheiro. A Câmara chegou a pedir esclarecimentos à Resulima sobre o assunto. Qual o ponto de situação, está resolvido? A Câmara continua a acompanhar o processo?
MCL: Sim, temos vindo a acompanhar esse problema, temos exigido ao Conselho de Administração que implemente as medidas que foram preconizadas num estudo elaborado por uma universidade para minimizar os maus odores e inclusive no âmbito da Assembleia Municipal foi criada uma comissão específica – a Comissão de Acompanhamento para o setor dos Resíduos Sólidos Urbanos – que tem junto de várias entidades desenvolvido um trabalho de proximidade e sensibilização para a resolução do problema.
M: Qual o ponto de situação das obras de requalificação Mercado Municipal? Quando irá reabrir?
MCL: A empreitada, iniciada ainda no tempo da Câmara do Partido Socialista, já está concluída e paga. Acontece que pelo facto de a obra ter sido lançada a concurso sem revisão do projeto, apesar da obra estar concluída, o Mercado não pode abrir. Não pode abrir, porque tem lacunas ao nível da operacionalidade e porque não obedece ao estipulado na legislação. Verificados esses problemas, tomamos a iniciativa de mandar elaborar um projeto complementar, lançamos o concurso, mas infelizmente não houve concorrentes. Sendo assim, está em curso uma nova fase de procedimento, para que esta empreitada complementar volte a ser colocada em concurso público.
Novo hospital? “Otimista, mas prudente”
M: Em abril, pouco antes de deixar o Governo, o anterior ministro da Saúde emitiu um despacho em que reconhece a construção de um novo hospital em Barcelos. Está confiante que é desta que Barcelos vai ter mesmo o novo hospital?
MCL: Eu estou otimista, mas tenho de ser prudente nesse meu otimismo. Repare, desde julho de 2007, que o Ministério da Saúde e a Câmara de Barcelos têm assinado um protocolo para a construção do novo Hospital de Barcelos. Nesse documento previa-se que o Novo Hospital de Barcelos estivesse concluído até 2012. Veja, este assunto esteve sem qualquer avanço significativo até 2022, ou seja, mais de 15 anos, tendo sido recolocado na agenda política desde que tomamos posse. Perante este histórico, talvez se entenda que o meu otimismo seja prudente. O que lhe posso garantir é que esse dossiê continuará a ter prioridade máxima na nossa gestão municipal.
M: Quais são os passos que a Câmara agora tem que dar para que haja novo hospital? Os terrenos já estão comprados?
MCL: Os terrenos estão garantidos, da nossa parte tudo está pronto para que o Estado possa avançar com os concursos para a elaboração do projeto e depois para a empreitada de construção. Entretanto, nós até já temos aprovado o estudo prévio da construção das acessibilidades e, portanto, só esperamos que o Governo dê luz verde à concretização deste importante equipamento de Saúde para o nosso concelho e para o concelho de Esposende.
M: Tendo em conta que o novo governo é da mesma cor política que a Câmara, acredita que o processo irá avançar mais rapidamente (mais ainda depois das palavras de Luís Montenegro, em reposta à intervenção do Sr. Presidente, aquando da sua passagem por Barcelos em comício)?
MCL: Não vejo a questão por esse prisma. Como sabe, quando cheguei à Câmara Municipal o Governo de Portugal era socialista e nós demos passos significativos que até levaram o ex-ministro da Saúde a assinar, dias antes da saída, o despacho de aprovação do conteúdo funcional do futuro Hospital. Por outro lado, a anterior Câmara era socialista, conviveu com um governo socialista durante muitos anos e, nesse período, não se deu nenhum desenvolvimento neste dossiê. Portanto, o que eu acho é que nós temos de continuar a fazer o nosso trabalho. Explicar, insistir, persuadir, convencer que o novo Hospital de Barcelos é de extrema necessidade para satisfazer os cuidados de saúde da nossa população.
“A obra da ciclovia está concluída”
M: A ciclovia foi uma obra que causou bastante polémica, tendo o projeto até que ser revisto após críticas dos cidadãos. Já se circula na ciclovia, mas o projeto ainda não foi inaugurado. As obras já estão concluídas? O que falta?
MCL: A obra da ciclovia está concluída, faltando apenas fazer algumas pinturas no pavimento que não puderam ser feitas por causa das condições climatéricas, pois exigem um determinado período de tempo sem chuva.
Sobre a polémica, eu penso que a mesma foi alimentada artificialmente por determinadas pessoas cujos desejos pessoais e agendas mediáticas se sobrepõem ao interesse coletivo e ao desenvolvimento da cidade e do concelho. Não sei se reparou, mas primeiro exigiam a construção rápida da ciclovia, depois que ia estrangular o estacionamento e o trânsito, anunciaram o caos. E o que vemos? Esvaziado o balão da demagogia, a obra está pronta e o trânsito flui como antes fluía.
Relativamente à supressão de alguns troços, essa supressão foi uma decisão política nossa, pois verificámos que não tinha havido, aquando do lançamento do projeto, o cuidado de colmatar e arranjar alternativas para os lugares de estacionamento que iriam ser suprimidos.
Polícia Municipal em Barcelos?
M: Tinha dito que Barcelos poderia ter Polícia Municipal até ao final do ano. O andamento do processo dá-lhe confiança que isso aconteça mesmo em 2024?
MCL: Depois de termos aprovado na Câmara e na Assembleia Municipal a criação da Polícia Municipal, o Governo demorou bastante tempo até dar o seu despacho que concretizou o nosso pedido. Fê-lo já depois de ter entrado em período de gestão. O próximo passo será o recrutamento de agentes, um recrutamento a ser feito por procedimento concursal e mobilidade interna. O nosso objetivo é que a efetivação da Polícia Municipal seja feita logo que todos esses procedimentos estejam concluídos.
Estacionamento na cidade
M: Também disse, em março, que a nova polícia poderá ficar com a fiscalização do estacionamento regulado por parcómetros, caso este serviço não seja concessionado a privados, mas que era uma decisão que o executivo ainda ia tomar. Já está tomada?
MCL: A gestão dos parquímetros será feita pela PSP até que a Polícia Municipal seja uma realidade no terreno. A informação que foi prestada à Lusa dizia respeito às possibilidades que se possam colocar, aquando da construção de novos parques subterrâneos, sendo que ainda nada está definido a esse respeito.
M: Adiantou igualmente que o município se prepara para criar novas zonas de estacionamento pago, para fomentar “alguma rotatividade”. Onde serão essas zonas? E não acha que isso vai penalizar as muitas pessoas que trabalham na cidade?
MCL: Para que a nossa cidade seja mais competitiva, é necessário que haja regulação do estacionamento. A atividade comercial sai muito prejudicada, e isso é constantemente dito pelos comerciantes, com a falta de rotatividade nos lugares disponíveis para estacionar. O que pretendemos é que haja um equilíbrio entre a oferta e a procura, mas para isso temos mesmo de implementar um plano global de estacionamento tarifado, que, como todos sabemos, é o que existe em todas as demais cidades. Para evitar que quem trabalhe no núcleo mais citadino seja prejudicado, alargámos a oferta de transporte público urbano e concelhio, com passes a valores muito acessíveis.
“O Campo da Feira é o maior parque de estacionamento gratuito do país e assim vai continuar”
M: Quando se fala em estacionamento em Barcelos, fala-se no Campo da Feira. Será uma das zonas de estacionamento pago?
MCL: O Campo da Feira é o maior parque de estacionamento gratuito do país e assim vai continuar.
M: Já houve projetos polémicos pensados para o Campo da Feira, o executivo tem algum projeto pensado para este local?
MCL: Não existe nenhum projeto para o Campo da Feira. Não existe nem vai existir, porque se trata de um espaço protegido sob proteção do Património Cultural, estando classificado como “Imóvel de Interesse Público”.
Ecovia
M: O primeiro troço da Ecovia do Cávado já está a ser construído em Barcelinhos. Já tem previsão para terminar. Qual será a próxima fase? E quando teremos Barcelos ligado aos concelhos vizinhos por esta ecovia?
MCL: Para a conclusão do Troço Urbano da Ecovia, entre o Souto dos Burros e a Ponte Eiffel (Caminho de Ferro), falta apenas executar cerca de 200 metros, que só não estão prontos porque, infelizmente, este ano tem havido grandes oscilações no leito do rio, o que tem impossibilitado o terminus da obra.
Relativamente ao restante troço, a montante de Barcelos já estão identificados todos os proprietários e está a ser negociada a cedência da passagem com cada um; a jusante está a terminar a identificação dos proprietários e, logo de seguida, avançará também a negociação com cada um. Logo que esse trabalho esteja concluído, ficam reunidas condições para o lançamento do concurso público das empreitadas
“A nossa ideia é no futuro criar um grande Centro de Artes”
M: No mês que agora terminou, para celebrar Abril, o município promoveu um evento, “Que força é essa”, para mostrar a vitalidade da cena musical mais alternativa na cidade. Há muito que os músicos reclamam salas de ensaio ou espaço comunitário onde possam exercer a sua atividade, a exemplo do que acontece, por exemplo, em Braga. O executivo tem algo pensado nesse sentido? Pondera criar salas de ensaios ou outras estruturas que permitam aos músicos criar a sua arte?
MCL: Infelizmente não podemos concretizar todos os projetos de uma só vez. A nossa ideia é no futuro criar um grande Centro de Artes, onde teriam total cabimento as salas de ensaio para as bandas concelhias. Veremos quando tal será possível, mas neste momento não existe ainda nada de concreto relativamente a esse assunto.
“A resposta da Habitação Social” será “criada junto onde já habitam as pessoas que dela precisam”
M: Em relação à habitação, a Câmara prevê investir 14 milhões em 126 habitações, no âmbito do programa 1.º Direito. Quantas casas ou terrenos já foram adquiridos?
MCL: No documento da Estratégia Local de Habitação, estão identificados 368 agregados (cerca de 1500 pessoas) a viver em condições indignas de habitação.
Nesse sentido, já efetuamos candidaturas ao PRR, para 304 habitações, no âmbito do Programa 1.º Direito, estando em elaboração procedimentos para os restantes 64 fogos, de modo a realojar a totalidade dos agregados identificados na Estratégia Local de Habitação.
M: Em Vilar do Monte, a Assembleia de Freguesia rejeitou a venda de terrenos à Câmara para habitação social. Agora, sente que a Câmara vai ter mais dificuldade em adquirir terrenos a juntas, uma vez aberto o precedente?
MCL: Não, com certeza teremos os terrenos e as demais respostas necessárias para efetivar o nosso Plano de Habitação Social.
M: Na situação de Vilar do Monte, a população tinha a crença de que a habitação social seria para a comunidade cigana do Andorinhas, em Arcozelo. A Câmara tem algum plano para realojar aquela comunidade em concreto?
MCL: A Câmara não discrimina e não estigmatiza os seus munícipes por etnia, credo, ideologia ou outras quaisquer diferenças. De resto, tive oportunidade de dizer na sessão solene do 25 de Abril que lamento e repudio que alguns partidos e também movimentos inorgânicos populistas usem o estigma e a segregação social como arma de arremesso de luta política. É lamentável, repito, lamentável, que se utilizem as respostas às fragilidades habitacionais de pessoas carenciadas para fomentar e alimentar posições que colocam em causa os direitos humanos.
Se me permite, gostaria de acrescentar que o desenvolvimento deste programa do 1.º Direito vai ser implementado tendo em consideração dois vetores: primeiro, que a resposta da Habitação Social seja criada junto onde já habitam as pessoas que dela precisam; segundo, que, na medida do possível, esses fogos sejam construídos em terrenos que já pertencem ao Município ou às Juntas de Freguesia.
“O que melhor serviria os interesses do território minhoto seria o avanço para uma Grande Área Metropolitana”
M: Como vê a ação do Quadrilátero Urbano e qual acha que deve ser a sua evolução. Concorda com a criação de um Polígono Urbano que incluísse Viana do Castelo, como defendeu o ex-presidente da Associação Empresarial do Minho, Ricardo Costa? O mesmo responsável também defendeu a junção das comunidades intermunicipais existentes no Minho. Concorda?
MCL: O Quadrilátero Urbano tem tido uma ação, em muitos assuntos decisiva, para a implementação de medidas que correspondam a necessidades de toda a nossa região.
Não tendo as competências legais que levariam a intervenções mais profundas no território, não deixamos, todavia, de potenciar as possibilidades que se nos deparam, nomeadamente no que respeita à mobilidade, à cultura, ao ambiente, etc..
Relativamente à integração de Viana do Castelo na Associação Quadrilátero, entendo que poderia ser uma mais-valia, pois não só permitiria ganhar mais dimensão territorial, como ajudaria a promover políticas e projetos mais abrangentes. Todavia, penso que a solução geo-organizacional mais adequada e a que melhor serviria os interesses do território Minhoto seria o avanço para uma Grande Área Metropolitana, à semelhança do que acontece no Porto e em Lisboa.
País: “As maiorias saídas das eleições devem ter oportunidade de governar e concluir os seus mandatos”
M: Em relação ao novo Governo, acha que tem capacidade para cumprir a legislatura ou a instabilidade política levará a novas eleições antecipadas? Como encara o resultado das últimas legislativas e o facto de o sistema política ter deixado de ser bipartido para passar a ser tripartido? Concorda com as linhas vermelhas de Luís Montenegro ou acha que o PSD deveria fazer acordos ou alianças com o Chega para uma maior estabilidade governativa? A nível autárquico, nomeadamente em Barcelos, acha que é possível ou provável que este partido replique o crescimento que obteve a nível nacional?
MCL: A geometria parlamentar saída das últimas eleições resultou num hemiciclo sem maiorias, mais fragmentado, logo, mais suscetível de criar dificuldades acrescidas de governabilidade. Neste contexto, vai exigir da parte do Governo e do grupo parlamentar que o apoia um grande esforço de negociação e concertação, junto das restantes bancadas parlamentares.
Eu sou de opinião que as maiorias saídas das eleições devem ter oportunidade de governar e concluir os seus mandatos. Mas também estou bem ciente que, muitas vezes, seja por razões ideológicas insanáveis ou por mero taticismo eleitoral, isso não sucede.
Relativamente à relação do Governo com o Chega, Luís Montenegro foi bem claro em campanha eleitoral ao dizer que não faria acordo com o Chega para que este partido integrasse o Governo. Se o prometeu em campanha eleitoral, é natural e saudável que cumpra essa promessa. Situação bem diferente é haver votações parlamentares em que o sentido de voto coincida. Isso sempre aconteceu em relação a todos os partidos e tenho a certeza de que vai acontecer também nesta legislatura.
Quanto às futuras eleições autárquicas, julgo que os atos eleitorais são substancialmente diferentes das eleições nacionais. Os protagonistas são outros, as motivações dos eleitores também são outras, pelo que não quero especular sobre um ato eleitoral do qual ainda nem se sabe quem serão os candidatos.
Em todo o caso, como sempre tenho dito, o povo é soberano e dono das suas decisões, pelo que temos de respeitar, sempre, as opções dos eleitores.