Vila Verde pode estar sentada sobre um dos mais importantes conjuntos megalíticos do Norte de Portugal. As escavações arqueológicas no Monte do Oural, em curso desde junho, estão a revelar monumentos funerários com mais de 6 mil anos, incluindo uma impressionante mamoa e um menir enigmático, indícios claros de uma complexa cultura neolítica que habitou a região.

“Estamos perante um património excecional que pode transformar o Monte do Oural num ponto de referência arqueológica em Portugal”, afirmou Luciano Vilas Boas, arqueólogo responsável pelos trabalhos, realizados no âmbito do projeto “Paisagens Mortuárias durante a Pré-História Recente nas Bacias dos rios Lima e Neiva”, da Universidade do Minho. O projeto está aprovado pela Direção-Geral do Património Cultural e deverá estar concluído em 2025.

Mamoas, menires e arte rupestre
A equipa, composta por investigadores nacionais e internacionais, concentra-se na Mamoa da Cova dos Mourinhos, um monumento funerário coletivo erguido com um monumental investimento por parte das comunidades neolíticas. Apesar de ter sido parcialmente destruído, os trabalhos revelam que a câmara funerária poderia ter cerca de 2 metros de altura e estava virada a nascente, com um corredor cerimonial e um anel lítico que ainda resiste ao tempo.

Foram também identificados vestígios de oferendas funerárias, incluindo objetos de cerâmica e sílex, um material exógeno que prova contactos destas populações com regiões distantes. Em frente à entrada do monumento, ergue-se ainda um pequeno menir, provável demarcador de um espaço cerimonial.

Além disso, estão a ser inventariados outros núcleos de monumentos funerários e dois afloramentos com arte rupestre, que estão a ser documentados através de fotogrametria, com recurso a tecnologia de ponta.
Musealização e turismo arqueológico à vista?
Durante a visita ao local, o vice-presidente da Câmara de Vila Verde, Manuel Lopes, destacou o potencial turístico e científico deste património milenar. “Estamos a estudar formas de musealizar este conjunto megalítico, permitindo que seja não apenas protegido, mas também vivido pela população e pelos visitantes”, afirmou.

Uma equipa global a decifrar o passado
O projeto, coordenado pela professora Ana M.S. Bettencourt, do Departamento de História da Universidade do Minho, envolve estudantes e investigadores de vários países, desde a América Latina à Ásia, além de especialistas espanhóis em fotogrametria. Esta colaboração internacional reforça a importância do Monte do Oural como laboratório vivo de investigação sobre a pré-história europeia.