A ex-vice-presidente da Câmara de Ponte da Barca disse hoje à Lusa ter formalizado o regresso à escola secundária da vila, onde é professora, depois de ter sido informada da retirada dos pelouros que detinha.
Contactada hoje pela agência Lusa, na sequência do comunicado emitido pela concelhia do PS de Ponte da Barca a exigir à maioria social-democrata que lidera a câmara um comportamento de “responsabilidade, estabilidade e verdade” face a “nova reviravolta” na composição do executivo municipal, Maria José Gonçalves confirmou ter formalizado, na segunda-feira, o “retorno” à escola secundária da vila.
“Tive conhecimento ontem (segunda-feira), oficialmente, do despacho da câmara que me retirou as funções de vereadora em regime de tempo inteiro. O presidente da câmara já me tinha comunicado, na semana passada, verbalmente, essa intenção, mas só ontem fui oficialmente informada desse despacho”, explicou a professora história, de 55 anos, que detinha as pastas da Educação, Desporto, Apoio Social, Arquivo Municipal, Toponímia e Transportes.
A agência Lusa tentou, mas não conseguiu ouvir o social-democrata Augusto Marinho.
Em comunicado publicado no sítio do município, na internet, datado de 25 de janeiro, e hoje consultado pela agência Lusa, a autarquia, liderada pelo social-democrata Augusto Marinho, justifica a decisão de cessação das funções de Maria José Gonçalves como vereadora em regime de tempo inteiro com a “pública desarticulação política”.
“Para uma melhor operacionalização do executivo municipal nas várias áreas de governação autárquica, tornando-o simultaneamente mais eficiente do ponto de vista dos recursos financeiros, o presidente da câmara municipal aceitou o pedido abnegado de suspensão do mandato do vereador José António Ribeiro da Costa, pelo período de 180”, lê-se no comunicado.
O documento adianta que face a estas alterações, a “redistribuição de pelouros” será comunicada na próxima reunião camarária, prevista para 07 de fevereiro, pelas 10:00.
Hoje, à Lusa, Maria José Gonçalves explicou que, antes de deixar as instalações camarárias falou com o presidente da câmara, para lhe dizer “olhos nos olhos o chorrilho de coisas que estavam por dizer”.
“Disse-lhe que foi a maior desilusão da minha vida e tenho 55 anos de idade e que Ponte da Barca merece ser ressarcida desta fraude”, apontou, adiantando estar, atualmente, em gozo de férias para “descansar da violência incrível” a que disse ter sido sujeita em cerca de um ano de mandato autárquico.
Questionada se irá agir judicialmente contra o presidente da câmara, a agora vereadora a meio tempo afirmou que irá aconselhar-se “com especialistas”, referindo ter sido vítima de “procedimentos muito graves”.
“Se houver necessidade de agir judicialmente contra o presidente da câmara, agirei. Poderei agir junto junto do Ministério Público (MP) e de outras instâncias assim o farei até porque existiu assédio moral. É factual”, sustentou.
Maria José Gonçalves assinalou que essa decisão será tomada com “serenidade”.
“Fui sensata, mas agora é a minha dignidade e a verdade que está em jogo e, por isso, se estiverem reunidos os pressupostos e com sustentação jurídica, agirei judicialmente sem qualquer problema. E disse isso mesmo ao senhor presidente”, reforçou.
Para a concelhia do PS, o presidente da câmara “deve uma explicação clara e inequívoca aos barquenses sobre o que, efetivamente, se passa com o executivo municipal e sobre as verdadeiras razões das constantes trapalhadas que mancham o bom nome e a dignidade do concelho”.
Na primeira reunião ordinária da Câmara de Ponte da Barca de 2019, realizada a 10 de janeiro, o presidente da Câmara de Ponte da Barca anunciou a nomeação de um dos três eleitos do PS como vereador a meio tempo na maioria PSD e a introdução de rotatividade na vice-presidência, até aí desempenhada por Maria José Gonçalves.
Em outubro, a então vice-presidente da autarquia, de 55 anos absteve-se na votação do orçamento para 2019, alegando “não ter sido envolvida” na sua elaboração decidida “unilateralmente” pelo presidente da autarquia.
Em dezembro, a professora, disse à Lusa estar a ser vítima de ‘bullying’ laboral por parte do presidente Augusto Marinho, depois de se ter abstido na votação do orçamento para 2019.
O orçamento para 2019 da maioria PSD foi viabilizado por um dos três vereadores eleito pelo PS. Por despacho do presidente da câmara, Inocêncio Araújo passou a vereador a meio tempo e, viu ainda aprovada, por maioria, a sua promoção de encarregado operacional a técnico superior da Câmara de Ponte da Barca.
O apoio de Inocêncio Araújo à maioria PSD está na origem do pedido de expulsão do partido que a concelhia local do PS enviou, em dezembro, para o conselho de jurisdição da federação distrital.