Víbora-cornuda fotografada no Gerês

Nuno Vieira, de Famalicão – caminhante e fotógrafo de natureza com provas dadas há vários anos – captou no passado dia 11 de junho o momento em que uma víbora-cornuda (Vipera latastei) se deslocava em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, em local não divulgado para proteção da serpente.

Foto: Nuno Vieira
Foto: Nuno Vieira

Uma das quatro serpentes do país que têm veneno

Trata-se de uma das quatro serpentes no nosso país que têm veneno e uma das duas que apresentam algum perigo em situações muito pontuais, principalmente no caso de morderem crianças, idosos ou adultos não saudáveis.

Quando em aproximação de um humano, à semelhança das outras serpentes, a primeira linha de defesa é a camuflagem, e depois tentam fugir. Apenas inflacionam o corpo ou emitem avisos sonoros quando ficam encurraladas. Podem fazer alguns ataques falsos para atacar o que encaram ser um predador, mas nunca perseguem os humanos.

Víbora cornuda. Foto: Pedro Alves

Vendem-se cerca de 100 cabeças por ano como amuleto

Segundo José C. Brito, no Atlas de Répteis e Anfíbios de Portugal, a perda e a degradação dos seus habitats por ação antropogénica constitui o principal factor de ameaça para as populações desta víbora, contribuindo significativamente para a fragmentação dos seus habitats, e conduzindo ao isolamento das suas populações.

“Diversas características da biologia desta espécie, como a sua frequência reprodutora trienal e baixa mobilidade, reduzem consideravelmente a capacidade de recuperação de populações em zonas perturbadas”, explica o cientista.

É também ameaça, a nível local, “a mortalidade por atropelamento nas estradas e a perseguição direta por aversão”.

A captura de exemplares para comércio ilegal e colecionismo constitui, também, um factor de ameaça.

Segundo os habitantes do Parque Nacional da Peneda-Gerês, citados no Atlas, as cabeças destas víboras são comercializadas sob a forma de amuletos. No século passado vendiam-se, em média, cerca de 500 víboras por ano no Gerês. Em 2007 estimava-se que essa venda caísse para entre 50 a 100 víboras por ano.

Em todo o mundo estão identificadas cerca de 4.000 espécies diferentes de serpentes, marinhas e terrestres. Na Europa existem 45 espécies, sendo a Península Ibérica uma das zonas mais ricas no contexto europeu.

Espécies de serpentes que ocorrem no Gerês

No Parque Nacional da Peneda-Gerês ocorrem 8 espécies de serpentes, das quais 6 são cobras e 2 são víboras: cobra-rateira (Malpolon monspessulanus), cobra-de-escada (Zamenis scalaris), cobra-de-água-viperina (Natrix maura), cobra-de-água-de-colar-mediterrânica (Natrix astreptophora), cobra-lisa-europeia (Coronella austriaca), cobra-lisa-bordalesa (Coronella girondica), víbora-cornuda (Vipera latastei) e víbora-de-Seoane (Vipera seoanei).+

Embora muitos exemplares de COBRA-RATEIRA (M. monspessulanus)  morram atropelados e outros sejam mortos deliberadamente pelo homem, as suas populações podem considerar-se estáveis na maior parte do país

Juan M. Pleguezuelos e José C. Brito in Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal

Uma vez que nas suas deslocações nocturnas a COBRA-DE-ESCADA (Zamenis scalaris) aproveita o calor retido pelo asfalto das estradas, muitos exemplares são vítimas de atropelamento

Juan M. Pleguezuelos e José C. Brito in Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal

Em áreas densamente urbanizadas, a mortalidade provocada por perseguição humana é significativa e frequente. Em algumas zonas húmidas onde as populações de COBRA-DE-ÁGUA-VIPERINA (Natrix Maura) foram, no passado, abundantes verificou-se o seu desaparecimento quase total 

Xavier Santos in Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal

No Norte, a COBRA-DE-ÁGUA-DE-COLAR-MEDITERRÂNICA (Natrix astreptophora)é uma espécie muito ubíqua, sendo frequentemente vítima de atropelamentos e do uso de pesticidas. No Centro e Sul a baixa densidade e o isolamento das populações aumentam a sua vulnerabilidade e comprometem a sua conservação. 

Xavier Santos in Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal

A COBRA-LISA-EUROPEIA (Coronella austríaca) é pouco ameaçada porque os habitats onde ocorre estão localizados, sobretudo, em zonas pouco afectadas pelas medidas de intensificação agrícola e florestal, e têm uma rede viária pouco densa e com tráfego reduzido. No entanto, desco- nhece-se o impacto dos fogos florestais na espécie.

Rudolf Malkmus in Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal

Não estão identificadas ameaças específicas para a COBRA-LISA-MERIDIONAL(Coronella gironda). A conservação das suas populações é seguramente afectada por factores que, de forma geral, actuam sobre outras espécies de serpentes

Armando Teixeira in Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal

A perda e a degradação dos habitats da VÍBORA-CORNUDA (Vipera latastei) por acção antropogénica constitui o principal factor de ameaça para as populações desta víbora, contribuindo significativamente para a fragmentação dos seus habitats, e conduzindo ao isolamento das suas populações

José C. Brito in Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal

As populações da VÍBORA-DE-SEOANE (Vipera seoanei) encontram-se associadas a zonas fragmentadas de habitat favorável, cuja destruição sugere um declínio dos seus efectivos. As principais ameaças são a perda e degradação do habitat devido a fogos, abandono do corte de fenos com gadanha em favor das máquinas industriais, e a implantação de infraestruturas.

José C. Brito in Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal

Além destas, em Portugal, ocorrem mais 2 espécies de cobras: cobra-de-capuz (Macroprotodon brevis) e cobra-de-ferradura (Hemorrhois hippocrepis).

 
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