O município de Valença, que recebeu o último concerto de Gal Costa em Portugal, em julho, manifestou hoje pesar pela morte da cantora, ocorrida na quarta-feira, e recorda a sua última atuação no país, “plena de memórias”.
“Valença vibrou nesse festival, na noite de 17 de julho, com a voz prodigiosa de uma das grandes divas da música brasileira e lusófona”, lê-se na mensagem do município de Valença, publicada nas redes sociais.
Gal Costa, que morreu na quarta-feira, em São Paulo, aos 77 anos, e fechou a sua breve passagem por Portugal em Valença, como cabeça-de-cartaz da primeira edição do Festival Contrasta, que decorreu no verão passado, de 15 a 17 de julho.
No dia anterior, Gal Costa atuara no Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz, com o mesmo programa da digressão “As Várias Pontas de uma Estrela”, dedicada em particular às canções de Milton Nascimento, que acabou de celebrar 80 anos, e à sua relação com a obra da cantora, abrangendo composições de Antonio Carlos Jobim (1927-1994), Caetano Veloso, Chico Buarque e Dorival Caymmi (1914-2008).
Um vídeo da última atuação de Gal Costa em Portugal, que inclui a sua mensagem ao público local e a canção “Um dia de domingo”, está disponível na página da Rádio Vale do Minho.
Foi “um concerto de memórias”, recorda a mensagem do município de Valença, “um concerto emotivo, carregado de lembranças da família de origem portuguesa, que [Gal Costa, neta de um madeirense] reconhecia nos traços dos rostos da plateia”, “[…] tendo comentado várias vezes ‘Valença é linda!’”.
“Até sempre, Gal Costa!”, conclui a mensagem.
A causa da morte de Gal Costa ainda não foi revelada, mas a cantora recuperava de uma intervenção cirúrgica e tinha-se afastado dos palcos, nas últimas semanas, por conselho médico.
Gal Costa era uma das atrações anunciadas para o festival Primavera Sound, em São Paulo, no passado fim de semana, mas cancelou a sua participação, à última hora.
A cantora brasileira também tinha em agenda mais dois concertos em Portugal, inicialmente marcados para novembro, em Lisboa e no Porto, que entretanto tinham sido adiados para o próximo ano.
O derradeiro concerto de Gal Costa aconteceu no dia 17 de setembro, no âmbito do Coala Festival, em São Paulo – um concerto entretanto disponibilizado pelo próprio festival, na plataforma YouTube.
Nascida em 26 de setembro de 1945, na cidade de Salvador, Maria das Graças Penna Burgos destacou-se desde muito jovem pela voz de ‘cristal’, como a crítica a definiu. O compositor João Gilberto (1931-2019) classificou-a como a “maior voz do Brasil”.
Gal Costa foi um dos expoentes do tropicalismo, movimento que sucedeu à Bossa Nova, protagonizado igualmente por vozes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia, com quem formou o grupo Doces Bárbaros e gravou o álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”, também com Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé.
Em 1971, o espetáculo e o disco “Fa-Tal” colocaram-na no centro da Música Popular Brasileira. Dois anos mais tarde, o álbum “Índia” reforçaria a sua posição na música brasileira e a atitude de desafio à severa censura da Ditadura Militar (1964-1985), quebrando tabus.
Neste álbum, um dos primeiros discos da cantora editados em Portugal, Gal Costa gravou “Milho Verde”, com arranjo de Gilberto Gil, uma canção tradicional da Beira Baixa, que na altura ganhara repercussão através de José Afonso e do seu álbum “Cantigas do Maio” (1971).
Com um percurso de 57 anos na música, e mais de 220 discos editados, entre álbuns, ‘singles’, ‘EP’ e DVD/vídeos, Gal Costa recebeu o Grammy Latino de carreira em 2011.