Artigo de Liliana Vaz de Carvalho
O crescente número de animais de companhia, principalmente nos grandes centros, tornou as parasitoses dos animais de companhia um problema com cada vez mais importância, devido ao maior elo de ligação com o ser humano. Assim, há um aumento da exposição humana a agentes de zoonoses. As zoonoses são doenças animais transmissíveis ao ser humano.
A prevalência global do parasitismo em canídeos foi de 15%, num estudo realizado na zona Oeste de Portugal, sendo que os parasitas mais prevalentes foram o Toxocara canis (7%) e Uncinaria stenocephala (7%)…(Melo, 2017). Esta prevalência e resultados são relativamente baixos quando comparados com outras regiões do País:
– Castelo Branco (36.6%);
– Portalegre (33%);
– Guarda (33%) (Félix, 2015).
Enquanto a prevalência global de parasitismo em felídeos foi de 39%…, no mesmo estudo, sendo o Toxocara catis (25,6%) e Ancylostoma tubaeforme (12,8%) os parasitas gastrointestinais mais prevalentes (Melo, 2017). Apesar das prevalências em felídeos, em termos de parasitas, serem muito superiores ao dos canídeos, uma das espécies mais identificadas nos canídeos tem potencial zoonótico, causando alguma preocupação em termos de saúde pública. Isto alerta para a necessidade de medidas profiláticas nos animais de companhia em termos de controlo parasitário.
Uma das espécies parasitárias mais comuns nos canídeos é o Toxocara canis (Melo, 2017). Apesar de se tratar de uma prevalência baixa, é importante relembrar o potencial zoonótico de T. canis, como causa da toxocarose humana. Os ovos persistem no ambiente durante vários anos e surgem como importante fonte de infeção (Villeneuve et al, 2015). Em estudos da prevalência global de parasitismo gastrointestinal em felídeos Braga obteve 62,9% (Duarte et al, 2010). O parasita mais commumente detetado é o Toxocara cati com potencial zoonótico, o que novamente levanta preocupações em termos de saúde pública (Mugnaini et al., 2012; Zajac &Conboy, 2012).
O parasita Trichuris spp. encontra-se no ceco e cólon de cães e outros canídeos silvestres. As fontes de infeção dos animais e seres humanos são o solo e os cursos de água contaminados com ovos de parasitas. As fêmeas fazem uma ovipostura de vários milhares de ovos que são eliminados nas fezes. Um aspeto relevante a ser considerado é a longevidade dos ovos que depois de 3 ou 4 anos no ambiente podem ainda sobreviver e servir de reservatório do parasita. As infeções, em sua maioria, são leves e assintomáticas. Nas infestações com grande número de parasitas pode ocorrer dor e distensão abdominal e também diarreia, que às vezes pode ser sanguinolenta (Longo et al, 2008).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define zoonoses como “Doenças ou infeções naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos” (OMS, 2016).
Inserida no conceito de “Uma Só Saúde”, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a interdependência das saúdes humana, animal e ambiental, a preocupação com as zoonoses é mundial e secular, mas ganhou destaque na comunicação social e população em geral com a pandemia provocada pelo Covid-19.
A estreita interação entre homens e animais, bem como o aumento da atividade comercial e a mobilidade de pessoas num mundo global, animais e seus produtos, levaram a uma maior propagação desses agentes e, apesar dos avanços verificados no seu controlo, sua incidência permanece alta em todos os países.
Ao médico-veterinário compete intervir em todas as fases da cadeia produtiva de alimentos de origem animal, garantindo sua sanidade (livre de agentes patogénicos) e qualidade sanitária (livre de contaminantes) para a sociedade. Na área clínica, atuando no diagnóstico das zoonoses e seu tratamento e prevenção, prevenção de enfermidades com vacinação e orientação para reduzir o abandono e o número de animais de rua, por exemplo, o médico-veterinário promove os benefícios do vínculo humano-animal.
Durante este mês de janeiro celebram-se as iniciativas “Uma Só Saúde”.
Fonte:
Félix, L.I.B. (2015). Parasitoses gastrointestinais e cardiopulmonares em cães. Estudo epidemiológico em canis de Portugal Continental. Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária – Universidade de Lisboa.
Longo, C. E. M., Santos, G. R., Oliveira, J. L. S., Neves, M. F. (2008). Trichuris vulpis. Revista Científica Eletrónica de Medicina Veterinária – ISSN: 1679-7353.
Matos, B.M. (2016). Parasitoses pulmonares e gastrointestinais em felinos domésticos no Minho, Portugal. Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária – Universidade de Lisboa.
Villeneuve, A., Polley, L., Jenkins, E., Schurer, J. , Gilleard, J., Kutz, S., Conboy, G., Benoit, D., Seewald, W., & Gagné, F. (2015). Parasite prevalence in fecal samples from shelter dogs and cats across the Canadian provinces. Parasites & vectors.
Zajac, A. M., & Conboy, G. A. (2012). Veterinary Clinical Parasitology (8 th ed.). Chichester, West Sussex, UK : Willey – Blackwell.