Artigo de Liliana Vaz de Carvalho
Na antiga Suméria, Egipto e Grécia já se aplicavam ações locais de saúde pública, já antes de desenvolvida a teoria do contágio, através da segregação dos doentes dos sadios e o sacrifício dos doentes. A expansão das nações, designada por fase militar na saúde pública, levou ao incremento de esforços no controlo de doenças animais em larga escala. Foram então criadas estruturas organizadas de pessoas dentro dos exércitos para tratar os cavalos, pela importância que estes animais assumiam em termos militares. Da Idade Média ao Renascimento, os avanços no controlo de doenças nos animais limitaram-se a técnicas básicas de diagnóstico clínico com o desenvolvimento de uma certa capacidade para diferenciar sinais clínicos de doenças específicas. Em 1762 começou a terceira fase do desenvolvimento da saúde pública veterinária com o surgimento da primeira Escola de Veterinária. Problemas económicos e doenças que atingiam grande número de animais afetava a Europa. Esta crise foi crucial para o aparecimento da primeira escola de Medicina Veterinária separada da Medicina Humana. Nesta fase da polícia sanitária animal os líderes militares reconheceram o potencial desse estudo e muitos dos estudantes das primeiras escolas eram oficiais militares. Surgem então os primeiros centros organizados de tratamento veterinário, primeiramente como parte das escolas de veterinária e posteriormente separados. Duas novas tácticas são introduzidas na defesa e promoção da saúde pública: a higiene e o controle no abate dos animais. O controlo sanitário incluía os locais de produção de animais e os matadouros. O objetivo era combater as doenças dos animais e também as enfermidades humanas associadas ao consumo de alimentos de origem animal. Estas ações forneceram a base para os primeiros esforços na saúde pública e foi uma oportunidade para o trabalho educacional dos proprietários dos animais. Chegaram na época à conclusão que uma das principais falhas dos programas veterinários para o controlo das doenças não estava nas técnicas de prevenção, mas na deficiente comunicação com o público. Nos anos 80 aparece a fase das campanhas e ações coletivas. Delafond (Diretor da Escola Veterinária de Alfort) faz nos anos 80 observações e experiências sobre o Anthrax, temos igualmente trabalhos conhecidos de Pasteur, Koch e outros. As campanhas em massa e as ações colectivas conduziram à revolução microbiológica, pois a compreensão das formas de contágio permitiu uma nova abordagem para tratamento de doenças e identificação dos agentes etiológicos. Programas de ações governamentais para combater doenças em animais de produção foram iniciados com grande sucesso, dando origem à criação de animais em produção intensa. Muitas das medidas desta fase visualizadas e praticadas pelos veterinários foram extrapoladas e se mostraram bem sucedidas para resolução de problemas similares em saúde pública/saúde humana. Procedimentos novos como quarentena, sacrifício de animais positivos e suspeitos e desinfeção local foram novas ferramentas desenvolvidas para a defesa da saúde pública. A educação em saúde dos proprietários dos animais foi uma tática também usada. Apesar de todas as novas técnicas de saúde pública, das campanhas e outras medidas, houve redução das doenças, sem a sua eliminação. Aparece então a epidemiologia e o diagnóstico epidemiológico passou a constituir uma nova tática para o controlo de enfermidades. A entrada dos profissionais da Medicina Veterinária no serviços médicos preventivos foi possível pelo reconhecimento dos seus conhecimentos e habilidades em medicina de populações, mas também pela importância das zoonoses que constituem 80% das doenças transmitidas ao ser humano.
A saúde pública veterinária é uma área da prática veterinária voltada para as populações. A importância da Medicina Veterinária para a saúde humana coincidiu com o crescente reconhecimento entre os núcleos de estudiosos de médicos e veterinários europeus que desenvolviam pesquisas médicas comparadas. Estas equipas e estes estudos forneceram os princípios para a “revolução microbiológica”. No séc. XIX a forte ligação da Medicina Veterinária e a Medicina Humana gerou escolas de veterinária mais intimamente ligadas aos interesses da medicina humana do que da agricultura.
A OMS definiu a saúde pública veterinária como todos os esforços da comunidade que influenciam e são influenciados pela arte e ciência veterinária, aplicados à prevenção da doença, proteção da vida e promoção do bem-estar e eficiência do ser humano.
A medicina veterinária constitui-se assim como um braço estendido da medicina, que se ocupa da saúde de outras espécies animais que não os seres humanos e a saúde pública das populações humanas.