A empresa vimaranense Têxteis JF Almeida (JFA) e os centros de investigação CeNTI (Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes) e CITEVE (Centro Tecnológico Têxtil e Vestuário) desenvolveram uma nova linha de artigos de banho e cozinha que possuem a capacidade de secar e aquecer. Estes produtos que, há pouco anos pareceriam saídos da ficção científica, chegam ao mercado ainda este ano.
São robes, chinelos, tapetes, toalhas de banho e de mesa que além de dissiparem a humidade, proporcionando uma secagem rápida, aquecem, tornando o seu contacto com o corpo mais agradável.
O protótipo de um roupão programado para aquecer o corpo do utilizador brilhou na Heimtextil, em janeiro de 2020, na altura ainda um pouco distante da produção. Mais recentemente, na primeira semana de fevereiro, os produtos do projeto iHeatex foram apresentados ISPO-Munique (este ano realizada online). “Em ambas as feiras a aceitação do produto foi excelente. Tivemos logo muitos clientes a mostrar interesse, a perguntar preço. Essa é ainda uma limitação destes produtos, uma vez que não temos os preços para dar aos clientes. Só vamos saber do real interesse dos clientes quando, perante o preço, continuar a haver procura”, afirma João Almeida, administrador da JFA.
O projeto iHeatex surgiu da vontade de trazer inovação a um setor em que os artigos são muito tradicionais. “No têxtil já há alguma inovação em produtos para desporto e para a construção, mas os nossos artigos permaneciam muito tradicionais. Queríamos trazer a inovação como uma mais valia para o setor de têxtil lar. Foi assim que, há cerca de três anos e meio, críamos um departamento interno de I&D, com engenheiros que já trabalhavam na empresa”, explica João Almeida a O MINHO.
Deste grupo surgiram várias ideias, nem todas ganharam corpo. “Esta avançou porque achamos que tínhamos mercado”. Quando o projeto começou a ganhar corpo, o departamento de I&D da JFA precisou de se socorrer da ajuda do CITEVE e do CeNTI. O investimento total neste projeto ultrapassou os 680 mil euros, comparticipados, no âmbito do FEDER, em 470 mil euros.
O produto representa uma inovação absoluta relativamente a outras soluções que já existem no mercado, mas que dependem da colagem de bandas. “Neste caso, o felpo foi estruturado de forma a poder encapsular fios condutores”, esclarece João Almeida. Estes fios condutores, integrados durante o processo de tecelagem, são alimentados por baterias de pequenas dimensões que podem durar entre 16 a 24 horas, dependendo das condições. As fibras condutoras não são danificadas pelas lavagens e, ao toque, são completamente impercetíveis.
O robe é a peça que está em fase de desenvolvimento mais adiantado, deve chegar ao mercado em abril. O roupão pode ser regulado para temperaturas com uma amplitude entre os 35 e os 70 graus, não há risco de queimaduras devido à proteção conferida por uma camada interior de tecido. João Almeida afirma que este pode ser um produto para o público em geral, mas, de uma forma realista, reconhece que é no segmento de luxo que estará a grande fatia de mercado para este produto: hotéis, SPA´s, mas também na área da saúde.
O resto da linha iHeatex estará no mercado pouco depois do robe, possivelmente em maio. Entretanto, o departamento de I&D da JF Almeida não descansou à sombra dos louros. Em tempo de pandemia, a empresa concorreu com um projeto ao COMPETE 2020, envolvendo também o CITEVE e a Têxteis Penedo, para o desenvolvimento de têxteis técnicos que poderão vir a ter muita aplicação em hospitais e lares. Este projeto, com um prazo de apenas seis meses, deve apresentar resultados brevemente.
“O mercado pede inovação e é isso que temos que fazer, todos os anos ter novos projetos”, reconhece João Almeida. Para o administrador há três formas de as empresas concorrerem com os asiáticos: o prazo de entrega, a qualidade e a inovação. “Relativamente à qualidade eles podem lá chegar e sempre com melhores preços, porque a mão de obra é mais barata, os custos de energia e os custos ambientais são muito mais baixos, por isso não podemos pararde inovar”.
A JFA é uma empresa vertical, com uma estrutura familiar, emprega 627 pessoas e não despediu ninguém durante a pandemia. Em 2021, já foram contratados mais 30 colaboradores. A empresa faturou, em 2020, 40 milhões de euros, representando uma quebra de 5% face ao ano anterior. Mesmo assim, melhor que a previsão inicial que apontava para uma quebra de 30%.
Segundo João Almeida, foi a comercialização de dois milhões de euros em EPI (equipamentos de proteção individual), nomeadamente máscaras sociais, que contribuiu em grande medida para este resultado. “Além disso, a partir de maio do ano passado, houve um aumento das vendas no setor de têxtil lar, derivado de as pessoas passarem mais tempo em casa e naturalmente procurarem mais conforto. Pode também ter havido alguma deslocação de encomendas da Ásia para a Europa, em função dos prazos de entrega”, analisa.
A empresa exporta quase tudo o que produz de forma direta ou indireta. Na Europa os grandes mercados são França, Espanha e Itália com clientes como o Carrefour, Zara Home, Auchan ou Corte Inglês.
Do outro lado do Atlântico, no continente americano, a JFA está instalada na América do Norte e vira-se agora para o Brasil. A empresa pretende investir numa unidade de produção no Paraguai para a partir daí aceder ao mercado brasileiro sem taxas.