Filipe Magalhães e José Razão já estão em Barcelos. A dupla de Fragoso e Aldreu, que tinha partido no passado domingo para a Moldova, onde pretendia ‘resgatar’ a sogra de Filipe e o seu cão, acabou por trazer mais duas famílias ucranianas no regresso, e chegaram hoje ao final da viagem, mas não da missão – que continuará sem prazo limite, para ajudar na integração das famílias em Portugal.
Falámos com Filipe quando os viajantes se encontravam junto à Capela de São Lourenço, em Vila Chã, Esposende. Porque é que lá foram? Para “falar” um pouco sobre a chegada mas, sobretudo, para fazer uma surpresa às famílias que nunca tinham visto um oceano. “Já tinham visto o Mar Negro, mas mesmo um oceano, foi a primeira vez. Resolvemos, assim, surpreendê-los”, conta Filipe Magalhães, via contacto telefónico.
Recorde-se que a sogra de Filipe vivia em Odessa, na zona Sul da Ucrânia. Depois de falar com o amigo José Razão, resolveram encher uma carrinha (Mercedes Vito) com bens humanitários (medicamentos, comida, artigos de higiene), para a resgatar, bem como ao seu cão, a quem não era permitida a passagem por outros meios por não ter as vacinas de acordo com o regulamento europeu. E, na volta, trouxeram duas famílias.
Em Fragoso, esperam amigos e familiares da abnegada dupla. A sogra de Filipe ficará com a família, enquanto as duas outras famílias ucranianas vão ficar alojadas numa residencial localizada em Fragoso, no concelho de Barcelos, gratuitamente, isto ao longo de vários dias, até que consigam encontrar um local mais fixo.
Como a dupla tinha partido com a missão de resgatar a sogra de Filipe e o seu cão, não ficou preparado com antecedência um local certo para onde as famílias se possam instalar. “Fizemos alguns contactos e vamos tomando decisões conforme as prioridades, por isso a solução foi contactar um amigo que tem uma residencial em Fragoso, e ele vai ajudar gratuitamente durante alguns dias. Temos algumas opções, mas temos de avaliar em termos de empregos e outras opções que eventualmente as famílias queiram tomar”, disse a O MINHO.
Na Moldova, Filipe realçou ter assistido “a vários cenários” preocupantes: crianças acolhidas por ONGs que não estavam acompanhadas pelos pais, pessoas desnorteadas pelo clima de incerteza para onde iam. Já no centro de Chișinău (capital moldava), onde se encontra um pavilhão para descarregar os bens humanitários e outro que serve de acolhimento a refugiados, anunciou que poderia trazer uma família no regresso.
“Como existe a necessidade de deslocar os refugiados para aliviar a cidade, e havia uma família que já tinha colocado a hipótese de vir para Portugal, trouxemos a família – pai, mãe e dois filhos”. Mas não se ficaram por ali.
Filipe conta que foi abordado por uma senhora ucraniana, professora de Inglês, que não tinha dinheiro para conseguir pagar o combustível nem as portagens para sair dali. “Era uma avó, duas filhas e duas netas, que estavam no seu próprio carro”, explica. “Só tinham uns sacos com roupa e estavam realmente numa situação complicada. Dissemos que as ajudávamos, e ela perguntou quanto custava, ao que respondemos: nada. Caíram-lhe logo as lágrimas”, contou.
Chegados agora a Portugal, a missão não termina aqui: “Vamos passo a passo, temos algumas coisas para tratar, a nível de documentação. A nossa missão não acaba aqui. Esta foi a primeira etapa e agora somos um pouco os guardiões deles, porque tomámos esta responsabilidade de os apoiar e monitorar na integração”.
Filipe recorda que estas duas famílias – uma, que viajou na carrinha com Filipe e José, constituída por pai, mãe, filho e filha e outra, que viajou num carro próprio, constituída por avó, duas filhas e duas netas – “não conhecem ninguém, não falam a língua, e têm de começar a conhecer um pouco para poderem fazer mover a sua vida”.
“Vamos tentar apoiar o máximo”, concluiu um dos dois ‘bons samaritanos’.