O Fundo Monetário Internacional (FMI) justificou hoje a revisão em alta do crescimento da economia portuguesa este ano, de 1% para 2,6%, com o desempenho acima do previsto no primeiro trimestre, que terá sido “largamente motivado pelo turismo”.
“Fomos surpreendidos pelo resultado no primeiro trimestre, em que o crescimento [de 2,5% em termos homólogos e 1,6% em cadeia] foi muito mais forte do que tínhamos antecipado”, afirmou a chefe de Missão do FMI para Portugal, Rupa Duttagupta, durante uma conferência de imprensa virtual para declaração final da equipa de Portugal sobre a consulta ao abrigo do Artigo IV.
No passado dia 11 de abril, na atualização das previsões económicas mundiais, o FMI tinha apontado para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) português de 1% este ano, mas, no relatório da missão ao abrigo do Artigo IV, hoje divulgado, reviu em alta este valor para 2,6%, prevendo uma estabilização em torno dos 2% no médio prazo.
Por sua vez, o Governo prevê um crescimento de 1,8% em 2023.
Embora ressalvando que falta ainda conhecer o contributo das várias componentes da procura agregada, a responsável do FMI disse que “a perceção da Missão é que [o desempenho no primeiro trimestre] foi largamente motivado pelo crescimento do turismo, cuja retoma foi, definitivamente, mais forte do que o previsto” pela instituição.
“Neste contexto, mesmo que a economia não crescesse mais no resto do ano, mesmo assim, o crescimento em 2023 seria acima de 2%, só por causa deste aspeto”, salientou.
Rupa Duttagupta reiterou que, de resto, o FMI mantém a previsão anterior de “um abrandamento gradual do crescimento” da economia portuguesa no segundo e terceiro trimestres de 2023, “antes de haver uma nova aceleração, na segunda metade do ano”.
“Esta narrativa não mudou e reflete o impacto da inflação elevada e da subida das taxas de juro na procura interna, mas também a deterioração do ambiente externo, sobretudo do crescimento da zona euro”, disse.
Numa economia “pequena e aberta” como a portuguesa, o FMI destaca ainda a importância de “a quota de crescimento induzido pelo setor privado e pelo investimento privado ser mais forte, para que o crescimento económico a médio prazo seja mais elevado e haja uma convergência para os níveis de rendimento médios da zona euro”.
Relativamente à política orçamental, o FMI reiterou a necessidade de o país prosseguir o caminho da consolidação, defendendo que Portugal aproveite a atual fase de crescimento para aumentar a margem orçamental e ficar mais bem preparado para enfrentar eventuais choques futuros.
Neste contexto, e a par da introdução de melhorias na “eficiência” da despesa, o aumento dos impostos, nomeadamente sobre o património imobiliário, é um dos caminhos apontados.
Conforme explicou Ripa Duttagupta, uma subida dos impostos sobre o património seria útil sobretudo por via do aumento da receita fiscal, mas também pelo alívio que poderia representar face às atuais pressões sobre os preços das casas, já que poderia “reduzir a procura de propriedades, sobretudo em alguns setores”.