Trilhos, miradouros, cascatas e história. Arcos de Valdevez dá a conhecer as terras de Santa Cruz

Nome inspirado num castelo que dominou o vale do Vez
Foto: Rui Dias / O MINHO

São 13 freguesias a oeste do rio Vez que o Município de Arcos de Valdevez quer valorizar para o turismo, aproveitando a natureza e a paisagem, a história e a arqueologia e o simbolismo religioso daquele território

A Câmara tem em marcha um projeto para dinamizar o território que se estende, a partir da vila, para poente, até à extrema do concelho. O nome – Santa Cruz – é inspirado num castelo que dominou o vale do Vez, em períodos anteriores à fundação da nacionalidade. Ao longo deste território, há 17 pontos de interesse, onde se destacam os miradouros com vistas únicas sobre as terras baixas do concelho e para o Gerês, cascatas, viveiros florestais e até uma “floresta encantada”.

Arcos de Valdevez tem conhecido um desenvolvimento extraordinário no setor do turismo. Em grande medida porque é uma das portas de entrada no Parque Nacional da Peneda-Gerês (Porta do Mezio), mas também pela promoção que proporcionou a eleição da aldeia de Sistelo como uma das Sete Maravilhas de Portugal. Nos dois casos, trata-se de territórios que ficam na zona leste do concelho e que têm desviado os olhares da área que se estende para oeste, também ela recheada de pontos de interesse. É este conjunto de 13 freguesias que o Município passa, a partir de agora, a promover com a marca “Territórios de Santa Cruz”.

Foto: Rui Dias / O MINHO

A forma mais direta de entrar neste território, para quem estiver em Arcos de Valdevez, é subir ao santuário de Nossa Senhora do Castelo. Ali, está em construção, já adiantada, a “Porta do Castelo”. Trata-se de uma antiga casa de guarda florestal que vai servir de ponto de acesso, onde será instalado um centro interpretativo e um ponto de informação sobre todas as atrações do território de Santa Cruz para os visitantes. O nome desta zona de entrada deve-se à proximidade do enorme afloramento rochoso, em tempos fortificado – o castelo de Santa Cruz.

Castelo de Santa Cruz. Foto: CM Arcos de Valdevez

O acesso faz-se de carro ou a pé. Quem for de automóvel, deve obrigatoriamente parar ao longo da subida para disfrutar da vista que os miradouros que se encontram na beira da estrada proporcionam. “São varandas sobre o vale do rio Vez e sobre o Gerês”, diz o presidente da Câmara, João Manuel Esteves. Para quem quiser ir a pé, o percurso circular de ida e volta, com cerca de 10 quilómetros, está perfeitamente assinalado.

Foto: Rui Dias / O MINHO

Quem se lançar pelo monte acima a caminhar, vai tomar contacto com o trabalho do designer André Cruz, logo que atravessar a primeira estrada. As passadeiras foram desenhadas de forma a fazerem lembrar os tapetes de flores que a população coloca no chão, por altura da procissão, em maio. O percurso segue, em grande parte, o caminho desta peregrinação.

Um território vasto que precisa de tempo para ser descoberto

A mão do designer está por todo o território de Santa Cruz, na sinalética que se encontra nos pontos de interesse e nas placas rodoviárias que assinalam outros pontos de acesso, além da “Porta do Castelo”. Note-se que se trata de uma área com quase cem quilómetros quadrados, portanto, não é para visitar num só dia. Para conhecer tudo o que há de Jolda Madalena e das cascatas do Rio Cabrão, até aos fortes, na Portela do Extremo, são necessários vários dias seguidos, ou várias idas aos Arcos de Valdevez.

Cascata do rio Cabrão. Foto: CM Arcos de Valdevez

A rede de trilhos é composta por 28 rotas divididas por quatro núcleos: Castelo, quatro trilhos; Miranda e Rio Frio, dez trilhos: Senharei e Sebadim, sete trilhos; Padroso, sete trilhos. Estes caminhos estão marcados e nos pontos de acesso há indicações sobre o nível de dificuldade e espaços para parquear as viaturas. Os técnicos municipais de Desporto pensaram estes trilhos de forma que ligam sempre dois pontos de interesse. Isto quer dizer que os caminheiros mais experientes e corajosos podem passar de uns trilhos aos outros e fazer uma grande rota. Há dez miradouros e a visita a um não dispensa conhecer os outros nove, porque as vistas são únicas.

Sinalética dos trilhos. Foto: Rui Dias / O MINHO

Um espaço para se relacionar com a natureza

O projeto prevê que este seja um espaço de relação com a natureza. É por isso que, na Porta do Castelo, vai nascer um jardim botânico e, no antigo viveiro de Grandachão, está prevista a instalação de um Centro de Interpretação de Flora Autóctone. Este espaço, composto por uma casa de guarda florestal, armazém de alfaias, oficina, tanque de rega e casa do abegão (responsável pelo gado), desempenhou um papel muito importante na florestação desta zona, ao abrigo do Plano de Povoamento Florestal do Estado Novo (aprovado em 1938). Neste espaço, atualmente gerido pelo ICNF, o Município pretende desenvolver atividades como plantação e identificação de árvores, orientadas para os mais jovens e para as famílias.

Floresta Encantada de Miranda. Foto: CM Arcos de Valdevez

Como sinal deste plano de florestação ficou a Floresta Encantada da Miranda. No verão, em dias de muito calor, é agradável percorrer os caminhos desta mancha verde, sempre vários graus abaixo da temperatura fora da floresta. No outono, quando o colorido das folhas varia numa paleta que vai do amarelo, passa pelos castanhos e vai até aos vermelhos, a floresta provoca outro tipo de encantamento. No inverno, despidas de folhas, as árvores são misteriosos gigantes de braços estendidos ao céu, frequentemente envoltas no nevoeiro.

A história e cultura são parte importante dos Territórios de Santa Cruz

No extremo norte do Território de Santa Cruz ficam os fortes de Bragandelo e Pereira. Colocados lado a lado, estas fortificações militares do século XVII, desempenharam um papel fundamental durante a Guerra da Restauração (1640-1668). As vistas são maravilhosas e é uma oportunidade de explicar aos mais novos porque é que no dia 01 de dezembro é feriado. Vão ficar a saber que nesse dia, em Lisboa, se deu o golpe que pôs fim ao domínio da coroa espanhola sobre Portugal, mas também que a guerra se prolongou, até 1668, em lugares de fronteira com ali na Portela do Extremo.

Miguel Rios, David Pereira (tecnicos de deporto), Emília Cerdeira (vereadora), João Manuel Esteves (presidente da Câmara), Victor Correia (responsável pelo estudo), Nuno Soares (chefe da divisão sociocultural). Foto: CM Arcos de Valdevez

O projeto prevê também a dinamização cultural dos Territórios de Santa Cruz com iniciativas como: a Festa do Bibo, uma feira a realizar nas freguesias, com o pretexto de vender animais de capoeira, produtos locais, vinho, artesanato e proporcionar experiências gastronómicas; Música no Monte, em que eventos musicais decorrerão na floresta, em harmonia com a natureza; e a Aldeia da Artes, que pretende povoar o território com manifestações artísticas variadas.

Passadeiras. Foto: Rui Dias / O MINHO

O investimento do Município nos Territórios de Santa Cruz, até ao momento, ronda o meio milhão de euros, sendo o projeto mais avançado a Porta do Castelo que deve abrir brevemente. No total, João Manuel Esteves estima que será necessário um milhão de euros. Ao nível do alojamento, o Município identificou que há bastante oferta, “contudo é preciso elevar a qualidade”, reconhece o presidente da Câmara. “Onde detetámos uma lacuna foi na restauração e a esse nível precisamos de atrair para esta zona o investimento”, apontou José Manuel Esteves. Porém, os visitantes não precisam de esperar, até porque, como diz o presidente da Câmara, “nós não estamos a criar as atrações, elas já lá estão, só estamos a facilitar o acesso”.

 
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