O Tribunal de Braga ouviu, esta quarta-feira, seis testemunhas de acusação no julgamento de uma notária que exerceu funções em Vieira do Minho, Amares e Montalegre, e que está acusada de 34 crimes de peculato, 18 de falsificação de documento agravado e um de furto.
As testemunhas foram interrogadas pela magistrada do Ministério Público, pela defesa e pelos advogados dos lesados sobre o modo como Susana Barbosa de Sousa as terá, alegadamente enganado.
O julgamento, que começou em julho, aproxima-se, assim do seu termo, embora ainda seja preciso ouvir várias das 69 testemunhas.
A acusação diz que a notária se apropriou, ao todo, de 92.475 euros que lhes foram entregues pelos clientes para pagamento ao fisco.
No começo, a notária falou ao coletivo de juízes, dizendo que, “foi por desorganização do cartório e não para defraudar os clientes” que lesou alguns cidadãos, mas não todos os que estão na acusação.
A profissional, que exerceu funções entre 2008 e 2018, terá enganado 52 clientes, sendo que 34 dentre eles pedem 81.733 euros de indemnização.
Excesso de trabalho
Num depoimento que durou duas sessões, – e conforme O MINHO noticiou – a arguida atribuiu a não entrega do dinheiro que os clientes lhe davam para pagar ao fisco, no caso de uma escritura, de uma partilha ou doação de bens, com o excesso de trabalho que a assoberbava, nomeadamente, no verão, onde se faziam mais de dez escrituras por dia.
“Esqueci-me de entregar o dinheiro às Finanças mas não o fiz propositadamente para ficar com ele”, assegurou.
A acusação refere que, nos termos legais, a notária assegurava perante os seus clientes, a possibilidade de entregar os impostos necessários à realização das escrituras à Autoridade Tributária, quando o valor dos mesmos lhe fosse entregue”.
Sucede que – acrescenta – e “aproveitando-se do cargo em que estava investida, a notária, seguramente antes de 2012, formulou o desígnio, de se apropriar, no seu interesse e em seu próprio benefício, de património pertença de vários que se dirigiram aos cartórios notariais onde exercia funções”.
Ficou com dinheiro de impostos
Apropriou-se em particular de “dinheiros que lhe eram entregues para pagamentos dos registos e dos impostos dos atos pedidos pelos clientes, apondo informação falsa nas escrituras que celebrava e forjando faturas, se necessário fosse, para o conseguir”.
O inquérito criminal, que esteve a cargo da PJ de Braga, teve início quando os clientes da notária começaram a receber notificações das Finanças para pagarem os impostos em falta. Houve então como que uma ‘chuva’ de queixas-crime, cerca de cem, a entrar no DIAP de Braga, mas algumas delas caíram, ou porque a notária resolveu o problema ou por falta de provas.
A arguida – salienta o MP – violou, assim, “os deveres de atuar com lealdade e integridade para com os seus clientes. de cumprir as leis e de desempenhar as suas funções na perspetiva de prossecução do interesse público”.
Para além dos crimes de peculato e de falsificação Suzana Barbosa de Sousa terá cometido um de furto, já que, sem autorização da vítima, uma solicitadora de Amares foi ao seu escritório – de que tinha a chave – e retirou três dossiers de processos de clientes, dois deles contendo 550 euros em numerário
20 mil euros na conta pessoal
Em outubro de 2016, um casal de Vieira do Minho foi ao Cartório Notarial local para celebrar escritura de compra de um terreno agrícola em Gondiães, Cabeceiras de Basto.
O negócio não se pôde concretizar naquele dia, mas, mesmo assim, e por confiar na notária, o casal entregou-lhe um cheque de 20 mil euros, como fiel depositária. Sucede que o cheque foi parar à conta bancária da arguida.
Dias depois, o casal mudou de ideias, desistiu da compra e pediu, sem êxito, a devolução do dinheiro. O que só veio a suceder depois de ter conhecimento de que tinham apresentado queixa-crime em Braga.