O Tribunal de Braga não aceitou o pedido da defesa para que o guarda da GNR julgado por ameaças a três magistrados, em Vila Verde, deixasse o regime de prisão domiciliária, com pulseira eletrónica, mas também não aceitou o pedido da juíza queixosa de o colocar novamente em prisão preventiva, como esteve já, na Casa de Reclusão Militar de Tomar.
O guarda Carlos Pereira Lima, de 38 anos, residente em Vila Verde, continuará assim em prisão domiciliária, controlado à distância por uma pulseira eletrónica, conforme decidira já o Tribunal da Relação de Guimarães, quando revogou a sua anterior prisão preventiva.
Entretanto, uma das três vítimas, a juíza Alda Sá Faustino, da Comarca de Vila Verde, que apresentou uma nova queixa criminal. contra o militar da GNR, por factos idênticos, requereu ao Tribunal Coletivo que está a julgar o guarda Carlos Pereira Lima, que voltasse à prisão preventiva na Casa de Reclusão Militar de Tomar, enquanto a defesa, a cargo do advogado Amândio Alves, pugnava pela libertação pura e simples do arguido, alegando, com informações clínicas, que não oferecia perigo para qualquer um dos três magistrados.
No entanto, o Tribunal Coletivo, que em janeiro de 2022 continuará a julgar o militar da GNR, ainda não tem os relatórios da duas perícias, a psiquiátrica e psicológica, realizadas no Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, para aferir da perigosidade ou não do arguido, mas também se é imputável, inimputável ou parcialmente imputável.
Entretanto, o militar da GNR de Vila Verde irá prestar declarações, admitindo-se que seja ouvida a comandante do Destacamento Territorial da GNR de Braga, capitã Maria Luísa Faria Peixoto, uma das oficiais subalternas que então lidou com a situação daquele militar, a par do major Paulo Melo, oficial superior da GNR que já fez declarações no julgamento.
Perseguições a três magistrados
Carlos Pereira Lima, com 38 anos, solteiro, natural e residente em Vila Verde, sempre na sua página pública de facebook, intitulada “Hibrahim Carolus”, foi proferindo ameaças à juíza Alda Sá Faustino e aos dois procuradores, Ana Isabel Peixoto e Nuno Filipe Ferreira, com escritos que levaram os três magistrados a temerem o pior, especialmente depois da psicóloga que o seguia, ter quebrado o sigilo profissional, por levar a sério essas mesmas ameaças, nas redes sociais, mas principalmente devido a dois telefonemas feitos consigo.
Segundo a acusação do Ministério Público, além das ameaças através daquela rede social, o guarda Lima terá perseguido os referidos magistrados, nos percursos entre o parque de estacionamento e o Palácio da Justiça, em Vila Verde, além de os interpelar, durante os almoços, assistindo a muitos julgamentos, em que intervinham a juíza e os procuradores, mesmo nada tendo a ver com as situações que estavam a ser julgadas na sala de audiências e o que causava perturbação aos três magistrados, que participaram o caso à GNR, tendo sido nos últimos dias antes da detenção do guarda, Carlos Lima, alvo de proteção policial da própria GNR, na sequência de vários pedidos pelo Conselho Superior da Magistratura.
Guarda da GNR sente-se injustiçado
Na origem da indignação do guarda Carlos Pereira Lima, suspenso de funções pela GNR, está o facto de já ter sido condenado, com a intervenção dos três referidos magistrados, na Comarca de Vila Verde, na sequência de desacatos com um vizinho, relacionados com a dívida de 100 mil euros, para com o seu pai, nos quais disparou uma pistola, na freguesia de Atiães, em Vila Verde, sem atingir ninguém, momento a partir do qual foi desarmado pela GNR, quando ainda prestava serviço no Posto Territorial da GNR da Vila do Gerês.
Tal como os três magistrados, também foram visados na página de facebook deste guarda da GNR, quatro cabos da GNR de Vila Verde (Gomes, Soares, Fernandes e Martins), um guarda da GNR de Vila Verde, Filipe Ferreira, além de duas advogadas de Vila Verde, Bruna Pereira e Isabel Sousa Martins (que é filha do cabo Martins), o empresário Manuel Pereira, bem como Maria Inês Pereira, que testemunhou ainda durante a última audiência.