Tribunal absolveu clínica de Braga que deixou ucraniana “desdentada e sem dinheiro”

Foto: DR / Arquivo

Uma imigrante ucraniana que ficou sem nenhum dente depois de ter gasto 8.600 euros em várias operações cirúrgicas para que lhe fossem colocados implantes e perdeu uma ação cível no Tribunal de Braga que absolveu a clínica dentária da cidade onde foi tratada. Já recorreu para o Tribunal da Relação de Guimarães.

A juíza titular do processo concluiu que, “possivelmente”, Lesya O., de 69 anos, sofre de bruxismo – o ranger de dentes que ocorre, nomeadamente durante o sono -, o que explicará a queda ou o entortar sistemático dos implantes que lhe eram colocados na boca pelo dentista. Tese alicerçada num parecer de um conjunto de dentistas colegas do demandado.

A sentença diz que não há provas de que terão sido violadas as “regras da arte”, que a paciente foi informada dos riscos e consentiu nas intervenções cirúrgicas.

A imigrante, que reside em Braga há mais de dez anos, garante que nunca teve bruxismo – que, de resto, só foi “descoberto” ao fim de três anos de tratamentos – e que ficou desdentada por culpa do médico, insistindo que lhe seja devolvido o dinheiro e que lhe seja paga uma indemnização, 60 mil euros ao todo, por danos patrimoniais e morais.

O caso começou em 2010. A mulher tinha colocado uma prótese dentária em 2009 na Ucrânia e, já em Portugal, decidiu “meter” dentes novos. Foi à clínica, sita num centro comercial, e o dentista pôs-lhe seis implantes e uma prótese adaptada.

Boca cheia de “pus

Dias depois, a prótese causava-lhe incómodo, doíam-lhe dois implantes e estes estavam infetados, ou seja, diz,  “cheios de pus”. Voltou à clínica e aí começou o que descreve como calvário: a nova prótese provisória continuou a doer-lhe e a “definitiva” que lhe foi posta a seguir não ficou alinhada com os dentes de baixo, descaindo para o lado, além de que estava torta.

Por isso, não conseguia mastigar ou morder. Voltou ao médico que retirou a prótese e a desbastou, colocando-lhe, a seguir, uma outra na gengiva de baixo.

Nessa altura, disse-lhe que, a partir desse momento, iria ficar tudo bem e que só precisaria de lá ir uma vez por ano. Só que o problema persistia e o dentista ia fazendo novas “reparações”. Até que, já em 2012, foi-lhe dito que teria de retirar os dentes todos da boca, para que lhe fossem postos novos implantes e nova prótese. Para o que pagou 2.600 euros, a somar aos seis mil já entregues.

Mas, nada feito. As dores persistiam, a prótese não encaixava, pelo que teve de ser sujeita a nova cirurgia, com colocação de uma outra prótese inferior “definitiva”, que, se partiu tempos depois. Ao fim de três anos, em 2013, o problema manteve-se e a cidadã ficou sem nenhum dente em cima e em baixo: “Quase não consigo comer, e tenho vergonha de falar”, referiu, sublinhando que ficou “desdentada e sem dinheiro”.

 
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