O treinador português Tozé Mendes assumiu em abril o cargo de selecionador sub-19 de Malta, com o desafio de preparar os jogadores para uma inédita participação no Euro2023 de futebol, organizado pelo país.
Em entrevista à Lusa, Tozé Mendes explica que espera uma tarefa com um “nível de dificuldade extremamente elevado”, uma vez que o país não tem um histórico de presenças em fases finais da competição e que o seu foco passa mais pelo “desenvolvimento da equipa e dos jogadores” do que pelos resultados desportivos em si.
“O que me foi pedido pelo coordenador técnico, que também é o selecionador principal [Devis Mangia], não é estar muito preocupado com aquilo que vão ser os resultados, porque vamos ter imensas dificuldades. Vamos defrontar a elite do futebol europeu no escalão sub-19. Será, sim, aquilo que vai ser a qualidade da performance, o desenvolvimento da equipa e a forma como vai reagir a um nível de dificuldade extremamente elevado”, diz.
Segundo o treinador, existe uma expectativa “muito alta” por parte da população do país, que conta com cerca de 500 mil habitantes, em receber a competição e no que pode vir a ser o desempenho da equipa anfitriã.
“A expectativa aqui em Malta vai ser muito alta. O foco de todo o trabalho que está a ser desenvolvido em prol da equipa, todo o projeto para que esteja no patamar mais alto possível em julho de 2023… Temos a noção de que todo o país vai estar de olhos postos nesta seleção”, afirmou.
Quanto à realidade do futebol em Malta, o técnico natural de Guimarães considera que existe um “fosso muito grande” entre a qualidade existente no país e a de outros na Europa, mas vê melhorias desde que chegou ao arquipélago, em janeiro de 2020, para treinar o Valletta FC.
“Quando cheguei, o campeonato era disputado por 16 equipas. Na altura, quando tivemos oportunidade de ter uma reunião com a Federação [de Futebol de Malta] e todos os treinadores, eu tive oportunidade de dizer que era um número extremamente exagerado para a realidade da ilha. Este ano, a liga foi disputada por 12 equipas e o nível das equipas subiu muito, mas ainda existe muito para evoluir. Os clubes malteses são semiprofissionais. Por exemplo, o Valletta é a única equipa em Malta que treina de manhã”, refere o selecionador, que instituiu esse plano de treinos na passagem por aquela formação.
Tozé Mendes, que passou grande parte da sua carreira como treinador no Vitória de Guimarães, não está a fazer planos para lá deste cargo, uma vez que considera a vida de treinador imprevisível e por não esperar voltar a Portugal num futuro próximo, tendo contrato com a seleção maltesa até julho de 2023.
“Quando era mais novo tentava projetar aquilo que seria a minha carreira. Procurava fazer o exercício de projetar onde poderia estar até três anos depois, mas deixei de o fazer a partir do momento em que fui trabalhar para o estrangeiro. Porque tudo acontece de maneira tão rápida que não vale a pena tentar prever. Quando enveredamos por esta profissão, temos de meter na cabeça que somos cidadãos do mundo. Temos de pôr comida na mesa para a nossa família”, comenta.
No período em que esteve ao serviço do Valletta FC, primeiro contacto com o país, o técnico tinha a missão de reestruturar o plantel e “fazer rejuvenescer” a equipa, que contava com muitos jogadores acima dos 30 anos.
Esta época, após um início de campeonato positivo, em que chegou a atingir o segundo lugar, teve uma “fase negativa” de resultados que o levou a sair.
Três meses depois, surgiu o desafio proposto pela Federação de Futebol de Malta e o treinador de 43 anos sentiu-se desejado, constatando que a entidade que regula o futebol maltês faz um “trabalho extraordinário” ao nível organizativo, com um “modelo muito bem vincado”, que lhe dá as condições de trabalho necessárias para que esteja “muito feliz” com o projeto que lidera.
“A nível de expectativas, desejamos sempre trabalhar no nosso país, mas também tenho de ter consciência que estou feliz onde me desejam também. […] Senti que eles quiseram muito que fosse eu a liderar este projeto e eu estou feliz onde me desejam, onde me valorizam, porque muitas vezes nós, treinadores portugueses, somos muito mais valorizados no estrangeiro do que no nosso país”, conclui.