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Trajes e ouro das mordomas de Viana são questão de “amor e orgulho minhoto”

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Viana do Castelo recebe esta manhã de sexta-feira cerca de 400 participantes no desfile da mordomia das festas da Agonia, numa tradição que parece ser cada vez mais uma questão de orgulho para toda a região do Minho.

As vestes tradicionais são tão únicas quanto as famílias que as envergam e são adereçadas e complementadas, ao longo de vidas e gerações, com acessórios de tecido ou de ouro oferecidos em ocasiões especiais, de modo a até contarem a história de quem neles desfila.

Para Liliana Gomes, residente em Vila Praia de Âncora (Caminha), a tradição da mordomia está a transbordar de Viana do Castelo para toda a região envolvente, num hábito que reflete cada vez mais um símbolo do “amor e orgulho minhoto” de que se investe para desfilar de sorriso na cara e mão na anca.

“Sempre que alguém me diz que tem um traje muito antigo eu desconfio, porque não é assim que as coisas funcionam”, disse, aludindo à prática antiga de ser-se enterrado com a indumentária, poupando-se tão-só os acessórios para a seguinte geração.

Para a engenheira, em treino de enfermagem, desfilar é “mesmo uma questão de amor”que iniciou há 17 anos, quando tinha acabado de fazer 21. Mas foi logo aos 18 que começou a preparar a tradição perante a anuência e apoio da madrinha e do pai.

“Comecei a trabalhar com 18 anos em discotecas e quando chegava o fim do verão e recebia o dinheiro ia comprar ouro. Muito devagarinho fui adquirindo o que tenho, não só de ouro, mas a nível de trajes também – agora um lenço, agora uma blusa, uma camisa, portanto muito devagarinho”, revela, exibindo os quase três quilos de ouro da família que normalmente está dividido por várias casas.

As peças – fios de contas, cordões com medalhas, fios com laça, trancelins, brincos e corações – são então codificadas com cores, marcadas no verso, para que a família saiba sempre a quem pertence o quê.

Os trajes de Viana variam entre os de mordoma, de lavradeira, de trabalho, de festa, de casamento, de dó e de morgada, estilos que Liliana Gomes colecionou até chegar aos 12 vestidos, cada vez mais pesados à medida que chegava ouro novo.

Parte da perseverança desta tradição pode ser explicada no rigor e minúcias do código do bem vestir e ourar, algo bem patente nos arranjos que a madrinha de Liliana Gomes lhe vai executando enquanto veste a afilhada.

“Vejo pessoas vestidas de uma maneira que não tem nada a ver com o que era”, diz Conceição Matos, madrinha de Liliana e também natural de Amonde, Viana do Castelo, onde começou a trajar há 60 anos, lamentando a atual “falta de rigor na maneira de pôr o ouro, os lenços e os aventais”.

“É importante, no traje da lavradeira, a saia branca ser bem apertada e o avental não estar a cair. Vejo muitas lavradeiras andam por aí com o avental a cair. Isso não é rigor”, assevera.

Sandra Gonçalves, prima de Liliana e residente em Lisboa, sorri enquanto Conceição lhe arranja o lenço na cabeça, um hábito que a leva a viajar ao norte do país anualmente, porque sente-se “sempre diferente, sempre mais feliz” quando enverga o traje vermelho e o ouro da família.

“Sempre que desfilo elogiam-me sempre o lenço, vêm sempre dizer-me que está muito bem-posto”, disse, orgulhosa, perante o olhar sem espanto de Conceição Matos.

Se se pergunta a Liliana o que sente quando traja, a resposta inclui, repetidas, as palavras orgulho e Minho.

“Nunca ninguém me incutiu isto. Não faço isto porque gosto, faço porque amo. Só se a minha filha gostar disto é que a vou continuar a trajar, porque deve partir do gosto, do orgulho, não por imposição. Porque só se uma pessoa vai satisfeita com aquilo que tem vestido ou leva posto é que transmite naturalmente a beleza do Minho. A beleza da mulher do Minho”, disse, perentória.

Em 2013, estimou-se em cerca de 14 milhões de euros o valor das centenas de quilos de peças de ouro usadas pelas mordomas.

As festas e desfiles da Agonia decorrem entre 20 e 23 de agosto, no centro de Viana do Castelo. A autarquia avançou, entretanto, que a certificação do típico “traje à vianesa”, com origem no século XIX, pode mesmo ser anunciada durante esta que será a comemoração mais dourada do país.

Desfile da MordomiaReunindo sempre mais de 400 mulheres pelas ruas de Viana do Castelo, o Desfile da Mordomia simboliza um “cumprimento” da organização da Romaria d’ Agonia às entidades oficiais e acontece sempre na sexta-feira das festas.As mordomas desfilam pelas principais artérias da cidade, por entre a beleza e o orgulho, enchendo-se da típica “chieira” para mostrarem os mais belos trajes das freguesias de Viana do Castelo, que ganham maior brilho pelo ouro que carregam.É também neste dia que as mordomas envergam diferentes trajes e peças de ouro seculares. Chegam a carregar dezenas de quilos de ouro, reunindo as peças de família e amigos num único peito.Trata-se de uma tradição cada vez mais enraizada entre as mulheres de Viana do Castelo e que junta várias gerações neste quadro único da Romaria d’Agonia.

Posted by Vianafestas – Romaria d’Agonia on Sexta-feira, 20 de Março de 2015

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