Trabalho sobre a revolução levou alunos de Guimarães até onde tudo aconteceu

Para manter viva a memória

Em Lisboa depois de um trabalho sobre o 25 de Abril, alunos do 6.º ano de Guimarães conversaram com um dos capitães e passaram por alguns dos locais onde tudo aconteceu para manter viva a memória da revolução.

Atentos à visita, os alunos começaram o segundo e último dia em Lisboa, na quinta-feira, no Museu da GNR, em pleno Largo do Carmo onde, há 50 anos, Marcello Caetano se rendeu e entregou o poder ao General António de Spínola.

A história militar, contada pelo sargento-chefe Fernando Ruas, começava com a Batalha de Aljubarrota, em 1385, mas o grupo queria, sobretudo, ouvir sobre aquele 25 de abril de 1974, o tema que motivou, aliás, a viagem a Lisboa.

A turma do agrupamento de escolas Francisco de Holanda, Guimarães, foi a vencedora do prémio coletivo do concurso “História Militar e Juventude”, uma iniciativa promovida pela Associação de Professores de História e pela Comissão Portuguesa de História Militar, em parceira com a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril.

Para o trabalho, os alunos do 6.º ano vestiram o papel de entrevistadores e conversaram com familiares, vizinhos e conhecidos sobre o país antes e depois da revolução e, por isso, já sabiam muito sobre aquele período, mas nunca tinham estado em alguns dos locais onde tudo aconteceu.

“Demos isso em História”, contou à Lusa Gonçalo Fernandes, a propósito de muitos dos testemunhos que ele e os colegas ouviram. O aluno de 12 anos já tinha visitado a capital, mas nunca tinha estado no Quartel do Carmo e disse que ali aprendeu ainda mais sobre “como é que o 25 de Abril aconteceu”.

“Na perspetiva dos rapazes, a parte militar é, sem dúvida, aquela que espoleta mais interesse”, relatou a professora de História, Anabela Martins, recordando o entusiasmo com que viram as marcas dos tiros em móveis e livros da antiga biblioteca do Quartel.

Já às raparias, chama-lhes mais a atenção a transformação sociocultural no país e a conquista da liberdade, sobretudo das mulheres.

“E eu fiz esse trabalho prévio, de perceberem como é que seria a sua vida se fossemos mulheres antes do 25 de Abril e, de facto, para nós, mulheres portuguesas, o 25 de Abril foi uma revolução tremenda”, sublinhou a professora.

Quando lhe perguntam se imagina como seria viver antes da revolução, Maria Leonor, com apenas 11 anos, não hesita: “Sei que não ia ter a liberdade de expressão de hoje em dia e não haveria igualdade de género, nada disso”.

Depois da visita ao museu, a manhã terminou com uma conversa com um dos capitães de Abril, Vasco Lourenço, e nem a fome e o cansaço os inibiram de satisfazer a sua curiosidade e fazer algumas perguntas.

“Estava lá quando mataram aquelas quatro pessoas?”, perguntava uma aluna a propósito das únicas vítimas mortais do 25 de Abril. Vasco Lourenço explicou que naquele dia estava nos Açores, em Ponta Delgada, para onde tinha sido transferido no mês anterior.

“E alguma vez esteve preso?”, perguntou outro aluno, a quem o capitão de Abril explicou que sim, mas que o tempo em que esteve preso, depois de ter simulado o seu próprio rapto para tentar escapar à transferência para os Açores, foi muito diferente da experiência dos presos políticos.

No final do encontro, Vasco Lourenço disse à Lusa que a Abril pode não estar tão vivo entre os mais novos, mas sublinhou a importância de iniciativas como o concurso para recuperar a memória.

“Os jovens vivem em liberdade, sentem-na, respiram-na e não a questionam. É fundamental que haja iniciativas como esta para lhes lembrar que nem sempre foi assim e que pode voltar a não ser. Há que ter a coragem para se lutar pela liberdade, para que não se perca”, defendeu.

Maria Inácia Rezola, comissária executiva da Estrutura de Missão para as Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, sublinhou ainda o papel dos professores e, sobre o trabalho daqueles alunos do 6.º ano, destacou a “curiosidade de tentar perceber o que era o Portugal do 24 de abril e o que é que o 25 de abril trouxe”.

Daqui a 50 anos, Gonçalo e Leonor terão 62 e 61 anos, respetivamente. Será o centenário da revolução e ambos acreditam que continuarão a celebrar o 25 de Abril.

 
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