Toda a história de Boris e Keite, o inseparável casal de cães que emocionou a internet

Cão recusou abandonar a companheira morta na A28
Foto: Selva dos Animais Domésticos

A imagem de um cão ao lado da companheira morta, na A28, em Caminha, rapidamente tornou-se viral e emocionou a internet, na terça-feira. Agora, a frio, a voluntária, da associação Selva dos Animais Domésticos, que fez o resgate, contou como tudo aconteceu.

O casal em questão são o Boris e a Keite. Tinham fugido na noite anterior de casa, em Carreço, Viana do Castelo.

Como O MINHO noticiou, a cadela morreu atropelada na A28, sentido, entre a saída de Vila Praia de Âncora e Dem. Mas o companheiro recusou abandoná-la e não deixava ninguém aproximar-se. A GNR teve mesmo que cortar a autoestrada para permitir que a voluntária da associação de proteção dos animais fizesse o resgate.

“Já mais calma de toda a emoção do dia de ontem, vamos falar sobre o caso que comoveu o país. Eram sete e pouco [da manhã] quando a concessionária NorteLitoral nos ligou. A informação que me deram foi que havia dois cães na A28, no km 85, sentido norte-sul. Um dos cães já estava cadáver e o outro, vivo, não saía do lado do corpo do companheiro. Elementos da Concessionária e da Brigada de Trânsito tentaram resgatar o cão, que se mantinha na faixa da esquerda, junto ao separador central da autoestrada”, começa por contar a voluntária numa publicação no Facebook.

“Numa primeira abordagem, o Boris, talvez por ser noite, por estar assustado, por ver ali a sua companheira Keite morta, talvez por uma abordagem menos correta, mostrou-se agressivo e tentou morder um dos Guardas. Foram colocados mecos a sinalizá-los, nos painéis informativos passou o aviso de animal na via. Três carrinhas da concessionária e um carro da Brigada de Trânsito tentavam evitar um final ainda mais trágico”, prossegue.

A voluntária foi “ao abrigo buscar o laço de captura, uma trela, um cobertor e um patê”.

“Ia preparada para o pior! Foi definida a estratégia com a BT e os senhores da concessionária. A BT fechava a autoestrada no sentido em que estávamos, a cerca de 500m do local, dois carros ficavam comigo e outro carro ia para o sentido contrário, não fosse o cão saltar o separador. Estrada livre, foquei-me no único objetivo, resgatar calma mas rapidamente o cão. Tanto que nem filmei, para verem o quão fácil foi e a entreajuda entre as três entidades presentes”, acrescenta.

E continua: “Atirei um primeiro pedaço de patê, comeu, calmamente. Levantou-se, estiquei a mão com outro pedaço que me veio buscar à mão, já com a cauda a abanar!
Recuei, para conseguir perceber a sua linguagem corporal e qual o meu espanto quando ele se aproxima e senta. Apenas tive que lhe meter a trela na coleira que trazia, encaminhar para a carrinha para onde, prontamente, saltou”.

Depois do resgate de Boris, “foi apenas preciso recolher o corpinho da Keite”.

“No local foram verificados os chips, identificados os donos, contactados e vieram buscar os dois”, pode ler-se na publicação.

Boris e Keite tinha fugido na noite anterior, de Carreço. “Como foram ali parar, para mim é uma incógnita, tiveram que atravessar várias freguesias por estradas nacionais. Eram cães super dóceis, davam a mão a qualquer pessoa. Com certeza que passaram por várias pessoas, pessoas essas que poderiam ter feito a diferença se os tivessem apanhado e contactado as autoridades competentes”, lamenta a voluntária.

E conclui: “Moral da história e a lição que devemos tirar com os ditos irracionais: lealdade, algo raro na espécie humana, nos dias que correm. Mesmo estando em perigo, mesmo havendo carros a passar a alta velocidade mesmo ao lado dele, mesmo havendo estranhos que queriam socorrê-lo e à sua amiga, o Boris mostrou-nos, a todos, que defenderia a sua companheira até com a vida, se necessário! Foram milhares as partilhas nas várias redes sociais e nas dezenas de publicações. Por favor, se virem um animal perdido, não lhes virem a cara, ajudem, peçam ajuda, façam a diferença”.

 
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