Painéis de aquecimento e uma bateria. Tudo ligados por cabos. Revestidos com um material ultra moderno e já está. Dobra-se, lava-se e a peça de roupa continua igual. E com um preço aceitável para vestuário de alta qualidade. É finalista dos High Tech Style cujos vencedores devem ser conhecidos em breve.
A marca de roupa chama-se Flex Warm, é inglesa e tem como um dos sócios, um ex-jogador do Tottenham. Está a venda em vários países da Europa e é produzida em Barcelos.
Na sala de exposição da PAFIL Confecções, em Viatodos, há três carrinhos cheios de peças de roupa “inovadoras”. O anfitrião é um dos três irmãos e sócios, João Rui Pereira, que deixa, precisamente para o fim, a peça que abre o portefólio ‘vivo’.
“Através de um agente, a AAC Têxtiles, conhecemos os responsáveis da Flex Warm que nos lançaram o desafio de criar uma peça de vestuário com painéis de aquecimento e uma bateria”.
O trabalho passou para os criativos da PAFIL Confecções que, “a partir do zero”, conseguiram incorporar dois painéis atrás e um à frente e ligá-los por cabo a uma bateria. A patente do sistema de aquecimento é da marca inglesa.
“Depois com uma aplicação de telemóvel, gratuita, pode-se ajustar a temperatura entre os 37º e os 50º. O material é do mais recente que se faz no mercado e permite dobrar a peça ou lavá-la na máquina”. A bateria dá para seis horas e depois pode-se carregar como uma bateria normal.
Há coletes e casacos tanto para homem como para senhora e João Rui Pereira revela que “já foram feitas milhares de peças porque estão a vender muito bem”. O preço anda à volta dos 200 euros, “a peça não tem costuras logo não é abrasiva e os pormenores são colados, o que lhe dá logo um aspeto completamente diferente”.
Peças para todos os gostos
Conforme que se vai percorrendo os carrinhos percebe que há peças para todos os gostos: a “Enobike” ajusta-se ao corpo e para além de ser impermeável pode transformar-se num casaco clássico; há ainda fardas para polícias (encomenda de Espanha), para montanhistas e para bombeiros com resistência ao fogo.
Há vestuário para a neve feito a lazer e colado, peças com três camadas e artigos exclusivos para golfe.
“Uma marca alemã encomendou uma capa de chuva que também foi um bom desafio”, reconhece o cicerone de O MINHO.
Os materiais “são de qualidade. Andamos sempre atrás das novidades do mercado porque queremos inovar e dar um look moderno sempre ao que fazemos”.
BMW
A PAFIL veio parar às bocas do mundo, por causa de um colete térmico desenhado para os motociclistas da BMW. Tem cinco placas de aquecimento, é regulado pelo condutor e alimentado por uma ligação à própria moto.
O Heat Up mais uma vez é fruto de uma parceria com um intermediário. “A DeDePro Textile Solutions LTD foi contactada pela BMW e lançou-nos o desafio”. Testes e mais testes originaram uma peça “bonita, funcional”.
A marca alemã fez um contrato de três anos, renovaram por mais dois e produziram quase 15 mil peças. “As vendas estão a correr bastante bem e prolongamos o contrato mais dois anos para a produção de quatro mil peças”.
“Os nossos clientes querem estar no mercado de forma diferenciada”. Daí que 98% do que produzem seja para exportação: “para Portugal só estamos a fazer casacos de bombeiros para uma marca”.
“Todas estas peças são o resultado de muito trabalho de pesquisa, de experimentar, de ver outras peças, de ir a fornecedores procurar soluções. Uma peça pode demorar meses até ficar pronta”, acrescenta João Rui Pereira garantindo que “a durabilidade é igual ou superior ao que existe no mercado”.
Até porque a empresa fica com uma peça final de teste: “vamos usando a peça e se houver alguma anomalia retiramos imediatamente do mercado. O que nunca aconteceu até agora”.
De Barcelos para Famalicão
Emília Araújo era modista quando decidiu criar uma empresa na garagem de sua casa. O marido Vicente Pereira foi-se juntando e aos poucos a PAFIL Confecções foi crescendo. Os três filhos sempre se emaranharam nas linhas, nos tecidos e nas máquinas e por isso, não se estranha que tenham tomado conta do negócio familiar.
“Estivemos dez anos na confecção tradicional até percebermos que se queríamos estar aqui muito tempo tínhamos que ter coisas que nos distinguissem”, revela João Rui Pereira. Criaram uma equipa nova, investiram em equipamento e apostaram na formação.
Com Carla Pereira, na área técnico comercial, “não há igual” e Bruno Pereira na gestão de problemas, “é do melhor que há”, os três irmãos decidiram construir de raiz uma fábrica nova.
Vídeo: PAFIL (2015)
Fica na freguesia vizinha de Louro, já em Famalicão, e terá o triplo da área atual (4500 m2). O investimento ronda os dois milhões de euros e João Rui espera mudar-se ainda este ano.
“Precisamos de espaço para ter as máquinas todas organizadas para que a produção seja ainda mais eficaz”. No futuro, não está colocado de parte o aumento do número de funcionários, passando dos 70 atuais para os 100. “Há outro passo estratégico que queremos dar mas está no segredo dos Deuses”.
A ultrapassar este ano as três décadas de produção, a Pafil está a preparar a mudança da fábrica-sede de Barcelos para alguns metros ao lado, já em território da vizinha Vila Nova de Famalicão. “Não queríamos ir para longe por causa dos trabalhadores – são quase todos desta
área, e muitos deles estão aqui desde o início”, ressalva Pereira, mas o poder de atração do
concelho mais exportador do Norte tornou-se incontornável.
João Rui Pereira justifica a necessidade de novas instalações industriais com o facto de a empresa “ter tido sempre um crescimento ao contrário”. Como? “Fizemos um investimento
em equipamentos inovadores muito cedo, já temos a tecnologia toda dentro de portas, mas
andamos a mudar as máquinas de piso conforme a produção do momento”, explica.
Com a nova fábrica, que terá o triplo da dimensão da atual e cuja estrutura de ferro já se vê no
horizonte, a começar a funcionar até ao final do ano, a Pafil dará então “um passo muito significativo na organização da empresa” – a deslocalização do seu efetivo para a casa nova da
empresa.
Atualmente com mais de 70 empregados, o crescimento da Pafil Confeções “vai implicar mais
pessoas”, garante João Rui Pereira, que prevê chegar à centena “a curto/médio prazo”, o que não significa contratações até ao final do ano. Primeiro as paredes.