São Victor é a freguesia do concelho de Braga com o maior índice de densidade populacional e uma das mais afetadas pela crise da habitação. É uma freguesia diversa. Dois bairros de habitação social, turismo, imigração, população envelhecida, estudantes de todo o país, 5 Km2, 32.000 habitantes e exemplares únicos do Património Histórico de Braga. Pela terceira vez, Ricardo Silva foi eleito presidente da Junta de Freguesia e conversou com O MINHO, sobre as principais problemáticas da freguesia. “Mais competências, melhor gestão do eixo da mobilidade e da ação social”, são as prioridades definidas pelo eleito para o mandato.
Ricardo Silva dorme no Areal e move-se pelos fregueses ao pedal de uma bicicleta elétrica e de um Citroen pouco moderno. Apoiado por uma candidatura independente venceu as últimas eleições autárquicas depois de romper com a coligação Juntos por Braga, que optou por Firmino Marques, ex-presidente da freguesia e deputado na assembleia da república, para seu candidato.
O autarca afirma que a rotura com a coligação Juntos por Braga (PSD, CDS-PP, PPM e Aliança) baseou-se na falta de comunicação entre instituições. “Os nossos conflitos começaram com a pouca comunicação na obra de requalificação da rua Nova de Santa Cruz, tivemos algumas questões associadas às Sete Fontes e à Fábrica Confiança”, esclarece Ricardo Silva que acrescenta “não faz sentido sabermos de coisas que acontecem na freguesia, através da comunicação social ou da página do município”.
“Não faz sentido o município de Braga estar a requalificar a Avenida Júlio Fragata, sem nós nunca conhecermos o projeto, sem sabermos os timings de obra e para nós, Junta de Freguesia tinha de ser com outros modelos, com redução de velocidades, introdução de modos suaves, como a bicicleta, aumentar os passeios e a fruição para peões”, afirma o vitoriano, licenciado em arqueologia, enquanto identifica outras prioridades para a mobilidade de São Victor: “intervencionar a avenida Antero de Quental, a Rua Luís Soares de Barbosa, todo o enquadramento nas traseiras do Bragaparque”.
Sobre a relação com o município, Ricardo Silva espera que “as pessoas que fazem parte das instituições saibam cumprir o seu papel”, e acrescenta que tem um Presidente de Câmara com quem trabalhar “Ricardo Rio”. “Temos de ter uma relação direta com a Bragahabit, com a AGERE, com a BRAVAL e com a TUB, temos a responsabilidade de desenvolver a qualidade de vida na freguesia São Victor”, comenta a O MINHO relevando as relações com as empresas municipais.
“No nosso ponto de vista as ciclovias têm de ser geradoras de confiança. Hoje de manhã fui para Montariol de bicicleta e há traçados que são tão marcados pela presença do carro, que a bicicleta acaba por ser o elo mais fraco. As ciclovias pop-up não geram confiança”, afirma o autarca a O MINHO. “As vias devem ser segregadas, porque proporcionam mais disponibilidade e segurança”, acrescenta, alertando para a estruturação de percursos: “as ciclovias devem obedecer a uma rede de traçados”.
“Temos o problema do arrendamento entre mãos, principalmente a jovens ou estudantes, a custos controlados. A junta de freguesia subscreve que a cidade de Braga precisa de mais alojamento, se é na Fábrica Confiança ou se é noutro espaço, já tenho algumas reservas”, afirma Ricardo Silva, enquanto adianta a “falta de massa crítica ao definir um programa”, para o edifício classificado, Fábrica Confiança, acusando a Câmara Municipal de não escoltar a população decidindo nos “corredores”.
“A habitação é um tema muito vasto e complexo. É preciso ir diluindo a presença da habitação social, numa matriz consolidada e urbanizada, para não se criarem ghettos”, afirma o autarca de São Victor. “Vemos pessoas em condição absolutamente precária, que pagam arrendamentos na ordem dos 500 ou 600 euros e este problema gerou-se tão rapidamente, que não há uma resposta social”, indaga Ricardo Silva a O MINHO.
“Houve tanta procura de comunidades estrangeira, que os senhorios aumentaram muito os preços”, aponta como radical para a crise da habitação o aumento da procura e critica modelos de reabilitação de edifícios no Centro Histórico “muitas casas que eram unifamiliares, com 2 ou 3 pisos, foram transformadas em dez t0´s, ou t1´s, mas este tipo de habitação não fixa população, e há muita gente a sair da freguesia”
Sobre a criminalidade e a delinquência relatada na freguesia de São Victor a junta programa “nos próximos 4 anos, criar com a Associação Académica e a PSP um corredor seguro entre a Universidade e o bar académico”, conta o presidente.
Quanto ao futuro parque ecomonumental das Sete Fontes afirma que “o projeto deveria ser quase minimalista” e “o grande interesse do parque, além da água, do coberto vegetal e da presença animal, é o monumento”.
“O mais importante é fazer um plano diretor ao monumento, porque é muito diferente passarem 20 pessoas em cima das canalizações, ou 1.5000, o material há de padecer”, comenta enaltecendo que “quanto mais população adotar este espaço verde como de eleição na cidade, o monumento, as galerias, devem estar abertas ao público”. “As Sete Fontes terão o mesmo problema do Picoto ou do parque da Ponte São João, se não houver segurança”, precave Ricardo Silva.
“Estamos a criar o gabinete de apoio ao imigrante, até porque a freguesia de São Victor tem 118 nacionalidades registadas. A comunidade brasileira tem mais à vontade para expor os seus problemas, mas há outras comunidades com maiores dificuldades, e que são mais introvertidas”, finaliza o autarca.