Susana Vilaça, de Braga, está a ter dificuldades em conseguir acesso a um medicamento sob regime especial capaz de lhe prolongar a esperança de vida. Os médicos que a seguem há sete anos afirmam que este é o caminho. Peritos do Infarmed dizem que existem outras terapêuticas e deram ‘nega’ ao pedido de autorização cumprido pelo Hospital de Braga.
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O medicamento está ‘liberado’ nos serviços privados de saúde, mas o orçamento estipulado para cada ciclo mensal desta terapêutica é de 9.092,16 euros. Por isso, e por ainda não existir uma data estipulada para que o medicamento entre no SNS, conforme adiantou o Infarmed ao nosso jornal, Susana pede agora ajuda para conseguir fazer o tratamento no privado.
Numa página criada nas redes sociais, chamada “Pela Vida da Susana – Vamos Ajudar”, pode ler-se que já foram angariados, até ao passado sábado, 5.333,42 euros. Faltam 3.758,74 euros para que Susana possa iniciar este tratamento.
“Da nossa parte deixo-vos uma garantia a nossa luta não vai parar ,pela Susana e por todas as Susanas que tal como ela precisam ou venham a precisar deste medicamento”, lê-se.
Pode ajudar a Susana através do IBAN: PT50 0007 0000 0052 9257 5122 3
Uma doente oncológica de Braga está a ter dificuldades em conseguir acesso a um medicamento sob regime especial capaz de lhe prolongar a esperança de vida. Os médicos que a seguem há sete anos afirmam que este é o caminho. Peritos do Infarmed dizem que existem outras terapêuticas e deram ‘nega’ ao pedido de autorização cumprido pelo Hospital de Braga.
Calvário
O calvário de Susana Vilaça começou pouco antes do Natal de 2013, quando tinha 34 anos. Foi-lhe diagnosticado um cancro com início numa glândula mamária, que conseguiu combater. Em 2018 foi atingida na outra glândula, com duas recidivas em 2019 que a forçaram a várias terapêuticas, incluindo quimioterapia, radioterapia, hormonoterapia e intervenção cirúrgica.
Mas a doença atacou de novo, está ativa a nível peritoneal e parece ser cada vez menos resistente à quimioterapia.
Residente na freguesia de Esporões e mãe de dois filhos, Susana, agora com 42 anos, não desiste, e afirma que o Ministério da Saúde deve pressionar o Infarmed para colocar o medicamento Lynparza no SNS.
Agência Europeia do Medicamento autoriza comercialização
De acordo com um relatório da Agência Europeia do Medicamento consultado por O MINHO, que autoriza a comercialização do Lynparza sob receita médica, este é um medicamento contra o cancro utilizado para tratamento continuado após tratamento inicial de cancros de alto grau.
A substância ativa permite bloquear um tipo de enzimas que ajuda a reparar o ADN das células, incluíndo as cancerosas. Com esse bloqueio, as enzimas que reparam o ADN das células cancerosas deixam de o fazer, reparando com maior intensidade as boas, e as células cancerosas morrem.
A recomendação é que seja tomado de forma continuada, sempre sob supervisão do médico, e desde que demonstre trazer benefícios. O tratamento é interrompido caso o cancro desapareça ou, por outro lado, se estiver a causar demasiados efeitos secundários.
O medicamento, de alto custo, pode ser adquirido no setor privado mas custa mais de uma centena de euros por dia. E o tratamento é de, pelo menos, dois anos.
Quero ver o crescimento dos meus filhos
Rapidamente o acesso ao Lynparza tornou-se para Susana não só um compromisso, mas uma obrigação a conseguir. O medicamento já é aplicado no SNS em alguns tipos de cancro de alto risco, mas não em “doentes multitratadas” (com três linhas de tratamentos prévios), como é o caso de Susana, que passou por quimioterapia, radioterapia e hormonoterapia.
A bracarense diz que o crescimento dos filhos é algo que quer ver, mas para isso precisa que o instituto autorize o tratamento que é o seu “seguro de vida”, como contou a O MINHO.
Depois de, em fevereiro, ter recebido os exames que apontavam a doença como podendo causar lesões no ADN, ou seja, ser genética, foi-lhe dito pelos médicos que a seguem que se poderia submeter ao tratamento com a substância “olaparib”, para melhorar a qualidade e prolongar a vida.
“No hospital [de Braga] disseram-me que este medicamento é o meu seguro de vida e que para administrar seria necessário um pedido de autorização por parte da administração do hospital ao Infarmed”, explica, referindo-se aos pedidos de Autorização de Utilização Excecional para medicamentos que não estão disponíveis de uma forma generalizada no SNS, mas que podem ser requisitados.
A submissão do pedido foi remetido ao Infarmed a 26 de fevereiro e a resposta surgiu no mesmo dia, com parecer negativo.
Administração do hospital chamou Susana para uma reunião
A 11 de março, Susana voltou a contactar um dos médicos do serviço do hospital central, pedindo-lhe para efetuar novo pedido para aceder ao tratamento. A resposta foi que, mais uma vez, não seria possível sem autorização da administração do hospital.
O MINHO questionou a administração do hospital e esta confirmou uma reunião entre Susana e o diretor de serviço de oncologia, indicando que a mesma se tratou apenas para “dar uma palavra e uma explicação à utente de que esta autorização transcende o hospital”.
Já Susana diz que a administração sublinhou que não poderia submeter outro pedido porque o primeiro já tinha sido negado e que a sua autorização transcende aquele hospital.
Infarmed afirma existirem alternativas ao medicamento
Questionado por O MINHO, o Infarmed afirmou este domingo que “no contexto de tratamento com o medicamento Lynparza em doentes multitratadas”, como é o caso de Susana, “foi considerado pelos peritos clínicos das comissões que apoiam o INFARMED, que existem ainda alternativas terapêuticas”.
Sobre o pedido de Autorização de Utilização Excecional do medicamento feito pelo Hospital de Braga, o Infarmed sublinha que todos os pedidos deste medicamento para a situação terapêutica “em apreço”, independentemente do hospital, são “rapidamente respondido(s) de forma a informar o hospital e o médico assistente que devem ser avaliadas outras alternativas para esse doente especifico”.
Revela ainda que o medicamento em questão está em “processo de avaliação para efeitos de financiamento”, e que, “na semana passada”, foi submetido ao Infarmed “o último estudo necessário à conclusão da avaliação técnica por parte dos peritos”.
Principal autoridade nacional em medicamentos e produtos de saúde, o instituto afirma estar “a desenvolver todos os esforços para concluir a avaliação e poder disponibilizar mais esta opção terapêutica nas melhores condições para o SNS e seus utentes”.
Explica ainda que os pedidos de AUE, nos termos da legislação em vigor relativa à proteção de dados, não identificam o doente para o qual o tratamento é solicitado, pelo que não pode esclarecer o caso individual de Susana.
“A vida não deve ter preço, e eu vou lutar pela minha, é o que me resta”
Antes da publicação desta notícia, O MINHO deu a conhecer a Susana a resposta do Infarmed, que a deixou revoltada. Explica que todas as terapêuticas já foram tentadas e que se trata de um problema genético.
No entanto, e depois de aconselhada pela equipa de oncologia do Hospital de Braga, voltou a realizar sessões de quimioterapia, mesmo achando que as mesmas são em vão.
“O cancro consegue recidivar e ficar mais agressivo porque já não é tão afetado pela quimio. Preciso deste medicamento, por isso insisto: Todas as alternativas foram ineficazes e o cancro volta sempre a recidivar, foi sempre assim em sete anos, os médicos que me seguem sabem isso”, vinca.
Desesperada, escreveu ao Presidente da República e à Ministra da Saúde, e obteve resposta de ambos os gabinetes na passada sexta-feira.
Da parte de Marcelo Rebelo de Sousa, foi dito que era um assunto que extravasava as competências da Presidência, e a carta foi reencaminhada para o gabinete do primeiro-ministro António Costa, que ainda não respondeu.
Já da parte do Ministério da Saúde, a resposta foi similar, com a carta a ser reencaminhada para o Infarmed. Que já nos respondeu a confirmar o parecer negativo.
Susana garante que não se irá calar e acha que o medicamento não está a ser disponibilizado no regime excecional por uma questão financeira, “por ser muito caro”.
E nem o facto de o processo de financiamento por parte do Estado estar em vias de conclusão a anima. E relembra: “Cada dia que passa é menos um dia que podia viver”.
“A vida não deve ter preço, e eu vou lutar pela minha, é o que me resta”.
Pode ajudar a Susana através do IBAN: PT50 0007 0000 0052 9257 5122 3