O sonho de jogar badminton e representar Portugal ao mais alto nível é, para grande parte dos melhores praticantes portugueses, só possível conciliando-os com o trabalho, os estudos e até a maternidade.
“Quando descobri que fui mãe, há três anos, disse que antes de desistir tinha de passar pelo processo. Se não fosse essa decisão de: ‘como funciona isto, o que tenho de alterar antes de abdicar?’… Até agora não abdiquei de nada, tenho conseguido conciliar. É difícil? É. Mas quando estamos aqui, até pode jogar a nosso favor, de querer fazer valer a pena. É uma forcinha extra, e tudo se consegue”, resume, à Lusa, Sónia Gonçalves.
A jogadora de Famalicão, campeã nacional de pares com a irmã, Adriana Gonçalves, esteve com um pé dentro dos Jogos Olímpicos Tóquio2020 até que a gravidez, detetada muito tarde, lhe trocou as voltas.
Com o pequeno Duarte a crescer a olhos vistos, já a ‘namoriscar’ a raquete nos treinos da mãe, o que a mantém a competir, a lutar por títulos nacionais e representar Portugal em torneios internacionais “é uma paixão muito grande, uma fome”.
A irmã, Adriana, acabou o curso de enfermagem e trabalha já como enfermeira, mas acompanha esta responsabilidade com serviço num restaurante, além de continuar ao mais alto nível na modalidade e na seleção.
Se para uns o trabalho acompanha a prática desportiva, para outros é o estudo que toma a maior parte do tempo, como é o caso de Mariana Afonso, de 22 anos, que com Mariana Pinto Leite é ‘vice’ em pares.
Com a homónima, querem ser campeãs nacionais e, além dos torneios internacionais, jogam pelo CHE Lagoense em Portugal e no Huelva, na segunda divisão espanhola, dotada de outra ‘rodagem’ competitiva.
Afonso estuda na Nova SBE, em Lisboa, no mestrado em Gestão, entrando no último semestre ainda “meio a descobrir” como conciliar tudo, atirando com “muito sacrifício, organização e vontade”.
“São duas coisas que ansiava e queria há muito tempo. Nunca vou abdicar de jogar a este nível, e enquanto conseguir conciliar, porque sei que vem aí o trabalho… mas é algo que me faz mesmo feliz. Era um sonho de miúda ir para a Nova”, revela.
A “força de vontade” eleva as duas no sonho de lutar pela presença, em pares, num Campeonato da Europa, um esforço monetário e de conciliação, assumindo que são ainda um par recente.
Pinto Leite, por seu lado, reconhece a dificuldade de juntar tanta coisa numa só vida. “Às vezes, gosto mesmo de me torturar…”, brinca.
A estudar medicina, e a fazer horas no centro de saúde de Lagoa, encontrou tempo para estudar coreano e tenta “encontrar buraquinhos para treinar”, até porque, na faculdade, precisava de um estatuto diferente para que a carreira dual lhe facilitasse a vida nos estudos.
O internato “ainda está a anos-luz”, o trabalho ainda mais, mas para já a conciliação faz-se alicerçada na amizade com a parceira e na compreensão mútua.
Caminho diferente tem Diogo Glória, outro estudante de medicina, no terceiro ano, já a fazer horas em hospital mas a manter um ritmo de sete ou oito treinos por semana, conta à Lusa.
O objetivo é manter-se na seleção, diz, mesmo com os dois mundos a exercerem pressão sobre o caminho a trilhar para o futuro.
“Estou a entrar numa fase da minha carreira em que tenho de decidir se quero fazer uma carreira a sério, e pausar os estudos, ou desistir da carreira e focar-me na medicina”, admite.