Um “estudo pioneiro”, no qual participou o investigador da Universidade do Minho (UMinho) Pedro Arezes, aconselha que os ‘softwares’ dos ‘tablets’ sejam desenhados com a “preocupação adicional de minimizar o risco postural e musculoesquelético” do utilizador.
Segundo Pedro Arezes, professor catedrático da Escola de Engenharia da UMinho, aquela otimização pode ser conseguida, por exemplo, “se os respetivos comandos forem desenhados no formato de botão “deslizante” horizontal, com prioridade para a sua utilização pelo polegar e, por isso, serem localizados junto do fundo do ecrã e uma curta distância do limite do mesmo”.
O trabalho recorreu à técnica de análise da atividade elétrica muscular e à análise tridimensional do movimento, partindo da hipótese de que “o uso de comandos através do polegar direito, colocado na parte inferior do ecrã, requer uma menor carga muscular do antebraço, menores níveis de desconforto e um melhor desempenho”.
Pedro Arezes explicou que se concluiu que “a utilização de comandos do tipo botão ‘deslizante’, quer no formato vertical ou horizontal, será mais fácil de usar em determinados locais do ecrã”, sendo que “os resultados permitem também perceber que formatos específicos dos comandos e que localizações e tamanhos serão os melhores para reduzir a carga muscular no antebraço e melhorar o conforto e desempenho dos utilizadores”.
O projeto que esteve na base da publicação daquele estudo, publicado na revista Applied Ergonomics, foi coordenado pela Universidade de Harvard, e resultou numa ligação estratégica entre aquela instituição e a multinacional norte-americana Microsoft.
O objetivo é agora que os resultados obtidos permitam aos fabricantes otimizarem as interfaces usadas nos dispositivos táteis, como ‘tablets’ e ‘smartphones’.
“Em empresas que atuam em mercados exigentes, a otimização de novos produtos não pode ser feita por uma estratégia de tentativa e erro, precisam de suportar as suas ideias e conceitos em dados objetivos que lhes permita que um produto a colocar no mercado esteja já muito próximo daquele que entendem como sendo a situação ótima”, salientou.
Assim, referiu, “é expectável que a Microsoft conceba a próxima geração de sistemas operativos seguindo as nossas recomendações” como, disse, “não colocar os comandos (botões, slides, botões deslizantes) fora do alcance conveniente dos dedos, pois implica maior carga muscular”.
Pedro Arezes explicou ainda que “os ‘softwares’ devem ser desenhados de forma a maximizarem a utilização dos polegares quando o utilizador estiver a usar o dispositivo em formato ‘landscape’ ou o indicador quando estiver em formato ‘vertical'”.
Sobre o efeito do uso de ‘tablets’ e ‘smartphones’ na musculatura e postura, o investigador referiu que o uso daqueles equipamento “por si só não significa obrigatoriamente maior risco postural ou maior carga muscular, tudo irá depender da forma como os dispositivos são usados” e de fatores como “forma, peso, materiais, ‘software’, etc.”.
O investigador exemplificou com situações do dia-a-dia: “Vemos várias situações em que os ‘tablets’ e telemóveis são suportados apenas pelos braços, sem suporte adicional, e com uma constante e acentuada flexão do pescoço e tronco”, apontou.
Para evitar problemas, Pedro Arezes apela à “regra do bom senso”.
“Embora não resulte diretamente do nosso estudo, uma regra de bom senso é que utilizadores evitem manter a mesma postura por muito tempo e que interrompam a utilização sempre que sintam algum desconforto ao nível dos braços, pulsos ou dedos. A perceção de algum desconforto, mesmo que não seja impeditiva da utilização, é um sinal claro que a carga muscular é elevada e que, ao não ser evitada, poderá resultar em efeitos mais críticos e permanentes”, alertou.
O estudo foi desenvolvido na Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, em Boston, onde Pedro Arezes se encontra temporariamente a trabalhar.