O Sindicato dos Jornalistas (SJ) condena as “alegadas pressões políticas” que levaram ao fecho do Jornal de Barcelos, o título mais antigo da cidade, com 72 anos de história, as quais considera serem “inadmissíveis numa sociedade democrática e desejavelmente plural”. “É um desrespeito pela Liberdade de Imprensa e de expressão que merece ser denunciado e investigado”, sublinha o comunicado.
“O SJ exorta os membros da cooperativa proprietária do Jornal de Barcelos (JB) a fazerem um esforço de entendimento e a tudo tentar para manter de pé um projeto que muito contribuiu para a denúncia de ilegalidades e para o apuramento a defesa da verdade e, por consequência, dos cidadãos e da Democracia. Apoiar a continuidade do JB mostra, também, que a Imprensa livre e independente não pode sucumbir a caprichos ou intentonas políticas”, refere.
O SJ recorda que a redação do Jornal de Barcelos demitiu-se em bloco na quinta-feira, depois de na quarta-feira a publicação não ter saído para as bancas. Como O MINHO noticiou, o diretor do semanário, Paulo Vila, acusa o vice-presidente da autarquia, Domingos Pereira, recentemente condenado a perda de mandato por corrupção, de “pressões políticas” que levaram ao fecho do jornal.
“Domingos Pereira não gosta das notícias, dos editoriais e dos textos de opinião que sobre ele aqui se escrevem acerca da condenação por um crime de corrupção passiva. Disso mesmo tinha já dado mostras quando, há um ano, o Ministério Público contra ele deduziu acusação. E ainda que se lhe reconheça sem tibiezas o direito à presunção de inocência até ao trânsito em julgado da sentença, é forçoso dizer-lhe que, nestas circunstâncias e numa perspectiva meramente política, a sua continuidade na Câmara é insustentável, envergonha e condiciona os outros vereadores, diminui o presidente e atira para a lama a imagem do Município. E o mais que se pode dizer, em particular sobre aqueles a quem o vice-presidente da Câmara mentiu clamorosamente sobre as circunstâncias em que recebeu os 10.000 euros que o levaram à barra do tribunal”, pode ler-se num editorial que o diretor publicou na página de Facebook do jornal.
Paulo Vila afirma ainda que “Domingos Pereira deve impor a si próprio o que em tempos exigiu a Miguel Costa Gomes [anterior presidente da Câmara, detido no âmbito da ‘Operação Teia’]”, ou seja que “que renuncie ao mandato ou, no mínimo, que o suspenda por tempo indeterminado”.
Na altura, contactado por O MINHO, Domingos Pereira não quis pronunciar-se.
Em declarações ao jornal Público, o administrador da Cooperativa Barcelense de Cultura, Carlos Pina, nega que a decisão de encerrar o jornal tenha que ver com pressões de Domingos Pereira. Diz que o jornal não conseguiu atingir as metas financeiras definidas em 2011 e que nem sequer tinha “dinheiro para pagar a impressão”.
“Os objectivos eram fundamentalmente que os prejuízos não se estendessem de uma maneira que se tornasse impossível – chamar mais clientes e publicidade. Tudo isso era do conhecimento do diretor do jornal e outros accionistas. Verificaram-se que esses objectivos não tinham sido atingidos”, justifica Carlos Pina.
No comunicado de hoje, o SJ diz que “entende a delicadeza da situação do Jornal de Barcelos, mas não pode deixar de criticar a direção e a cooperativa que o detém”.
“Enquanto órgão de defesa dos jornalistas, o SJ lamenta as dívidas daquela empresa aos trabalhadores, incluindo jornalistas, e insta o diretor do JB a tudo fazer para que seja uma prioridade regularizar os salários de quem trabalha”, sublinha, acrescentando que, “apesar de ter passado por momentos financeiros difíceis, o diretor do JB, Paulo Vila, alega que foram as pressões políticas que levaram ao fecho do jornal”.
“No entanto, as dívidas a credores e a trabalhadores sublinham o problema crescente do subfinanciamento da comunicação social em Portugal, numa fase, que já vai longa, de transição do negócio assente na publicidade em papel para o negócio assente no online”, analisa o SJ, lamentando que “a Comunicação Social tenha sido o único setor de atividade sem qualquer apoio ou ajuda direta do Estado durante a pandemia, uma crise sanitária que agudizou as dificuldades que os media vinham a experienciar, tanto em Portugal como no mundo”.