Sete pessoas morreram em contexto de violência domésticas nos primeiros três meses do ano, revelou hoje a PJ. Uma delas ocorreu em Vila Verde, em fevereiro deste ano, quando um homem terá assassinado a esposa depois de ela anunciar que se queria divorciar.
A PJ avança ainda que, entre 2020 e março de 2025, as mortes neste âmbito representaram praticamente 25% do total de investigações por homicídios.
Os dados foram avançados hoje durante o seminário sobre violência doméstica, que decorreu no edifício da Polícia Judiciária, em Lisboa, pelo coordenador de investigação criminal da PJ, Pedro Maia, que sublinhou que “o valor do contexto da violência doméstica é elevado e expressivo”.
Os dados revelam que, no total, foram registados 588 inquéritos investigados pela Polícia Judiciária e, destes, 145 são inquéritos por homicídio em contexto de violência doméstica, representando 24,65% do total.
Só nos primeiros três meses do ano, os registos da Polícia Judiciária revelam a existência de 41 inquéritos por homicídio, sendo que seis destes inquéritos aconteceram em contexto de violência doméstica.
Nestes seis inquéritos, há a registar sete vítimas, seis do sexo feminino e uma do sexo masculino, sendo que os dados não especificam, no entanto, quantas vítimas são menores de idade.
Olhando para a distribuição geográfica, e também relativamente aos primeiros três meses do ano, dois inquéritos de homicídio em contexto de violência doméstica referem-se a Setúbal, outros dois a Lisboa, um ao Porto e outro a Braga.
Neste tipo de crime, entre 2020 e o primeiro trimestre de 2025, a arma branca foi o tipo de arma mais utilizada, identificada em 51 inquéritos, seguida da arma de fogo, 37 inquéritos, e da força física, habitualmente através da asfixia, em 26 inquéritos.
No mesmo seminário, o procurador-geral da República defendeu que, nos casos de violência doméstica, não deve ser a vítima a abandonar a casa e o ambiente familiar, mas sim o agressor, e apelou para que sejam feitas mudanças neste sentido.
“Pretendo sensibilizar a senhora ministra da Justiça no sentido de que, no meu ponto de vista, o agressor é que deve abandonar a casa e não a vítima. Não faz sentido a situação atual e devemos pensar essa situação”, defendeu Amadeu Guerra.
Isabel Martins foi morta a tiro
Isabel Martins, de 61 anos, anunciou ao marido, de 64, a sua intenção de pedir o divórcio. A revelação gerou uma reação violenta e levou a mulher a apresentar queixa na GNR de Vila Verde.
Em 21 de fevereiro, ao saber que tinha sido denunciado, João Lopes pegou numa arma de fogo e matou Isabel a tiro. De seguida, suicidou-se com a mesma arma dentro da casa onde o casal vivia.
Foi a mãe de Isabel, uma idosa com mais de 80 anos, quem encontrou a filha e o genro mortos no rés do chão da moradia.
João Lopes, taxista na vila de Pico de Regalados, em Vila Verde, era descrito como um homem controlador.
Uma familiar de Isabel, sob anonimato, contou ao Correio da Manhã que o casal enfrentava problemas há muito tempo. Quando Isabel começou a trabalhar num espaço comercial em Braga, o marido fazia questão de a levar e buscar diariamente. “Ele era muito desconfiado. Levava-a ao trabalho e ficava parado a vigiá-la”, relatou.
Nos últimos tempos, Isabel tinha decidido pôr fim à relação, o que intensificou a violência do marido. “Na altura, temi que ele lhe fizesse mal, mas nunca pensei que chegasse ao ponto de a matar”, desabafou a mesma fonte.
O casal tinha dois filhos, ambos emigrados – um em França e outro na Suíça. Foram informados da tragédia logo após os acontecimentos.