Uma guerra civil num país distante. Encurralado em pleno barril de pólvora, entre outros países àrabes, onde fervilha o ódio contra o Ocidente, esse país. Os civis aguentaram enquanto podiam.
Há dois anos, as imagens dos meninos mortos, rígidos e roxos, alinhadamente arrumados, vítimas de armamento químico chocaram o mundo.
Essas pessoas atingiram limiar da resistência.
Sem pão para as famílias, sem meios de subsistência, impossibilitados de trabalhar, ou seja literalmente de mãos atadas viram o êxodo como única saída.
Os sírios gostavam do seu país. O país de que gostavam deixou de existir. Expulsou-os forçadamente.
Não há vida em Marte porque não existem as condições básicas de sobrevivência humana. A Síria mimetiza o solo marciano, hostil à vida de pessoas. A tal vida normal que estes cidadãos ambicionam agora.
Mas a Síria é simultaneamente uma incubadora de radicais islâmicos. Pois é. E por isso, muitos deles aproveitaram a fuga em massa para a Europa para virem também.
E esse é um dos principais problemas, aumentados exponencialmente com a lupa da extrema direita xenófoba e estimulados pela imprensa sensacionalista, ávida pela venda de pasquins ( o único nome possível para esse tipo de jornais).
Entre o trigo sempre existiu joio. Entre as ovelhas brancas, as negras (sem conotação racista; as negras podem ser as boas da fita).
A existência de jihadistas entre os refugiados deve implicar uma vigilância cautelosa por parte das Nações que os acolhem.
Mas colocar os refugiados (pessoas protegidas por um estatuto, e não pobres que resolveram pedir esmola noutro país) no mesmo saco que os terroristas é um completo absurdo.
Para que as mentes se esclareçam, necessitam informação isenta.
Notícias nos meios de comunicação social, partilha de vídeos – muitos de origem dúbia, ou publicação de posts com comentários recheados de agressividade gratuita, não contribui em nada para reduzir a ignorância reinante sobre o assunto. E a ignorância é a nascente do pânico.
A divulgação de imagens de alegados refugiados a pisar crianças tem como resposta a jornalista húngara que pontapeou uma adolescente; apenas para exemplo isolado em milhares que nem são conhecidos… Refugiados a recusar àgua dos voluntários da Cruz Vermelha? E os que se degladiam na Hungria pela ajuda humanitária aérea?
Alguém se colocou por instantes na pele de um pai ou de uma mãe, que não sabem o que fazer aos seus filhos desolhados e famintos, desgastados por anos de guerra à porta de casa, petrificados de medo, em estado de choque crónico? Quem é capaz de julgar seres humanos que até podem ter atitudes irrefletidas e agressivas por se encontrarem no limiar da resiliência?
É fácil atirar pedras confortavelmente acomodados no sofá. É fácil determinar, do sofá, que os que merecem mais auxílio são os nossos pobres.
Na verdade já me aconteceu ter partilhado o meu lanche com um mendigo, e passadas horas passar no mesmo local e ver a tangerina na soleira da porta e o pão a ser comido por pombos satisfeitos…Mas não deixo de ajudar quando posso.
Fui adicionada pelo João J. Vila-Chã ao grupo Religion Against Violence.
Nele são partilhados conteúdos de valor sobre este assunto.
De interesse ecuménico. Com o objetivo de fomentar o diálogo e a opinião baseada em factos concretos e verdadeiros.
De evitar a violência já entrincheirada em muitas mentes lusitanas (sei do que falo), contra o desconhecido, os refugiados, estrangeiros de culturas diferentes, que podem representar ameaças perante os nossos filhos.
Ameaças há muitas. Algumas bem mais concretas. Ainda ontem um cão rasgou as costas de um menino de dois anos com os dentes, na rua ao lado da sua mãe.
Antes de agir para defender “os nossos”, há que ler e refletir.
Ser fundamentalista contra os que aí vêm é ser tão radical como os próprios terroristas (salvaguardando as exceções dos ataques suicidas, embora já tenha ouvido portugueses a pensar organizar milícias).
Não digo, que não tenhamos que proteger o que é nosso.
Mas apenas se se justificar.
Medo pelo medo já tivemos as experiências recentes dos felizmente bluffs epidémicos da gripe A e do Ébola…
Relativamente a este assunto, a situação é muitíssimo mais complexa.
Se foram os Estados unidos e a Inglaterra que ao apoiar uma das fações sírias rebeldes na guerra civil incubaram de certa forma as sementes do ISIS na Síria, ( e não sou obviamente eu a autora da teoria, com alicerces seguros em documentos da CIA), então porque temem pela vaga de terroristas? Afinal os inimigos estão entre nós há muito. São “dos nossos” até.
E é do conhecimento de todos que após o treimo intensivo nos campos em vários países àrabes, os terroristas conseguem sempre infiltrar-se na Europa. São os vizinhos do lado em vários países europeus, respeitados, simpáticos e de comportamento exemplar. E ainda se dedicam a recrutar jovens amigos para a causa da Guerra Santa.
Há anos que isso acontece.
Evidentemente que os líderes das Nações têm que redobrar a vigilância, agora que estaremos mais provavelmente à mercê do terrorismo.
Mas não desculpabilizem o Ocidente.
O Frankenstein, em parte, tem berço ocidental…
Está na altura, isso sim, de mais bomsenso jornalístico. Mesmo nas redes sociais impera a injeção cega da lei do medo. O tempo das Cruzadas já passou.
As ações de âmbito defensivo,se necessárias deverão ser justificadas. Estar alerta sim, jogar ao ataque neste caso é um rastilho de pólvora de consequências incontroláveis.
O sensacionalismo deveria estar agora reservado exlusivamente ao setor cor-de-rosa, famosos e pseudo VIPS como alvo.