A Universidade do Minho tenciona lançar o seu satélite PROMETHEUS-1 em janeiro de 2025, a partir do porto espacial Vanderberg, na Califórnia, Estados Unidos da América, à boleia de um foguetão Falcon 9 da Space X.
Em comunicado, a academia minhota explica que o objeto espacial vai ficar a cerca de 500 quilómetros de altitude e coletar dados úteis para a comunidade académica e científica.
Este projeto ocorre aquando dos 50 anos da UMinho e contribui para afirmar a ciência e a indústria portuguesa no espaço. Trata-se da terceira licença espacial da ANACOM, após os recentes satélites MH-1 (Aeros) e ISTSat-1.
O PROMETHEUS-1 foi pensado há três anos, quando a UMinho arrancava com os programas de ensino em Engenharia Aeroespacial.
O objetivo era usar o satélite em diferentes disciplinas como “caso de estudo” com os estudantes, desde a validação da plataforma ao licenciamento e à futura recolha de dados.
O satélite é como um cubo de Rubik, tendo cinco centímetros de lado e 250 gramas. Contém sistemas de gestão de bateria e orientação, microcontroladores e câmara similar à de um telemóvel para captar imagens. Desde a Terra deverão avaliar-se vários itens, como o posicionamento e eventuais erros do software. O PROMETHEUS-1 insere-se numa estratégia de investigação e ensino em Engenharia Aeroespacial e áreas afins que a Escola de Engenharia da UMinho pretende estabelecer.
O satélite resulta do projeto científico “PROMETHEUS – PocketQube Framework Designed for Research and Educational Access to Space”, financiado pela Fundação Portuguesa para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do Programa de Parceria Internacional CMU Portugal.
O consórcio foi liderado por Alexandre Ferreira da Silva, do Departamento de Eletrónica Industrial da Escola de Engenharia da UMinho, em cooperação com as equipas de Zachary Manchester, da Universidade de Carnegie Mellon (EUA), que idealizou a plataforma inicial, e de Rodrigo Ventura e Rui Rocha, do Instituto Superior Técnico, que contribuíram com o segmento terrestre e partilharam a experiência do ISTsat-1, lançado em julho. As empresas Alba Orbital e Fossa Systems também colaboraram na integração do pequeno satélite.
“Tem sido uma viagem incrível”
“Os lançamentos dos satélites MH1, ISTsat-1 e agora do PROMETHEUS-1 são relevantes para consolidar uma base de conhecimento e de experiência nas universidades e nas unidades de investigação, que é fundamental para alavancar Portugal no setor espacial”, diz Alexandre Ferreira da Silva, citado no comunicado.
“Esta nossa primeira missão permitirá levar o espaço à sala de aula, seja para os estudantes de Engenharia Aeroespacial ou de Engenharia Eletrónica, por exemplo, ao colocarem pela primeira vez as mãos neste tipo de objetos”, explica. “Tem sido uma viagem incrível e será ainda mais a partir daqui”, sorri o também investigador do Centro de Sistemas Microelectromecânicos (CMEMS) da UMinho.
O PROMETHEUS-1 deve o nome ao titã que roubou o fogo (conhecimento) aos deuses. A atribuição da licença para lançamento, comando e controlo deste satélite envolveu a colaboração entre a ANACOM e a UMinho desde junho.
“É um marco nesta nova fase do desenvolvimento do ecossistema espacial nacional, na qual voltam a ser lançados para a órbita terrestre satélites inteiramente desenvolvidos e construídos em Portugal”, referiu a ANACOM. A licença deu-se ao abrigo do seu novo quadro jurídico, que está “entre as melhores práticas”, ao permitir agilidade, flexibilidade, rapidez e não implicar taxas.
A licença acautela ainda responsabilidades internacionais do Estado português e os interesses estratégicos nacionais, além de impor um conjunto de deveres em matéria de sustentabilidade e segurança espaciais.
Percurso consolidado
“O novo satélite reforça o percurso da UMinho nesta área”, salienta a UMinho, acrescentando que o seu curso de Engenharia Aeroespacial teve a segunda nota mais alta de entrada do país (e a primeira em 2023).
Os centros científicos e interfaces desta academia também já criaram projetos como a conceção de uma cápsula espacial, o desenho de um fato de astronauta para Marte, a exploração de novos materiais artificiais ou a produção de eletricidade a partir de urina e bio-hidrogénio.
Também a sua spin-off Stratosphere tem clientes como a Agência Espacial Europeia, a Boeing ou a Airbus. A UMinho é ainda sede do Programa MIT-Portugal, com vários projetos sobre o espaço, e colabora nestas matérias com o CEiiA, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (Brasil) ou as universidades de Massachusetts Lowell (EUA) e Vigo (Espanha), entre outros.