O foguetão Falcon 9 da companhia norte-americana SpaceX, do empresário Elon Musk, envia hoje para o espaço dois pequenos satélites portugueses, um dos quais da Universidade do Minho (UMinho) com fins pedagógicos.
O lançamento será feito às 18:48 (hora de Lisboa) da base espacial de Vandenberg, na Califórnia, nos Estados Unidos.
O Prometheus-1, da Universidade do Minho, e o PoSAT-2, da LusoSpace, são o quarto e o quinto satélites portugueses a serem enviados para o espaço, depois dos nanossatélites ISTSat-1 e Aeros MH-1, em 2024, e do microssatélite PoSAT-1, em 1993.
O Prometheus-1, o segundo nanossatélite a ser construído por uma instituição universitária portuguesa, depois do ISTSat-1, pelo Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, foi concebido como uma “ferramenta de ensino” para alunos de engenharia aeroespacial, eletrotécnica ou de telecomunicações, que poderão “fazer atividades de comando e controlo” ou “trabalhar com réplicas”.
O minúsculo satélite, que se assemelha no tamanho a um cubo mágico, vai ficar posicionado a cerca de 500 quilómetros de altitude da Terra e teve a parceria científica da Universidade de Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, e do IST.
O lançamento será acompanhado numa cerimónia especial, a partir das 18:00, no hall do edifício 1 do campus de Azurém, em Guimarães, podendo também ser seguido online (aqui).
As boas-vindas da sessão contarão com o reitor da UMinho, Rui Vieira de Castro, e o presidente da Escola de Engenharia (EEUM), Pedro Arezes.
Seguir-se-á a apresentação do PROMETHEUS-1, pelo professor Alexandre Ferreira da Silva, do Departamento de Eletrónica Industrial da EEUM.
Levar o espaço à sala de aula
O satélite resulta de um projeto científico homónimo que foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do Programa CMU Portugal, e que teve a parceria da Universidade de Carnegie Mellon (EUA) e do Instituto Superior Técnico.
O PROMETHEUS-1 deve o nome ao titã grego que roubou o fogo (conhecimento) aos deuses. É como um cubo de Rubik, tendo 5 centímetros de lado e 250 gramas. Possui sistemas de gestão de bateria e orientação, microcontroladores e câmara similar à de um telemóvel para captar imagens. Desde a Terra deverão avaliar-se vários itens, como o posicionamento e eventuais erros do software.
Este projeto ocorre aquando dos 50 anos da UMinho e contribui para afirmar a ciência e a indústria portuguesa no espaço. Foi pensado há três anos, quando a UMinho abriu a licenciatura e o mestrado em Engenharia Aeroespacial.
O objetivo era usar o satélite em diferentes disciplinas como caso de estudo com os estudantes, desde a validação da plataforma ao licenciamento e à futura recolha de dados.
“Levar o espaço à sala de aula permite a alunos de várias áreas da Engenharia colocarem pela primeira vez as mãos neste tipo de objetos e alargarem horizontes. O projeto insere-se igualmente na estratégia de investigação e ensino neste âmbito em curso na UMinho”, refere o comunicado.
O curso de Engenharia Aeroespacial da UMinho teve a segunda nota mais alta de entrada do país (e a primeira em 2023).
Os centros científicos e interfaces desta academia também já criaram projetos como a conceção de uma cápsula espacial, o desenho de um fato de astronauta para Marte, a exploração de novos materiais artificiais ou a produção de eletricidade a partir de urina e bio-hidrogénio.
Também a sua ‘spin-off’ Stratosphere tem clientes como a Agência Espacial Europeia, a Boeing ou a Airbus.
A UMinho é ainda sede do Programa MIT-Portugal, com vários projetos sobre o espaço, e colabora nestas matérias com o CEiiA, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica do Brasil e as universidades de Massachusetts Lowell (EUA) e Vigo (Espanha), entre outros.
PoSAT-2, o ‘outro’ satélite a ser lançado
O PoSAT-2, o primeiro de uma constelação de 12 microssatélites para monitorização do tráfego marítimo, foi totalmente construído nas instalações da LusoSpace, em Lisboa.
O lançamento do engenho esteve para ser em outubro, mas, segundo explicou o diretor-executivo da LusoSpace, Ivo Yves Vieira, “houve um dos lançadores da SpaceX que sofreu um problema no ano passado e as autoridades americanas exigiram uma investigação”.
“E isso acabou por atrasar todos os outros lançamentos”, justificou hoje à Lusa.
O PoSAT-2, que custou cerca de um milhão de euros, vai permitir receber dados sobre a localização de navios e ter um novo sistema de comunicação que possibilitará que, no meio do oceano, as embarcações possam, nomeadamente, receber alertas de mau tempo ou de possíveis ameaças de piratas e enviar mensagens de socorro.
O satélite ficará posicionado a pouco mais de 500 quilómetros de altitude da Terra, acima da Estação Espacial Internacional, a “casa” e laboratório dos astronautas.
Os primeiros contactos do satélite com a Terra são esperados em abril.
Os restantes 11 microssatélites da constelação serão construídos em 2025, mas nem todos serão lançados este ano, conforme o previsto.
“Alguns serão lançados no final do ano e outros no início de 2026. O calendário ainda não é preciso”, reconheceu Ivo Yves Vieira.
A LusoSpace quis com a escolha da designação PoSAT-2 prestar “um tributo” ao PoSAT-1, o primeiro satélite português enviado para o espaço, em 1993, e “às pessoas que o levaram para a frente”, na palavras do diretor-executivo da empresa de engenharia aeroespacial.
“Eu próprio participei no PoSAT-1. Foi graças ao PoSAT-1 que entrei na área do espaço. Foi graças a esse satélite que aprendi muita coisa sobre o espaço. O PoSAT-2 não tem nada de similar ao PoSAT-1, mas é o primeiro satélite que a LusoSpace, da qual sou fundador, produziu e vai lançar. A LusoSpace não existiria se não tivesse havido o PoSAT-1”, disse Ivo Yves Vieira anteriormente à Lusa.
A constelação de microssatélites da LusoSpace, que envolve o contributo de outras empresas do setor, tem um custo total de 15 milhões de euros, comparticipado em 10 milhões pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) no quadro da “Agenda New Space Portugal”.
Esta agenda “visa transformar o perfil de especialização do setor espacial português com novos produtos e serviços inovadores, exportáveis e de maior complexidade tecnológica”.
De acordo com Ivo Yves Vieira, pequenos satélites como estes vão ser úteis no futuro para a navegação marítima autónoma.