Tudo começou no dia 03 de abril. Uma colaboradora e um utente do Lar Pereira de Sousa, a cargo da Santa Casa da Misericórdia de Melgaço, acusaram positivo para a nova infeção de covid-19. Seria o início de um inferno do qual a instituição ainda não se livrou, e parece longe de o conseguir fazer.
Jorge Ribeiro, provedor, decidiu marcar 104 testes para todos os colaboradores e utentes, não só do lar afetado mas também do lar Cantinho dos Avós, também administrado pela instituição. No dia 07, mais dois utentes resultaram positivo nos testes.
Os resultados foram saindo e, em poucas semanas, apontavam 35 utentes e 15 colaboradores confirmados com o novo coronavírus. A partir daí, a instituição começou uma verdadeira roda viva para isolar infetados, separar quem tinha sintomas e conseguir contratar mais pessoal médico para auxiliar o lar onde a infeção já reinava.
No dia 12 de abril, foram divulgados os primeiros quatro óbitos na instituição. Jorge Ribeiro acusava o Serviço Nacional de Saúde de “lavar as mãos” em relação a Melgaço e à SCMM.
“Nós [lares de idosos] não somos unidades de saúde. Os doentes têm que ser tratados por unidades de saúde. As normas deixam bem claro que são as unidades de saúde, quer ao nível dos cuidados primários, quer ao nível dos cuidados hospitalares, que têm que acompanhar os doentes covid”, disse o provedor.
Nesse dia [12 de abril], o lar registava quatro doentes covid hospitalizados em Viana e os restantes ainda na instituição. Um dia depois, foram confirmados mais 11 infetados, chegando ao total de 35.
Num vídeo publicado esta sexta-feira, dia 24, nas redes sociais, o provedor destaca que esta é “a maior crise” dos últimos 100 anos, depois da Pneumónica, chamada Gripe Espanhola.
Jorge Ribeiro assegura que, na segunda-feira seguinte à deteção dos primeiros casos, que ocorreram a uma sexta-feira, a SCMM decidiu isolar o Cantinho dos Avós, onde não se registava (nem regista) qualquer resultado positivo.
Parou imediatamente a “circulação de colaboradores”, no sentido de “criar o máximo de isolamento possível”. “O único colaborador que ia aos dois locais era o nosso médico. Contactamos e dissemos-lhe que ficaria apenas a tratar do Cantinho dos Avós e que encontraríamos outro profissional para o Lar Pereira de Sousa. Ele acatou, mas de seguida ligou a dizer que não ia aceitar e apresentou a demissão”, revela o provedor.
A partir desse instante, iniciou-se um novo problema na instituição. A mesa administrativa reuniu no mesmo dia e foi encontrado outro profissional que iniciou a ajuda, mas continuavam a ser necessários dois para que não houvesse extrapolação do vírus entre lares.
Começaram então a reunir, provedor, presidente da Câmara e delegado de saúde, de forma a perceber a melhor forma de ultrapassar esta crise.
Melgaço, um dos concelhos do Alto Minho mais afetados pela pandemia, regista hoje, dia 24, o número de 72 infetados. 39 estão no lar Pereira de Sousa, sendo que outros 9 utentes já morreram.
Jorge Ribeiro diz que há quem tente denegrir a imagem da SCMM, apontando um maior número de infetados do que os casos anunciados, algo que não se confirmou.
No meio das dificuldades, e ainda em relação ao vídeo divulgado hoje, o provedor não esconde algum artrito para com a autarquia, por esta ter lançado um concurso para contratar uma equipa médica para colaborar com o lar afetado sem, alegadamente, ter contactado a instituição.
No dia de hoje, no entanto, a SCMM continua com dificuldades em encontrar colaboradores de saúde, fazendo desse um mote para poder ultrapassar esta que é a “maior crise” dos últimos 100 anos na instituição.